Política

Lula participa da reunião dos Brics por videoconferência nesta quarta-feira





Presidente brasileiro cancelou viagem à Rússia após sofrer acidente doméstico no Palácio da Alvorada, em Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participa, na manhã desta quarta-feira (23), da reunião ampliada da 16ª Cúpula dos Brics. Lula está no Palácio da Alvorada, em Brasília, e participará do evento por videoconferência.

O presidente brasileiro participaria presencialmente da cúpula dos países dos Brics, em Kazan, entre os dias 22 e 24 de outubro, mas, seguindo recomendação médica, cancelou a viagem após sofrer uma queda no banheiro do Alvorada no sábado (19).

Presencialmente, Lula será representado pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que embarcou na noite de domingo (20).

Durante a cúpula, Lula pretende buscar o apoio da Rússia e da China para a reformulação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Em seu discurso, ele reforçará a necessidade de uma reforma na ONU em 2025, quando a Carta das Nações Unidas completará 80 anos. O presidente defende que a organização seja adaptada para refletir as transformações globais contemporâneas.

Para o chefe do Executivo brasileiro, a reforma do Conselho de Segurança da ONU deve incluir a ampliação do número de membros com poder de veto. Atualmente, apenas cinco países possuem essa prerrogativa: França, Reino Unido, Estados Unidos, Rússia e China.

Venezuela

Nessa terça-feira (22), a cúpula dos Brics decidiu atender ao pedido do Brasil e excluiu a Venezuela da lista de possíveis parceiros do bloco.

Da América Latina, entraram na lista apenas Cuba e Bolívia. Além deles, estão na lista Belarus, Indonésia, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.

Conforme mostrou a CNN, o próximo passo é avaliar quais desses países entrarão no grupo. Se todos forem confirmados, a Rússia, que sedia a cúpula, fará contato com as nações da lista para confirmar que elas querem mesmo juntar-se por meio dessa nova categoria de membros.

Diplomatas brasileiros envolvidos nas negociações na Cúpula dos Brics relataram que o Brasil usou o argumento de que é necessário haver consenso entre países do grupo para barrar novos integrantes.

 

- Interessa ao Brics moldar nova governança global, diz especialista do Insper ao WW

Roberto Dumas comenta ao WW sobre papel de oposição do bloco ao Ocidente

 

A Cúpula entre os chefes de Estado e representantes do Brics está marcada para esta quarta-feira (23). E na visão de Roberto Dumas, professor de economia chinesa do Insper, o grupo tem se fortalecido em torno de uma ideia de resistência ao Ocidente.

Em entrevista ao WW desta terça-feira (22), Dumas retoma a questão da Conferência de Bretton Woods, que firmou o atual sistema financeiro mundial.

Oriundos dos acordos firmados nesse encontro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial têm regimentos duramente criticados pelos países emergentes, por conta da falta de representatividade que suas governanças permitem

“Pelo menos usando a narrativa dos fundadores do grupo do Brics, existe o interesse de projetar uma nova governança global no pós-Bretton Woods. Vários países não conseguem impor seus pesos geopolíticos como gostariam nessas instituições”, aponta o professor do Insper.

“Então, se eu não consigo entrar num clube, que eu monte um clube, como é o caso do banco dos Brics.”

Em meio ao cenário de devastação ocasionado pela Segunda Guerra Mundial e à ressaca da Crise de 1929, economistas de 44 países se reuniram para redesenhar o formato do sistema financeiro internacional.

Naquele momento, o cenário econômico era marcado por recessão, escassez de crédito e produção em queda.

Os acordos definiram um sistema de taxas de câmbio fixas, no qual as moedas dos países eram atreladas ao dólar norte-americano, que por sua vez era lastreado em ouro.

O chamado padrão dólar-ouro se manteve em vigor até 1971, quando foi derrubado pelo então presidente dos EUA Richard Nixon, para proteger a moeda diante da demanda mundial pelo mineral precioso. Mas, até hoje, ambos os valores são usados como referência no mercado.

Os órgãos fundados na reunião seguem como as principais instituições financeiras internacionais. Mas o que se aponta é que ambas evoluíram pouco desde lá em relação a sua governança, e apesar de terem sido importantes para a estruturação do sistema pós-1945, não seriam capazes de atender as demandas do mundo contemporâneo.

O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) foi fundado em 2014, durante a Cúpula do Brics realizada em Fortaleza. O principal objetivo do banco é fomentar investimentos nos países emergentes, cada vez mais buscando evitar a dependência do dólar por parte de seus membros. Hoje, inclusive, está à mesa de discussão do grupo a criação de uma moeda comum.

Dumas aponta que por essa postura e pelos caminhos que o bloco têm escolhido expandir, ele cada vez mais se consolida como um grupo “anti-Ocidente”. Originalmente formado por China, Rússia e Índia, o grupo conta com África do Sul e, entre suas mais recentes inclusões, Irã, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Egito.

“Se isso não é um grupo anti-Ocidente, não sei o que é. Logo, não vamos viver mais em um mundo unilateral, mas multipolarizado, com vários países no meio das discussões importantes”, aponta o professor.

 

Fonte: CNN