Cotidiano

Bailique: parlamentares verificam situação causada pelo fenômeno "terras caídas"





 

As vilas Progresso, Macedônia e Itamatatuba foram as mais atingidas com o fenômeno. Além disso, obras inacabadas foram constatadas no local.

 

Casas e escolas destruídas, passarelas, pontes e postes de energia elétrica desapareceram por conta da erosão provocada pela força da água, chamada "terras caídas". Esse é o saldo constatado pelos parlamentares Raimunda Beirão (PMB) - presidente da Comissão de Relações Exteriores; Edna Auzier (PSD) - vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos; e Paulo Lemos (Psol) - integrante da Comissão de Educação, após o levantamento feito no fim de semana na costa do arquipélago do Bailique, distante 180 quilômetros de Macapá. De acordo com o grupo, Vila Progresso, Macedônia e Itamatatuba são as comunidades mais afetadas pelo fenômeno.

Além das destruições por conta da forte erosão nas regiões ribeirinhas, a comitiva constatou ainda outro grave problema: obras inacabadas. A primeira delas na comunidade de Filadélfia, onde a escola está em construção há quatro anos. Em relato, o diretor da instituição, Elvis Mendonça, informou que a obra está paralisada. O material usado pela empresa responsável pela construção é de péssima qualidade.

O deputado Paulo Lemos - integrante da Comissão de Educação - irá sugerir ao Governo do Estado para rescindir o contrato com a atual empresa e possa fazer uma nova contratação para a conclusão da escola. "Vamos levar essa proposta ao Estado, do jeito que está não pode ficar. Os alunos precisam estudar e, para isso, necessitam de boas condições para um ótimo aprendizado", sustentou.

Na comunidade do Livramento, o problema para o bom funcionamento da Escola Estadual Professora Nair Cordeiro Marques é a falta de energia. "É um modelo de escola, mas, infelizmente, enfrenta o problema da falta de energia, o que compromete a qualidade do ensino; o que nos deixa de certa forma felizes por encontrar uma instituição com professores, merenda e uma boa rede física", descreveu Paulo Lemos.

Na vila da Ponta da Esperança, parte da estrutura da Escola Julia Bruno desabou. Apenas as pilastras ficaram e mostram o rastro da destruição provocada pela força da água. Outro risco é a passarela. Improvisada, as pessoas precisam ter muito equilíbrio para não cair. Segundo o diretor da instituição, Osvaldo Pereira Alves, o Estado construiu duas salas aulas. O que ficou foi readaptado para atender as necessidades dos alunos. "Só ficaram os pilares, foi tudo muito rápido e salvamos o que foi possível, o que não deu foi levado por conta da força da água", lembrou.

Na comunidade de Frango Grande, a situação também chamou a atenção dos parlamentares. O prédio onde deveria funcionar a escola está com as obras paralisadas. Segundo informações de moradores, o dono da empresa responsável faleceu e, por conta disso, nada mais foi feito. Cimento, portas, sofá, carteiras, luminárias, fogão industrial e forro em PVC estão abandonados. Enquanto isso, os alunos continuam a frequentar as aulas na estrutura antiga, em condições precárias. Com apenas uma sala, o quadro está bastante danificado por conta do tempo de uso. No assoalho, tábuas quebradas, banheiro mal conservado e apenas um corredor estreito onde é servida a merenda para os estudantes.

Na Vila Macedônia, a escola também está ameaçada pelo fenômeno. Segundo a direção da escola, a outra estrutura usada já foi consumida pela erosão. Por conta disso, foram obrigados a ocuparem o prédio que ainda está em construção e, mesmo assim, em razão do ritmo acelerado em que a erosão consome às margens do rio, a nova estrutura já corre o risco de desaparecer. Para a deputada, por conta dessa aproximação, o correto seria construir o prédio pelo menos a 300 metros da margem.

Na Escola Bosque a maior delas - e localizada na Vila Progresso, o alerta é maior. Conforme o levantamento, o bloco administrativo e quatro salas de aula já foram destruídos pelo fenômeno das terras caídas. A instituição que chegou atender mais de 1,5 mil estudantes - hoje, está com apenas 600 alunos do ensino fundamental e médio.

Para a deputada Raimunda Beirão, com o passar dos dias a tendência é piorar a situação. Segundo ela, a força da água acelera o processo da erosão que destrói as áreas ribeirinhas. "Além de destruir casas, escolas, passarelas, pontes e postes de energia elétrica, há estudos que comprovam que o avanço da maré representa a diminuição das regiões apropriadas para moradia", alerta Beirão.

Terras caídas

Desde 2015, o distrito de Bailique vem sofrendo com o fenômeno, em que a força do rio provoca a erosão de áreas ribeirinhas. Em março deste ano, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) fez um levantamento sobre a situação no arquipélago onde constatou que quatro escolas, um posto de saúde, um posto da Companhia de Água e Esgoto do Amapá (Caesa), 84 postes de energia, 1,5 mil metros de passarelas e 85 metros de pontes foram atingidos, com destruição total ou parcial. Os números continuam crescendo.

O estudo certifica ainda que 168 edificações, entre familiares, instituições públicas e privadas foram afetadas pelas erosões registradas desde 2015.

Redação