Cotidiano

"Acúmulo excessivo de mercúrio pode trazer graves consequências aos humanos", diz pesquisadora do Iepa





 

Um estudo identificou uma grande contaminação de mercúrio em peixes nos rios do Amapá. O elemento é despejado pela atividade garimpeira no estado.

 

Um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa), mostrou que o nível de mercúrio (Hg) nos rios Cassiporé, Amapá Grande, Lago, Uaçá, Oiapoque, Falsino, Tajauí, Mururé e Mutum e Araguari, todos do estado, está muito acima do normal, afetando os peixes e se tornando prejudicial para os humanos. As principais causas desse desequilíbrio, seriam as atividades garimpeiras existentes no estado.  

De acordo com a Dra. Cecile de Souza, Pesquisadora do Iepa – Núcleo de Biodiversidade, “o mercúrio em pequena quantidade não traz riscos à saúde.  Porém, o acúmulo excessivo pode trazer graves consequências aos humanos, pois o mercúrio penetra no organismo humano e se deposita nos tecidos, causando lesões graves, principalmente nos rins, fígado, aparelho digestivo e sistema nervoso central. A exposição aguda por inalação de vapores de mercúrio, pode acarretar em fraqueza, anorexia, fadiga, perda de peso e perturbações gastrointestinais”.

A ingestão contínua de peixes contaminados aumenta as chances de acúmulo de mercúrio no organismo, e apesar de não existir uma doença específica causada pelo Hg, pode acontecer o chamado mal de Minamata, que consiste em más formações de feto em casos de mulheres grávidas que ingeriram grandes quantidades de mercúrio. A exposição excessiva ao elemento dá origem a reações psicóticas como, alucinações, delírio e tendência suicida.

A Dra. Cecile aponta que a atividade garimpeira é a responsável pelo excesso de mercúrio encontrado nos peixes. “Os altos níveis de contaminação encontrados nos peixes, são oriundos da atividade garimpeira que utiliza o mercúrio para extração de ouro e despeja os resíduos nos corpos d’agua. Esse mercúrio entra na cadeia trófica dos peixes, onde fica acumulado”, apontou.

A pesquisa, iniciada em 2015, está sendo feita em duas etapas. “A primeira etapa, já concluída, analisou peixes das principais bacias hidrográficas do Amapá, como os rios Jari, Amapari, Araguari e Oiapoque. As amostragens aconteceram em unidades de conservação, em áreas próximas a atividade garimpeira ou com histórico de garimpo. A segunda etapa está acontecendo também nessas áreas próximas a garimpos, mas próximas de ocupação humana como ribeirinhos e indígenas”, explicou Cecile.

A Dra. pondera também que ainda não se sabe como a contaminação interfere na fisiologia dos peixes, mas que o ambiente todo fica contaminado e isso pode perdurar por décadas; sobre o estudo acerca dos efeitos na vida aquática, a Dra. Disse que ele foi iniciado pela Universidade Federal do Amapá (Unifap), porém, não teve continuidade, e ela não soube dizer o motivo.

A pesquisadora ainda ressaltou que na segunda fase, o estudo foi ampliado. “Nessa segunda fase estamos analisando todos os peixes coletados por nós e não somente os carnívoros como na primeira etapa. Estamos também fazendo análises nos sedimentos das localidades amostradas para sabermos quais as condições de contaminação ambiental”, concluiu.

 Luciana Cordeiro