Saúde

Após seis anos de queda, casos de malária cresceram 50% no Brasil





 

Fragilidade no combate pode ser um dos principais motivos para que a doença tenha crescido no país, aponta especialistas. Apenas 25 municípios na Amazônia concentram 9 de cada 10 casos da doença registrados em 2017.

 

Uma doença considerada por muitos anos erradicada no Brasil voltou com altos índices de registros. A malária, que durante seis anos apresentou uma enorme queda de casos, cresceu mais de 50% no país em 2017. A maioria dos casos se concentram em municípios da região amazônica.

Com o objetivo de reduzir o alto índice de casos da doença, o Ministério da Saúde lançou, recentemente, uma campanha de combate à Malária. Na ação, agentes de saúde percorrem cidades em busca de alertar e imunizar as pessoas contra a doença. A cidade Bagre, localizada no Pará, foi a que mais apresentou crescimento dos casos em 2017. De um ano para o outro, o número de registros subiu de 129 para 6.789 casos, representando 5.160% do aumento.

Segundo o Ministério da Saúde, em 2017 o número de casos de malária subiu 50% no país, chegando a 194 mil ocorrências. O crescimento ocorreu depois de seis anos de queda. No entanto, o cenário mudou e a malária voltou a crescer, somente em fevereiro deste ano, o aumento era de 48% em comparação com o mesmo período de 2017.

Os maiores aumentos ocorreram no Pará (153%), Amazonas (65%) e Roraima (56%). Embora grande parte do território desses Estados apresente casos de malária, a situação é grave mesmo em um número muito pequeno de cidades. Apenas 25 municípios concentram 9 de cada 10 casos extras da doença registrados no ano passado. Bagre está no topo da lista, com 6,6 mil casos a mais.

O médico infectologista da Fundação de Medicina Tropical, Marcus Lacerda, ressalta que é difícil definir o que ocasionou um surto alto de malária no país. Segundo especialistas entrevistados pela BBC Brasil, uma das principais causas que resultaram no aumento de casos da doença é a fragilidade no programa de combate à malária.

Os especialistas analisam que, devido a doença registrar uma constante queda de casos nos últimos anos, parecendo estar sob controle, o programa de combate foi perdendo forças, principalmente por outras doenças infecciosas típicos de zona urbana terem surgido no período, como dengue, zika e chikungunya.

"A perda de prioridade política da malária gera perda de recursos humanos e materiais, e diminuiu a capacidade de controle da doença. Mas, no caso da malária, não basta diminuir a incidência. Se afrouxar as medidas de controle antes de eliminar a doença, a malária volta", continua Tauil.

 

"A gente acredita que o aumento esteja relacionado à fragilidade de medidas de controle", opina Tânia Chaves, do Instituto Evandro Chagas, do Pará. Reis Alves concorda que a malária pode ter aumentado porque o controle diminuiu e avalia que isso ocorreu porque "muitas das ações que vinham sendo feitas de forma coordenada acabaram sendo desmontadas".

O que é a malária

A malária é uma doença febril, transmitida pela picada de um mosquito infectado pelo Plasmodium, um parasita. No Brasil, a principal forma da doença é a vivax, mais branda, que oferece pouco risco de morte, ao contrário da forma mais comum nos países africanos. No Brasil, 99% dos casos são registrados na Amazônia.

Depois que o mosquito infectado pica uma pessoa, os parasitas vão primeiramente para o fígado. Nessa fase da doença, o doente pode sentir cansaço, fadiga e náusea. Depois, os parasitas caem na corrente sanguínea e vão parasitar as hemácias - células do sangue também conhecidas por glóbulos vermelhos.

Quando as hemácias estão extremamente parasitadas, se rompem. É quando aparecem os principais sintomas da malária - febre alta, calafrios, tremores, suores excessivos e dor de cabeça. No começo, os sintomas podem ser diários. Depois, podem aparecer de forma cíclica, a cada dois ou três dias, por exemplo.

 Redação