Economia

Bolsa recua com peso de blue chips após decepção com China; dólar fica em R$ 5,66





Também estava no radar cenário fiscal doméstico e decisão de juros pelo Banco Central Europeu

O Ibovespa encerrou esta quinta-feira (17) em queda, após investidores avaliarem uma sessão repleta de eventos no exterior, incluindo notícias da China, dados dos Estados Unidos e a decisão de juros do Banco Central Europeu (BCE).

O principal índice do mercado brasileiro caiu 0,73%, aos 130.793,41 pontos.

Logo na abertura, agentes financeiros repercutiam uma nova decepção com o estímulo econômico na China, após autoridades chinesas detalharem medidas para impulsionar o setor imobiliário.

“Hoje a retração do mercado brasileiro foi fortemente influenciada pela queda nas ações de mineradoras e petroleiras, como Vale e Petrobras, que recuaram devido à ausência de sinais consistentes de recuperação da economia chinesa, impactando diretamente a demanda global por commodities”, aponta Anderson Silva, head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital.

Os papéis da Petrobras caíram 0,75% no pregão, enquanto os da Vale 2,53%.

Já o dólar, após passar o dia em alta na esteira desses sinais, fechou o pregão em leve recuo de 0,06%, cotado em R$ 5,6602. Nas negociações pós-mercado, a divisa seguiu recuando em torno de 0,1%.

“O dólar pode estar recuando levemente com o fluxo de capital aqui vindo para o Brasil com os cortes de juros lá fora, mas segue elevado devido as incertezas do país. É praticamente um movimento de realização dos contratos do dólar, que estavam com preços lá em baixo, do que uma mudança de cenário”, diz Jefferson Laatus, estrategista-chefe do grupo Laatus.

Por outro lado, no exterior, a moeda registrou ganhos firmes ante boa parte das demais divisas, sob influência de dados robustos da economia dos EUA e da decepção com os estímulos econômicos da China.

Nos Estados Unidos, novos dados econômicos fortes — com destaque para vendas no varejo e pedidos semanais de auxílio-desemprego — reduziam ainda mais as expectativas de um afrouxamento monetário agressivo pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) ao afastar temores de uma desaceleração agressiva.

Também estava no radar a decisão de política monetária do BCE, que reduziu os juros em 25 pontos-base pelo segundo encontro consecutivo, mas não ofereceu sinais sobre os movimentos futuros.

No cenário doméstico, o mercado acompanhou entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a uma emissora de rádio, em meio a expectativa por anúncio de medidas de contenção de gastos a fim de garantir a sustentabilidade do arcabouço fiscal.

Notícias da China

Os mercados renovavam seu pessimismo diante das perspectivas para a China, após uma entrevista coletiva do governo sobre medidas para o setor imobiliário, cuja crise é uma das principais causas para a desaceleração da segunda maior economia do mundo, não impressionar investidores.

A China anunciou que ampliará uma lista de projetos habitacionais elegíveis a financiamento e aumentará os empréstimos bancários para esses empreendimentos para 4 trilhões de iuanes (US$ 562 bilhões) até o final do ano.

Analistas viram o anúncio como apenas uma complementação de medidas de estímulo ao setor já apresentadas anteriormente, concluindo que, na prática, não houve nenhuma novidade no briefing.

A decepção dos investidores com a China, maior importador de matérias-primas do planeta, voltava a pressionar os preços de commodities, com quedas em produtos importantes para a pauta exportadora de países emergentes, como o minério de ferro.

“A China frustrou novamente o mercado, o que impacta commodities. Se é um dia mais fraco de commodities, você tem uma consequente desvalorização de moedas de países cuja pauta exportadora é muito associada a elas, que é o caso do Brasil”, disse Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

Cenário externo

Nos EUA, voltaram a surgir dados fortes para a economia nesta quinta, o que fez agentes financeiros reduzirem ainda mais a expectativa por um afrouxamento monetário agressivo no Federal Reserve.

Números do governo mostraram que as vendas no varejo subiram 0,4% em setembro na base mensal, acima da alta de 0,3% esperada por analistas consultados pela Reuters e uma melhora ante o avanço de 0,1% no mês anterior.

O resultado mostrou que o mercado consumidor dos EUA continua resiliente, o que afasta ainda mais temores de uma desaceleração econômica agressiva e reduz o espaço para cortes de juros. Como consequência, os rendimentos dos Treasuries subiam.

Também estava no radar a decisão de política monetária do Banco Central Europeu, que decidiu reduzir os juros em 25 pontos-base pelo segundo encontro consecutivo. O banco, no entanto, não forneceu sinais sobre seus movimentos futuros.

Cenário doméstico

No cenário doméstico, o mercado ainda demonstra preocupações com a questão fiscal, à medida que o governo vem prometendo anunciar medidas de contenção de gastos a fim de cumprir a meta de déficit primário zero para este ano.

“Continua o ceticismo por parte do mercado em relação às medidas de contenção de gastos prometidas pelo governo (…) Promessas não pagam dívidas, a gente precisa de uma materialização. Então, no curto prazo, ainda haverá essa incerteza contínua”, completou Spiess.

A incerteza fiscal continuava tendo efeito na curva de juros brasileira, com os juros futuros apresentando altas sólidas nesta sessão.

 

Confira outras notícias

- Produtividade na indústria cai 0,3% no segundo trimestre

A produtividade do trabalho na indústria de transformação brasileira voltou a cair, embora em ritmo menor, revela a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo a pesquisa Produtividade na Indústria, o indicador recuou 0,3% no segundo trimestre, após cair 1,4% no primeiro trimestre do ano.

O indicador expressa a razão entre o volume produzido e o número de horas trabalhadas. De abril a junho, a produção industrial subiu 0,9%, mas as horas trabalhadas aumentaram 1,3%. Apesar da queda, a CNI considera que o recuo de 0,3% na produtividade do trabalho significa estabilidade.

De acordo com a CNI, a produção manteve o ritmo de crescimento no segundo trimestre, enquanto as horas trabalhadas continuaram a crescer, mas em ritmo menor que no trimestre anterior. Isso, segundo a confederação, indica a estabilidade do indicador.

Ao medir a produtividade pelo total de trabalhadores, em vez do número de horas, o indicador tem resultados melhores, com alta de 0,4% no segundo trimestre. Segundo a CNI, esse é o melhor resultado nessa medição desde o segundo trimestre de 2022.

Na avaliação da CNI, a expectativa é que a produtividade cresça nos próximos trimestres com o fim dos ciclos de treinamento dos trabalhadores recém-contratados. Outro fator que deve melhorar a produtividade, informou a CNI, são as medidas recentes do governo federal que criam melhores condições para as empresas investirem na modernização industrial. A entidade cita as linhas de financiamento do eixo Indústria Mais Produtiva do Plano Mais Produção e a nova lei de depreciação acelerada, regulamentada recentemente.

Histórico

De 2013 a 2023, a produtividade da indústria brasileira acumulou queda de 1,2%. Esse resultado reflete redução de 16,5% nas horas trabalhadas e redução maior no volume produzido, de 17,4%. A queda concentrou-se nos cinco últimos anos.

Na primeira metade da década, até 2018, a produtividade industrial acumulou crescimento de 7,1%. O ganho, no entanto, foi mitigado pela queda de 7,8% na segunda metade da década. Segundo a CNI, boa parte da queda decorreu da retração da demanda e dos juros altos, que prejudicaram os investimentos da indústria.

Fonte: CNN  - Reuters - Agência Brasil