O santo Cura d’Ars recebera de um colega uma carta que começava assim: “Sr. Vigário, quando se sabe tão pouco a teologia, como é o seu caso, nunca se deve entrar no confessionário”. O Santo, que nunca achava tempo bastante para responder às inúmeras cartas que recebia, a esta respondeu imediatamente: “Quanta razão tenho de amar-vos, meu caríssimo e reverendíssimo colega! Vós sois o único que me conhece.
Já que sois tão bom e caridoso, interessando-vos pela minha pobre alma, ajudai-me a obter a graça, que peço sempre, de ser substituído no cargo, de que sou indigno pela minha ignorância, a fim de retirar-me a um canto e chorar a minha pobre vida…”. Confundido com tamanha humildade, o autor da insolente carta correu a pedir desculpas ao Santo.
No início do mês de novembro, lembramos com saudade os nossos irmãos e irmãs falecidos e celebramos a solenidade de Todos os Santos. Na visita aos cemitérios, refletimos sobre o tempo que passa e a necessidade de dar um sentido menos superficial, talvez, à nossa vida. Repensamos os nossos relacionamentos, o valor que damos a Deus, as pessoas e os bens materiais. No domingo da festa de Todos os Santos, a Igreja nos aponta aqueles cristãos e cristãs que encontraram a verdadeira felicidade, porque tomaram a sério o evangelho das Bem-Aventuranças.
Eles e elas, de tantas formas e por tantos caminhos, colaboraram com a construção do Reino de Deus e, acreditamos, merecem participar da glória do céu. Por ter ouvido tantas histórias de santos e santas famosos, pensamos que a santidade seja algo absolutamente heroico e, por isso, somente para poucos. No entanto, todos nós cristãos, somos chamados a buscar e praticar, conforme as nossas possibilidades, a santidade. As palavras com as quais a Liturgia apresenta os santos e as santas podem nos ajudar a entender. Na segunda Oração Eucarística rezamos: ”Lembrai-vos ó Pai…e dai-nos participar da vida eterna com a Virgem Maria, São José…os apóstolos e todos os santos que viveram na vossa amizade”.
Aprendemos assim que os santos e as santas foram, são e serão os “amigos” de Deus e, por consequência, amigos também dos homens porque, como ensina João em sua Primeira Carta “Se alguém disser: ‘Amo a Deus’ mas odeia o seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama a seu irmão que vê, não poderá amar a Deus que não vê (4,20).
Apesar das nossas dificuldades, todos desejamos ter amigos, ou seja, pessoas nas quais podemos confiar e que possam nos socorrer na hora da necessidade. Por isso, talvez, escolhamos a dedo as nossas amizades por interesse ou para ter alguma vantagem. A questão, porém, não é “ter” amigos, mas “ser” amigos, sermos, nós mesmos, pessoas com as quais os outros possam contar e sempre prontas para ajudar. Quando Jesus quis falar de um amor “muito grande” disse que “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).
Por isso, podemos dizer, sem medo, que ele, Jesus, se oferece para ser o nosso “maior” amigo, ao menos se acreditarmos que ele gastou realmente toda a sua existência terrena fazendo o bem, acolhendo, consolando e curando aqueles que sofriam de tantas formas de pobreza e enfermidade. Ele nada pedia em troca pelas curas e a quem perdoava os pecados simplesmente exortava a não pecar mais. Com isso, ensina-nos que a doença mais perigosa, que acaba com nossas vidas, acontece quando nos afastamos de Deus e dos irmãos, quando nos fechamos em nós mesmos e, afinal, não amamos ninguém.
Quantos homens e mulheres foram e, ainda hoje, são verdadeiros santos e santas, também se nunca ficaram conhecidos. De fato, os santos e as santas “famosos” nunca buscaram a santidade para serem honrados neste mundo, se fosse assim já teriam recebido a sua recompensa (Mt 6,2).
Simplesmente, amaram, praticaram o bem, doaram as suas vidas para outros serem felizes ou sofrerem menos e, sobretudo, não sozinhos e abandonados. Afinal, somos todos “colegas” de caminhada, por que não nos ajudamos mais para sermos todos santos e santas? Com humildade, sem inveja, sem disputas. O mundo precisa de uma grande corrente de alegre santidade. Hoje é a nossa vez.
Fonte: Diocese de Macapá