Cultura

Papa anuncia súplica de paz e dia de oração e jejum para dissipar os ventos de guerra





Na missa de abertura da segunda sessão do Sínodo sobre a sinodalidade, Papa convoca todos os fiéis a implorarem de Maria o dom da paz "neste momento dramático de nossa história, enquanto os ventos da guerra e os fogos da violência continuam a devastar povos e inteiras nações".

Uma súplica de paz e um dia de oração e jejum: este foi o anúncio feito pelo Papa na celebração da Santa Missa de abertura da segunda sessão da Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bisposna Praça São Pedro na manhã desta quarta-feira.

Inspirando-se nos Santos Anjos da Guarda, que a liturgia celebra neste 2 de outubro, na homilia o Papa propôs à reflexão três imagens: a voz, o refúgio e a criança.

No caminho para a Terra Prometida, Deus aconselha o povo a escutar a “voz do anjo” que Ele enviou, mas como fazê-lo, questionou Francisco.

Um modo possível é certamente o de nos aproximarmos com respeito e atenção, na oração e à luz da Palavra de Deus, a todos os contributos recolhidos ao longo destes três anos de intenso trabalho. Trata-se, com a ajuda do Espírito Santo, de escutar e compreender as vozes, ou seja, as ideias, as expectativas, as propostas, para discernir juntos a voz de Deus que fala à Igreja. O Santo Padre recordou que o Sínodo não é uma assembleia parlamentar, mas um lugar de escuta em comunhão.

Porém, para que isso aconteça, há uma condição: libertar-se da arrogância, da presunção e da pretensão de exclusividade na escuta da voz do SenhorNa prática, significa ter o cuidado de não transformar os nossos contributos em teimosias a defender ou agendas a impor. Caso contrário, acabaremos por nos fechar num diálogo de surdos, onde cada um tenta “puxar água ao seu moinho” sem ouvir os outros e, sobretudo, sem ouvir a voz do Senhor.

“A solução para os problemas a enfrentar não a temos nós, mas Ele”, reforçou o Pontífice. E não só, é preciso se recordar que no deserto não se brinca: se alguém, presumindo-se autossuficiente, não presta atenção ao guia, pode morrer de fome e de sede, arrastando também consigo os outros. “Portanto, escutemos a voz de Deus e do seu anjo, se realmente quisermos prosseguir em segurança o nosso caminho para além dos limites e das dificuldades.”

Quanto à imagem do refúgio, o símbolo é o das asas protetoras. Sob essas asas, cada um pode se sentir tanto mais livre de se exprimir espontânea e abertamente, com o "coração em diálogo": "Não é do Espírito do Senhor um coração fechado nas próprias convicções, isso não é do Senhor. É um dom abrir-se. A Igreja tem necessidade de lugares de paz e abertura, a serem criados principalmente nos corações, onde cada um se sinta acolhido como uma criança nos braços da mãe”, disse o Papa.

Por fim, a terceira imagem: a criança. É o próprio Jesus, no Evangelho, que a “coloca no meio”. Falando do Sínodo, pode parecer um paradoxo, já que, de certo modo, é preciso ser “grandes” – na mente, no coração, nas visões –, porque os temas a tratar são “grandes” e delicados, e os cenários em que se inserem são amplos, universais.

Mas, precisamente por isso, explicou o Pontífice, “não podemos deixar de olhar para a criança, para nos recordar que a única maneira de estar ‘à altura’ da tarefa que nos está confiada é fazermo-nos pequenos e acolhermo-nos uns aos outros como tal, com humildade”. As crianças, acrescentou, são um “telescópio” do amor do Pai.

O Papa concluiu a homilia convidando os fiéis a voltarem o olhar para o mundo, "porque a comunidade cristã está sempre a serviço da humanidade para proclamar a alegria do Evangelho a todos. Precisamos disso, especialmente nesta hora dramática de nossa história, enquanto os ventos da guerra e os fogos da violência continuam a devastar povos e nações inteiras".

Francisco então anunciou dois eventos nos dias 6 e 7 de outubro:

"Para invocar da intercessão de Maria Santíssima o dom da paz, no próximo domingo irei à Basílica de Santa Maria Maior, onde rezarei o Santo Rosário e dirigirei à Virgem uma sincera súplica. Se possível, peço também a vocês, membros do Sínodo, que se unam a mim nessa ocasião."

No dia seguinte, 7 de outubro, o convite do Pontífice se estendeu a toda a comunidade dos fiéis para viver um dia de oração e jejum pela paz no mundo:  "Vamos caminhar juntos. Vamos ouvir o Senhor. E deixemo-nos guiar pela brisa do Espírito".

 

- Francisco: o Sínodo é um exercício de arte sinfônica, todos juntos com diferentes ministérios e carismas

Em seu discurso na abertura dos trabalhos da Primeira Congregação da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade, o Papa enfatizou "o processo sinodal é também um processo de aprendizagem, durante o qual a Igreja aprende a conhecer-se melhor e a identificar as formas de ação pastoral mais adequadas à missão que o seu Senhor lhe confia".

Na tarde desta quarta-feira (02/10), o Papa Francisco abriu os trabalhos da Primeira Congregação Geral da Segunda Sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade, na Sala Paulo VI, no Vaticano.

Em seu discurso, o Santo Padre frisou que esta "assembleia, guiada pelo Espírito Santo, que “Doma o espírito indomável, infunde no gelo o calor da vida, guia quem torce o caminho” (Sequência de Pentecostes), deverá oferecer a sua contribuição para que se forme uma Igreja verdadeiramente sinodal em missão, que saiba sair de si mesma e habitar as periferias geográficas e existenciais, garantindo que se estabeleçam laços com todos em Cristo nosso Irmão e Senhor".

O Espírito Santo é um guia seguro

Referindo-se a um texto de um autor espiritual do século IV, Francisco reiterou que "o Espírito Santo é um guia seguro, e nossa primeira tarefa é aprender a distinguir sua voz, porque Ele fala em todos e em todas as coisas. O Espírito Santo nos acompanha sempre".

É um consolo na tristeza e no choro, sobretudo quando - justamente pelo amor que temos pela humanidade - nos diante das coisas que não vão bem, das injustiças que prevalecem, da obstinação com que resistimos a responder com o bem diante do mal, da dificuldade de perdoar, da falta de coragem em buscar a paz, somos tomados pelo desânimo, parece-nos que não há mais nada a fazer e nos entregamos ao desespero.

"O Espírito Santo enxuga as lágrimas e consola porque comunica a esperança de Deus", disse ainda o Papa, recordando que "a humildade também é um dom do Espírito Santo. A humildade nos permite olhar o mundo reconhecendo que não somos melhores que os outros" e convidou os participantes da Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos "a reconhecer que a Igreja, semper reformanda, não pode caminhar e renovar-se sem o Espírito Santo e as suas surpresas, sem se deixar modelar pelas mãos de Deus criador, do Filho, Jesus Cristo e do Espírito Santo".

"Desde que o Senhor Jesus, crucificado e ressuscitado, derramou o seu Espírito Santo no Pentecostes, desde então, caminhamos, como “misericordiados”, para a realização plena e definitiva do plano de amor do Pai", sublinhou Francisco.

O processo sinodal é um processo de aprendizagem

"Conhecemos a beleza e a fadiga do caminho. Percorremos o caminho convencidos da essência relacional da Igreja, cuidando para que as relações que nos foram doadas e confiadas à nossa criatividade responsável sejam sempre manifestações da gratuidade da misericórdia", ressaltou o Papa.

Francisco disse ainda que "a XVI Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, agora em sua segunda sessão, está manifestando de forma original esse “caminhar juntos” do povo de Deus". Segundo ele, "a inspiração que teve o Papa São Paulo VI, quando instituiu o Sínodo dos Bispos em 1965, revelou-se muito fecunda. Nos sessenta anos que se seguiram, aprendemos a reconhecer no Sínodo dos Bispos um sujeito plural e sinfônico, capaz de apoiar o caminho e a missão da Igreja Católica, ajudando eficazmente o Bispo de Roma no seu serviço à comunhão de todas as Igrejas e de toda a Igreja".

O processo sinodal é também um processo de aprendizagem, durante o qual a Igreja aprende a conhecer-se melhor e a identificar as formas de ação pastoral mais adequadas à missão que o seu Senhor lhe confia. Este processo de aprendizagem envolve também as formas de exercício do ministério dos pastores, particularmente dos bispos.

Exercitar-nos juntos numa arte sinfônica

Francisco disse que quando decidiu convocar "como membros titulares desta XVI Assembleia também um número significativo de leigos e consagrados(homens e mulheres), diáconos e sacerdotes, desenvolvendo o que já estava parcialmente previsto para as assembleias anteriores, o fez em coerência com a compreensão do exercício do ministério episcopal expressa pelo Concílio Ecumênico Vaticano II".

Segundo o Papa, "essa compreensão inclusiva do ministério episcopal exige ser revelada e reconhecida, evitando dois perigos: o primeiro é a abstração que esquece a concretude fecunda dos lugares e relações, e o valor de cada pessoa; o segundo perigo é o de romper a comunhão colocando a hierarquia contra os fiéis leigos".

"Somos convidados a exercitar-nos juntos numa arte sinfônica, numa composição que nos une a todos no serviço à misericórdia de Deus, segundo os diferentes ministérios e carismas que o bispo tem a tarefa de reconhecer e promover", disse ainda Francisco.

Ser Igreja sinodal missionária

De acordo com o Pontífice, "caminhar juntos é um processo em que a Igreja, dócil à ação do Espírito Santo, sensível no acolhimento dos sinais dos tempos, se renova continuamente e aperfeiçoa a sua sacramentalidade, para ser uma testemunha crível da missão a que foi chamada, de reunir todos os povos da terra no único povo esperado no final, quando o próprio Deus nos fará sentar no banquete que Ele preparou".

O Papa disse ainda que "devem ser identificadas diferentes formas de exercício “colegial” e “sinodal” do ministério episcopal, nos momentos apropriados (nas Igrejas particulares, nos grupos de Igrejas, em toda a Igreja), respeitando sempre o depósito da fé e da Tradição viva, respondendo sempre ao que o Espírito pede às Igrejas neste tempo particular e nos diversos contextos em que vivem".

"É o Espírito Santo que torna possível a fidelidade perene da Igreja ao mandato do Senhor Jesus Cristo e a escuta perene da sua palavra. Ele guia os discípulos para toda a verdade. Ele também nos guia para dar resposta, depois de três anos de caminho, à pergunta como ser uma Igreja sinodal missionária. Eu acrescentaria 'misericordiosa'", concluiu Francisco.

 

-  Cardeal Grech: somos chamados a rezar pelo precioso dom da paz

O Secretário Geral do Sínodo saúda os participantes e destaca a importância do discernimento e da sinodalidade. Dom Grech chama a atenção para o papel da escuta mútua na busca pela verdade e pela paz, além de refletir sobre a contribuição do Espírito Santo para a unidade da Igreja. Disponibilizamos o texto na íntegra.

Bem-vindos mais uma vez! Nossas saudações a todos, irmãs e irmãos em Cristo.

Convocados para a segunda sessão da Assembleia, invocamos o Espírito para que nos ilumine e torne os nossos ouvidos atentos à sua Voz. O Espírito que, das profundezas da criação violada e das criaturas que sofrem injustiça após injustiça, geme e sofre como em dores de parto, iniciará uma nova estação.

Enquanto celebramos esta Assembleia, travam-se guerras em muitas partes do mundo! Estamos à beira de um alargamento do conflito. Quantas gerações terão de passar, antes que os povos em guerra possam mais uma vez "sentar-se juntos" e conversar entre si, para construir juntos um futuro pacífico?

Unimo-nos às irmãs e irmãos presentes na sala, que vêm de zonas de guerra ou de nações que veem violadas as liberdades fundamentais dos seus povos. Através das suas vozes podemos ouvir os gritos e clamores daqueles que sofrem sob as bombas, especialmente as crianças, que respiram este clima de ódio. Como crentes, somos chamados a desejar e a rezar pelo precioso dom da paz para todas as povos.

Devemos sempre combinar o testemunho crível com a oração contínua. Esta Assembleia é em si um testemunho crível! O fato de homens e mulheres se terem reunido de todas as partes da terra para ouvir o Espírito, ouvindo-se uns aos outros, é um sinal de contradição para o mundo. Vem-me à mente o último trecho do discurso do Santo Padre por ocasião do 50º aniversário da instituição do Sínodo dos Bispos: “Uma Igreja sinodal é como uma bandeira hasteada entre as nações (cf. Is 11,12) num mundo que - ao mesmo tempo que chama à participação, solidariedade e transparência na administração dos assuntos públicos – muitas vezes entrega o destino de populações inteiras nas mãos gananciosas de pequenos grupos de poder”.

O Sínodo é essencialmente uma escola de discernimento: é a Igreja reunida com Pedro para discernir juntos. Uma Igreja sinodal é uma proposta para a sociedade de hoje: o discernimento é fruto de um exercício maduro da sinodalidade como estilo e método. O discernimento eclesial pode ser um desafio e um exemplo para qualquer tipo de assembleia, que deve encontrar na escuta mútua dos seus membros a regra de ouro para a busca da verdade e do bem comum. Sem esquecer que o discernimento é uma “ponte” através da qual crentes e não crentes podem ouvir-se e compreender-se através de uma gramática comum. Não sou eu quem digo isso, mas um autor secular, Umberto Eco. O horizonte desta nossa Assembleia é a Igreja, mas o desejo é que o resultado do nosso trabalho nas relações, nos processos, nos lugares possa ajudar todos os homens e contribuir para a construção de um mundo mais justo.

Muitos pensam que o propósito do Sínodo é uma mudança estrutural na Igreja e uma reforma. Esta é uma ansiedade, um desejo que permeia toda a Igreja. Todos nós queremos isso, mas nem todos temos a mesma ideia de reforma e suas prioridades. Já em 1950, Yves Congar falava de “verdadeira ou falsa reforma na Igreja”. Para que seja verdade, as nossas prioridades também devem ser verdadeiras, ou seja, devem estar sujeitas ao “Espírito da verdade, que guia a Igreja para toda a verdade” (Jo 16,13). Se o Espírito Santo não tivesse o primado nas nossas obras, a finalidade do Sínodo seria administrativa, jurídica ou política, e não eclesial!

É o Espírito quem leva a Igreja a conhecer a verdade. O Concílio recordou-nos que “Deus, que falou no passado, fala sem interrupção com a Esposa do seu Filho amado, e o Espírito Santo, através do qual a voz viva do Evangelho ressoa na Igreja e através dela no mundo, introduz crentes a toda a verdade e faz habitar abundantemente neles a palavra de Cristo" (DV 8c). Para explicar como isso pode acontecer, a constituição Dei Verbum lembra que “a compreensão tanto das coisas como das palavras transmitidas cresce tanto com a contemplação como com o estudo dos que creem, que nelas meditam no coração (cf. Lc 2, 19. 51), tanto pela profunda inteligência das coisas espirituais que vivem, como pela pregação daqueles que, com a sucessão episcopal, receberam um carisma seguro de verdade” (DV 8b).

São estes os sujeitos que tornam possível o dinamismo da Tradição, que “progride na Igreja sub assistentia Spiritus Sancti” (DV 8b). Estes sujeitos não são outros senão a própria Igreja, o Povo de Deus reunido pelos seus Pastores, que “perseveram continuamente no ensinamento dos Apóstolos e na comunhão, na fração do pão e nas orações (Act 2,47), para que retenham, praticar e professar a fé transmitida, estabelece-se um acordo singular entre Pastores e fiéis” (DV 10). Para a Igreja antiga, o consenso das Igrejas era um critério certo da verdade de Cristo: aquilo que a Igreja acredita é verdadeiro, porque todos os batizados não podem enganar-se naquilo em que creem, em virtude do dom do Espírito.

Desde o início deste processo sinodal reiteramos que ele baseia o discernimento eclesial nesta verdade, na escuta mútua para ouvir o que o Espírito diz à Igreja. É uma escuta que acompanhou todas as etapas do processo: a consulta do Povo Santo de Deus nas Igrejas locais, o discernimento dos Pastores nas Conferências Episcopais, o ulterior discernimento nas Assembleias continentais, a dupla sessão da Assembleia em torno do Santo Padre, princípio e fundamento da unidade de toda a Igreja. Assim elencadas, as etapas parecem configurar um processo linear, onde o Povo de Deus aparece apenas no início para dar a ilusão de participar num processo de decisão que, no entanto, permanece concentrado nas mãos de poucos. Se assim fosse, estariam certos, aqueles que sustentam que o processo sinodal, uma vez passado para a fase de discernimento dos bispos, extinguiu todas as instâncias proféticas do Povo de Deus!

Mas o “consenso universal”, fruto do discernimento, surge da escuta de todos. Vale a pena reiterar o que disse o Santo Padre por ocasião do 50º aniversário da instituição do Sínodo: “uma Igreja sinodal é uma Igreja da escuta”, na qual todos – o Povo Santo de Deus, o Colégio dos Bispos, o Bispo de Roma - somos chamados a escutar-nos uns aos outros, a escutar o que o Espírito diz às Igrejas. Para garantir que esta escuta seja para todos e envolva sempre todos – isto é, a Igreja – implementamos o princípio da restituição. Sempre, a cada passagem que se colocou num texto o discernimento eclesial permanente, devolvemos às Igrejas o fruto da escuta.

Isto não é um ato de cortesia. É, pelo contrário, um ato necessário, uma aplicação do princípio da circularidade que deve regular a vida da Igreja. Enviar cada documento ao Bispo, “princípio e fundamento da unidade da sua Igreja”, significa voltar ao sujeito de onde partiu todo o processo sinodal - o Povo de Deus - fruto do discernimento, para que a resposta das Igrejas possa dar novo impulso ao discernimento eclesial. O sentido último desta restituição é eclesial: se a Igreja é “o corpo das Igrejas”, “no qual e a partir do qual existe a única Igreja Católica” (LG 23), o Sínodo é um processo que envolve toda a Igreja e todos na Igreja, cada um segundo a sua função, o seu carisma e o seu ministério.

Compete a Secretaria Geral do Sínodo “proporcionar uma colaboração eficaz com o Romano Pontífice, segundo os métodos por ele estabelecidos ou a estabelecer, nos assuntos da maior importância, para o bem de toda a Igreja” (PE 33). Através da circularidade contínua será possível desenvolver um estilo e uma forma sinodal de Igreja, na qual se aplique o princípio da troca de dons: faça com que aconteça rapidamente que cada Igreja “ofereça os seus próprios dons às outras Igrejas e a toda a Igreja”. Igreja, para que a Ecclesia tota e cada Igreja se beneficiem da comunicação recíproca de todos e do esforço conjunto pela salvação” (LG 13).

Compromete cada Bispo com a sua Igreja. Uma Igreja sinodal depende em grande parte de um bispo sinodal. A sua primeira e fundamental tarefa é ser mestre e garante do discernimento eclesial. Esta tarefa aplica-se antes de tudo à sua Igreja, onde exerce o seu ministério de pastor e guia. Mas não é menos válido quando o exerce em conjunto com os demais bispos nos órgãos que manifestam os agrupamentos de Igrejas. Assim, o bispo que iniciou a consulta na sua Igreja e ativou os órgãos de participação como sujeitos de discernimento eclesial, continua este discernimento na Conferência Episcopal e nas Assembleias continentais, que o processo sinodal nos deu como um significativo “lugar” de escuta às Igrejas de um continente. Devemos continuar a refletir sobre este aspecto a nível teológico, canônico e pastoral.

O ministério petrino se beneficia muito deste processo ordenado, que emerge cada vez mais como serviço à unidade da Igreja e na Igreja: da communio Ecclesiarum, Fidelium, Episcoporum ele é “o princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade”, que chamou toda a Igreja na ação sinodal e em favor da Igreja, recolhe e devolve os frutos do discernimento, devido ao seu ministério de preocupação para todas as Igrejas. Isto se aplica a esta XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que tem como tema a sinodalidade. Mas pode tornar-se estilo e modo de proceder numa Igreja sinodal, que redescobriu, com o Espírito falando à Igreja, também a força do discernimento eclesial como fruto da escuta do Espírito através da escuta mútua de todos na Igreja. O ministério petrino é o eixo da sinodalidade católica e o processo sinodal tem como objetivo ajudar Pedro no seu discernimento para toda a Igreja.

Um trabalho intenso nos espera. Esta fase será seguida pela recepção e implementação do que se desenvolveu no processo sinodal 2021-2024. As Igrejas acolherão ainda mais o resultado, porque não será fruto dos nossos esforços, mas fruto de uma escuta dócil do Espírito. Como escreve São Tomás: “Actus credentis non terminatur ad enuntiabile, sed ad rem” (S. Th., II/II, q. 1, art. 2, ad 2). Máxima que podemos traduzir numa dimensão eclesial: o ato de uma Igreja que crê - esta Assembleia - não se esgota numa afirmação teórica, num Documento final, mas na vida concreta da Igreja, uma Igreja que vive do Evangelho, que faz caminhar juntos na força do Espírito para o cumprimento do Reino.

Bom trabalho!

 

Fonte: Vatican News