Cultura

O Papa aos jovens: construam um mundo mais compassivo, harmonioso e fraterno





Em seu discurso a uma delegação do Movimento Internacional de Estudantes Católicos "Pax Romana", Francisco retomou alguns trechos da Exortação Apostólica pós-sinodal Christus vivit, exortando as novas gerações a tornarem-se protagonistas «da revolução da caridade e do serviço». Uma mudança que promova "um senso de cidadania global e incentive a ação no âmbito local".

O Papa Francisco encontrou-se, na manhã desta sexta-feira (20/09), na Sala do Consistório, no Vaticano, com cerca de oitenta e cinco membros do Movimento Internacional de Estudantes Católicos "Pax Romana".

O Pontífice iniciou o seu discurso, manifestando apreço ao Movimento Internacional de Estudantes Católicos "Pax Romana" pelo seu "compromisso na promoção da justiça social e no desenvolvimento humano integral, inspirado na fé católica e na sua visão de um mundo cada vez mais conforme ao plano de amor de Deus para a família humana".

Seguindo as reflexões do Sínodo de 2018 sobre os jovens, o Papa encorajou os jovens a serem, em particular, «protagonistas da revolução da caridade e do serviço», conforme escrito na Exortação Apostólica pós-sinodal Christus vivit.

"Sua presença e suas atividades - em ambientes acadêmicos, nos locais de trabalho ou nas ruas das cidades - buscam esse objetivo, trabalhando para construir um mundo mais compassivo, harmonioso e fraterno", disse Francisco, pensando no trabalho de educação e formação realizado nos centros do Movimento Internacional de Estudantes Católicos "Pax Romana" situados "na França, Tailândia e Quênia, com base no testemunho do Evangelho e na doutrina social da Igreja".

"Promovendo um senso de cidadania global e incentivando a ação no âmbito local, seu Movimento prepara os jovens para aprofundar a compreensão das questões sociais mais urgentes de nosso tempo e os capacita a promover mudanças efetivas em suas próprias comunidades, servindo assim como fermento evangélico", disse ainda o Papa, acrescentando:

Nestes dias, enquanto avançamos no atual Sínodo sobre a Sinodalidade, gostaria de encorajá-los, individualmente e em conjunto, a se envolverem no percurso sinodal da Igreja, feito de caminho partilhado, de escuta, de participação e compromisso num diálogo aberto ao discernimento e, portanto, a estarem atentos à voz suave do Espírito Santo. Também os encorajo a acolher a próxima celebração do Ano Santo de 2025 como uma ocasião especial de renovação pessoal e de enriquecimento espiritual em união com toda a Igreja.

Francisco sublinhou ainda que "o símbolo eloquente da Porta Santa atravessada pelos fiéis, aqui em Roma e em todas as Igrejas locais, nos lembra que somos todos peregrinos, todos a caminho, chamados juntos a uma união mais profunda com o Senhor Jesus e à disponibilidade para o poder da sua graça, que transforma nossas vidas e o mundo em que vivemos".

"Queridos jovens amigos, espero que sua presença em Roma e nosso encontro de hoje sejam uma fonte de inspiração renovada para seu compromisso de «trabalhar pelo desenvolvimento da paz, da harmonia, da justiça, dos direitos humanos e da misericórdia e, assim, pela propagação do Reino de Deus neste mundo»", disse o Papa, citando mais um trecho da Exortação Apostólica pós-sinodal Christus vivit.

Francisco confiou os membros do Movimento Internacional de Estudantes Católicos "Pax Romana" à intercessão de Maria, Rainha da Paz, e do Beato Pier Giorgio Frassati, que o Pontífice espera contar entre os santos no próximo Ano Santo.

 

- O Papa aos Movimentos Populares: luta contra a economia criminosa

Francisco encontra-se com os representantes dos Movimentos Populares em San Calisto, sede do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, por ocasião do décimo aniversário do primeiro encontro no Vaticano. Encoraja-os na luta contra as injustiças sociais, exorta-os a dar voz aos pobres de quem “todos dependemos” e relança a proposta de um Salário Básico Universal e de impostos mais elevados para os multimilionários. Por fim, expressa o desejo de deixar às novas gerações um mundo melhor,

Francisco chega discretamente ao Palazzo San Calisto, no coração do bairro Trastevere, onde está sediado o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que hoje, 20 de setembro, acolhe o evento “Plantar uma bandeira diante da desumanização”, no décimo aniversário do primeiro Encontro Mundial dos Movimentos Populares (EMMP) com o Papa Francisco realizado em Roma.

O “Encontro”, espaço de fraternidade entre organizações de base dos cinco continentes que conta com uma plataforma que visa promover a cultura do encontro em favor dos 3Ts (techo, tierra y trabajo, ou teto, terra e trabalho), por meio desta iniciativa se propõe a dialogar e refletir sobre o caminho percorrido desde 2014 para enfrentar os desafios atuais em favor da justiça social e da paz na nossa casa comum.

E o Papa, ao chegar à mesa dos participantes, escuta o diálogo entre aqueles que nos últimos anos se comprometeram a garantir que nenhuma família fique sem casa, “nenhum agricultor sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que deriva do trabalho”, como afirma o lema do EMMP.

Promover a fraternidade

O discurso do Papa é longo, proferido em espanhol e intercalado com vários adendos de improviso, e aborda os temas da justiça social, que convida a cuidar dos mais desfavorecidos, dos idosos e das crianças, a ter " compaixão", isto é, “sofrer com”, estar ao lado dos outros, ser voz daqueles que não têm voz, porque estão à margem da sociedade ou são ignorados. Mas Francisco também convida as pessoas mais vantajadas a colocarem à disposição os seus bens, porque “as riquezas são feitas para serem partilhadas, para criar, para promover a fraternidade”, e recorda que “sem o amor não somos nada” e que é preciso agir de forma que este amor seja eficaz em todas as relações, porque tudo deve ser feito com amor e que é preciso insistir para que ecista justiça, tal como fez a viúva do Evangelho, sem violência.

A ganância dos ricos 

O Pontífice recorda, antes de tudo, o que foi escrito no início do seu pontificado na Evangelii gaudium, reiterando que até que “os problemas dos pobres sejam radicalmente resolvidos, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas estruturais da desigualdade, não se resolverá nenhum problema  do mundo, em última análise, nenhum problema." Porque “dependemos todos dos pobres, todos, também os ricos”.

Confia que há quem lhe disse de falar muito dos pobres e pouco da classe média e pede desculpas por isso, mas ressalta que a centralidade dos pobres no Evangelho não pode ser negada e que, portanto, não é o Papa que os coloca no centro das atenções, mas Jesus, por isso “é uma questão da nossa fé e não pode ser negociada”.

Se não houver “boas políticas, políticas racionais e justas que fortaleçam a justiça social para que todos tenham terra, teto, trabalho, para que todos tenham um salário justo e direitos sociais adequados – diz ele – a lógica do descarte material e do descarte humano irá se difundir, deixando espaço para a violência e a desolação":

Infelizmente, muitas vezes são precisamente os mais ricos que se opõem à realização da justiça social ou da ecologia integral por pura ganância. Mascaram, sim, esta ganância com a ideologia, mas é a velha e conhecida ganância. Fazem pressão sobre os governos para que apoiem más políticas que os favoreçam economicamente.

Partilhar os bens 

O desejo do Papa é que “as pessoas economicamente poderosas saiam do isolamento, rejeitem a falsa segurança do dinheiro e se abram à partilha de bens, que têm um destino universal porque derivam todos da Criação”.

As riquezas devem ser partilhadas, insiste o Pontífice, “não como esmola”, mas “fraternalmente”. E para que os pobres sejam ajudados, o seu convite aos movimentos populares é o de pedir, gritar, lutar, solicitar as consciências, porque “avança uma forma perversa de ver a realidade”, que “exalta a acumulação de riquezas como se fosse uma virtude”", e ao invés disso é um vício:

Acumular não é virtuoso, não é virtuoso, distribuir é. Jesus não acumulava, multiplicava, mas multiplicava e seus discípulos distribuíam. Recordem-se que Jesus nos disse: “Não ajunteis para vós tesou­ros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam. Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração."

O grito dos excluídos

Competir cegamente “para ter cada vez mais dinheiro não é uma força criativa, mas uma atitude pouco saudável, um caminho para a perdição”, acrescenta Francisco, que considera este comportamento “irresponsável, imoral e irracional”, porque “destrói a criação e divide as pessoas" e isso não deve se deixar de denunciar, pois "o grito dos excluídos pode também despertar as consciências adormecidas de muitos líderes políticos", a quem cabe "fazer valer os direitos econômicos, sociais e culturais", que são "reconhecidos por quase todos os países, pelas Nações Unidas, pela doutrina social de todas as religiões, mas que muitas vezes não se manifestam na realidade socioeconômica”.

Compaixão 

E depois a justiça social deve ser acompanhada pela compaixão, que “significa sofrer com o outro, partilhar os sentimentos dos outros” e “não consiste em dar esmolas” aos necessitados, “olhando para eles de cima para baixo, olhando para eles a partir das próprias seguranças e dos próprios privilégio", "compaixão significa aproximar-se uns dos outros", a compaixão é carnal, fraterna, profunda.

Quer compartilhemos o mesmo sofrimento ou sejamos movidos pelo sofrimento dos outros. A verdadeira compaixão constrói a unidade das pessoas e a beleza do mundo.

Ninguém deve ser desprezado 

O Papa denuncia também “a ‘cultura do vencedor’ que é um aspecto da ‘cultura do descarte”, aquela prática, por parte de quem, forte por “certos sucessos mundanos” - muitas vezes “fruto da exploração das pessoas e da pilhagem da natureza" ou produtos "da especulação financeira ou da evasão fiscal", ou da "corrupção ou do crime organizado" - sente "o direito de desprezar arrogantemente os 'perdedores'".

Mas “esta atitude arrogante”, “o exultar da própria supremacia sobre os que estão em pior situação” -  que “é o oposto da compaixão” - “não acontece apenas com os mais ricos, muitas pessoas caem nesta tentação”, alerta Francisco.

Este “olhar de longe, de cima, com indiferença, com desprezo, com ódio”, gera violência, gera “silêncio indiferente”. E “o silêncio diante da injustiça abre caminho à divisão social, a divisão social abre caminho à violência verbal, a violência verbal abre caminho à violência física, a violência física à guerra de todos contra todos” sublinha Francisco, acrescentando que somente quando se tem que ajudar uma pessoa a se levantar, se pode olhar para ela de cima para baixo.

É necessário o amor 

É preciso amor, é em síntese a reflexão de Francisco. Este amor é aquele visto pelo Pontífice dias atrás em Díli, na escola “Irmãs Alma” que acolhe crianças com deficiência ou com malformações. “Sem amor isto não se compreende”, confidencia o Papa ter pensado ao visitar a estrutura. “Se o amor é eliminado como categoria teológica, categoria ética, econômica e política, perde-se o rumo”, por isso “a justiça social, e também a ecologia integral, só podem ser compreendidas po meio do amor”, porque “sem amor não somos nada”, repete. E este amor deve ser vivido na vida quotidiana, nas relações familiares e em cada espaço comunitário.

Darwinismo social 

Na ganância matemática da conveniência e do individualismo, prepondera alguma forma de “darwinismo social” , a "lei do mais forte" que justifica primeiro a indiferença, depois a crueldade e, finalmente, o “extermínio”. Tudo isto “vem do Maligno”.

Mais uma vez, o Papa exorta a perder a memória histórica e recorda a imagem que lhe é cara do “poliedro”, da família humana e da casa comum, tornada resplandecente pelos valores universais desenvolvidos a partir das raízes de cada povo. “Lembremo-nos disso: global, mas não universal”, diz ele. Hoje, quando busca-se “padronizar e subjugar tudo”, é preciso ter cuidado. Cuidado com os “crocodilos” que se camuflam, chema na margem “pulando como cangurus” e depois mordem.

O drama do crime organizado

Por fim, o Papa Bergoglio centra-se em um tema que o preocupa muito: as muitas formas de criminalidade organizada que “crescem nas terras aradas pela pobreza e pela exclusão”: “Tráfico de drogas, prostituição infantil, tráfico de seres humanos, violência brutal do bairro”. Este drama deve ser enfrentado: "Sei que vocês não são polícias, sei que não podem enfrentar diretamente os grupos criminosos", diz aos Movimentos Populares, mas "continuem a combater a economia criminosa com a economia popular. Não desistam... Nenhuma pessoa, especialmente nenhuma criança, pode ser uma mercadoria nas mãos dos traficantes de morte, os mesmos que depois lavam o dinheiro sangrento e jantam como respeitáveis ​​cavalheiros nos melhores restaurantes."

Apostas on-line e crimes virtuais

Neste contexto trágico, o Papa não esquece o flagelo das apostas on-line: «É uma dependência... Significa colocar as mãos nos bolsos das pessoas, sobretudo dos trabalhadores e dos pobres. Isso destrói famílias inteiras." Na verdade, existem doenças mentais, desespero e suicídios causados ​​por “ter um cassino em cada casa pelo celular”.

O Pontífice faz, portanto, um apelo aos empresários deinformática e inteligência artificial: “Parem com a arrogância de acreditar que estão acima da lei”. E também, acrescenta, previnam a disseminação do ódio, da violência, das fakenews, do racismo e impeçam que as redes sejam utilizadas para difundir pornografia infantil ou outros crimes."

Salário Básico Universal 

No final do seu longo discurso, o Papa relança a proposta de um Salário Básico Universal para que “ninguém fique excluído dos bens primários necessários à subsistência”. Depois, expressa um desejo pessoal: "Como gostaria que as novas gerações encontrassem um mundo muito melhor do que aquele que recebemos!". Isto é, um mundo que não seja ensanguentado pelas guerras e pela violência, ferido pelas desigualdades, devastado pela pilhagem da natureza, pelos modos de comunicação desumanizados, com poucas utopias e enormes ameaças. A realidade diz o contrário, mas devemos sempre ter esperança. “A esperança – garante Francisco – é a virtude mais débil, mas não desilude”. Nunca!

 

- Papa escreve aos cardeais: objetivo déficit zero, reduzir os custos e evitar o supérfluo

Francisco escreve uma carta ao Colégio Cardinalício na qual pede "um esforço adicional" para implementar a reforma econômica da Santa Sé: "Selecionar bem as prioridades, favorecendo a colaboração recíproca e sinergias. Cada Instituição deve se empenhar em obter recursos externos para a sua missão". Às Entidades que registram um superávit, o Pontífice pede que "contribuam para cobrir o déficit geral", no modelo de solidariedade das boas famílias.

"Déficit zero": não um objetivo teórico, mas uma meta "alcançável". Portanto, obter "recursos externos" para a missão de cada setor e Dicastério, implementar "uma gestão transparente e responsável a serviço da Igreja", evitar o supérfluo, selecionar as prioridades, contribuir – quem registra um superávit – para cobrir o déficit geral, gerir os recursos econômicos com rigor e seriedade, seguindo o modelo das "boas famílias". O Papa envia uma carta-apelo ao Colégio Cardinalício, indicando os caminhos para implementar ainda mais e melhor a reforma econômica, que foi um dos principais temas das Congregações gerais antes do Conclave, assim como um dos objetivos do "processo de transformação" iniciado com a reforma da Cúria Romana, por meio da constituição apostólica Predicate Evangelium.

Dedicação e esforço

No documento, assinado em 16 de setembro, mas divulgado nesta sexta-feira 20/09, Francisco escreve que reconhece a "dedicação" e os "esforços" de mulheres e homens empenhados em "se adaptar" a este movimento de renovação, que, "apesar das dificuldades e, às vezes, daquela tentação de imobilismo e rigidez diante da mudança", trouxe muitos resultados ao longo desses anos:

“Agradeço-lhes pela ajuda que deram e continuam a dar.”

Rigor e seriedade

Ao mesmo tempo, o Papa reconhece que as demandas por reforma solicitadas no passado por muitos membros do Colégio Cardinalício foram "visionárias" e permitiram "tomar maior consciência de que os recursos econômicos a serviço da missão são limitados e devem ser geridos com rigor e seriedade, para que os esforços de quantos contribuíram para o patrimônio da Santa Sé não sejam desperdiçados".

Obter recursos externos

Por essas razões, o Papa Francisco indica como "necessário" neste momento "um esforço adicional por parte de todos, para que um 'déficit zero' não seja apenas um objetivo teórico, mas uma meta efetivamente alcançável":

“A reforma lançou as bases para a implementação de políticas éticas que permitam melhorar o rendimento econômico do patrimônio existente. A isso se junta a necessidade de que cada Instituição se empenhe em obter recursos externos para sua missão, sendo exemplo de uma gestão transparente e responsável a serviço da Igreja.”

Espírito de essencialidade

Naturalmente, trata-se também de reduzir os custos e, nesse sentido, é necessário dar "um exemplo concreto para que nosso serviço seja realizado com espírito de essencialidade, evitando o supérfluo e selecionando bem nossas prioridades, favorecendo a colaboração recíproca e as sinergias":

"Devemos estar conscientes de que hoje estamos diante de decisões estratégicas a serem tomadas com grande responsabilidade, pois somos chamados a garantir o futuro da Missão."

O modelo das boas famílias

A "solidariedade das boas famílias" é o modelo a ser seguido, escreve o Pontífice. "Assim como nessas famílias, aqueles que estão em uma boa situação econômica ajudam os membros mais necessitados, as Entidades que registram um superávit devem contribuir para cobrir o déficit geral." Isso significa "cuidar do bem da nossa comunidade, agindo com generosidade", como "pressuposto indispensável para pedir generosidade também externamente".

Coragem e espírito de serviço

Por fim, um convite pessoal: “Acolham esta mensagem com coragem, espírito de serviço e apoiem com convicção, lealdade e generosidade as reformas em curso, contribuindo de forma propositiva com seus conhecimentos e experiências para o processo de reforma”. “A colaboração autêntica – lê-se ao final da carta – e a cooperação em direção a um único objetivo, o bem da Igreja, são requisitos essenciais do nosso serviço.”

Fonte: Vatican News