Política

Fala de Bolsonaro sobre Lava Jato faz parte de operação para 'apagar' Moro para 2022





Presidente afirmou ontem que 'acabou' com a operação Lava Jato porque 'não tem mais corrupção no governo'.

Fala de Bolsonaro sobre Lava Jato faz parte de operação para 'apagar' Moro para 2022 

Parlamentares de diferentes partidos ouvidos pelo blog enxergam a fala do presidente Jair Bolsonaro sobre a Lava Jato como uma operação para, entre outros objetivos, “apagar” a imagem do ex-ministro Sergio Moro para a eleição de 2022. Durante pronunciamento no Palácio do Planalto, nesta quarta-feira (7) o presidente afirmou que "acabou" com a Lava Jato porque, no governo atual, não há corrupção a ser investigada

Moro, ainda dentro do governo, virou alvo do presidente e de seus filhos, uma vez que a família Bolsonaro acreditava que o ex-ministro da Justiça estava de olho na eleição presidencial. 

Começou ali, então, um processo de fritura do então ministro — que repetia não ter pretensões eleitorais. Fora do cargo, Moro não convenceu o governo de que está fora da sucessão presidencial. Por isso, o ex-juiz e seu legado continuam na mira do Planalto. 

Senadores e deputados ouvidos pelo blog acreditam que parte da estratégia do governo em “minar” a Lava Jato tenha como pano de fundo uma operação para esvaziar a candidatura de Moro. Nas palavras de um cacique do Congresso, o imaginário popular a respeito do ex-juiz tem relação com a “força da caneta” que ele tinha na Lava Jato: “Se Bolsonaro bate na tecla de que acabou a operação, tenta apagar o seu maior símbolo, trabalha para reforçar isso na cabeça da população”. 

O sonho do Planalto é a reprodução de uma polarização entre PT e Bolsonaro — e Moro, se candidato, atrapalha os planos, pois racha a base bolsonarista.

Essa é apenas uma das avaliações feitas sobre a frase de Bolsonaro ontem. Apesar da estratégia de Bolsonaro, analistas acreditam que a fala do presidente pode ter efeito colateral reverso. Ao invés de “apagar” o ex-juiz, acabe oferecendo uma bandeira para Moro.

Como caciques do Centrão gostam de repetir, Bolsonaro pode deixar como legado o “desmonte de operações” que prejudicam políticos, uma vez que investigadores cometeriam “excessos”. Até ministros da ala militar do governo, sempre defensores da Lava Jato, agora já passaram a dizer que reconhecem o legado da operação — mas que houve, sim, excessos. 

Ou seja: o governo que fez campanha com um candidato que tentou se identificar com o combate à corrupção e com a defesa total da Lava Jato, adota, agora, um discurso de questionamentos a respeito de seus métodos — na mesma linha do que fizeram a oposição e políticos tradicionais quando Lula passou a ser alvo da operação. 

Para investigadores ouvidos pelo blog, há uma tentativa de nomear e indicar aliados e personagens alinhados ao governo Bolsonaro para postos-chave com o objetivo de controlar apurações que possam prejudicar familiares e amigos do presidente — na linha do que Bolsonaro, segundo acusou Moro, reclamou na reunião ministerial do dia 22 de abril. 

Nas palavras de um ex-investigador da Lava Jato ouvido pelo blog, está em curso uma nova bandeira de expoentes da classe política nos bastidores: “Sem investigação, não há corrupção”. 

A mudança no comportamento do presidente no discurso de apoio à Lava Jato e na aproximação com o Centrão — que desagrada à sua base ideológica — coincide com o avanço de investigações no STF que podem atingir familiares do presidente. Ou seja: foi um movimento de busca de apoio em troca de sobrevivência política. 

Um líder do MDB, que acompanha e participa da cena política há décadas, explica por que, para ele, Bolsonaro recorreu à velha política no auge da crise do governo: “Nós, do Centrão, podemos até estar no Titanic que vai afundar. Mas a gente sabe nadar”.

Fonte: G1