O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira (21) que o Brasil “voltou à normalidade” e que os Três Poderes, “com autonomia, saberão se respeitar”.
A declaração foi dada durante o lançamento do Pacto pela Transformação Ecológica. O acordo foi firmado pelos presidentes da República, da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal (STF).
“A minha alegria aqui hoje é dizer para vocês que eu estou plenamente satisfeito. Porque juntar os Três Poderes, agora, demonstra com muita clareza, com muita clareza mesmo, que o Brasil voltou à normalidade civilizatória e que os Poderes, com autonomia, saberão se respeitar e cada um cumprir o seu dever”, disse o presidente.
Lula também disse que não tem pressa para o fim de seu terceiro mandato. “Não faz muito tempo que tomamos posse neste novo mandato, apenas um ano e oito meses. Quem tem pressa para que o tempo passe não sou eu. Estou muito tranquilo aqui”, afirmou.
A agenda focada na pauta ambiental ocorre um dia após os representantes dos Três Poderes anunciarem um acordo sobre a suspensão de emendas parlamentares, tema que gerou embates nas últimas semanas.
Segundo o Palácio do Planalto, o Pacto pela Transformação Ecológica marca a primeira vez em que os Três Poderes se unem pelas agendas ambiental e climática. De acordo com o governo federal, o objetivo do acordo é fortalecer a posição do Brasil como protagonista nas áreas de segurança ambiental, climática e alimentar.
Cada Poder voltará suas atividades para um eixo específico de atuação. No Legislativo, o foco será a aprovação de leis relacionadas ao marco legal do mercado do carbono. No Judiciário, o objetivo será agilizar processos ambientais e climáticos. No Executivo, a meta é a ampliação do financiamento para projetos sustentáveis e a integração de banco de dados.
Além dos presidentes da República, da Câmara e do Senado e do STF, participaram do evento as ministras Sonia Guajajara (Povos Originários) e Marina Silva (Meio Ambiente), além do ministro Fernando Haddad (Fazenda).
Conforme mostrou a CNN, nos bastidores, a solenidade é vista como um sinal de que os três Poderes não estão em crise institucional, mas dispostos a encontrar soluções consensuais para determinados temas.
Na terça-feira (20), o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, disse que os Três Poderes chegaram a um “consenso possível” sobre a necessidade de transparência nas emendas parlamentares e pela manutenção de um papel “importante” do Congresso em alocar recursos do orçamento.
A declaração foi feita em entrevista a jornalistas no STF, depois da reunião com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e da Advocacia Geral da União, Jorge Messias.
Em nota conjunta divulgada depois da reunião, STF, Congresso e governo disseram que se firmou um “consenso de que as emendas parlamentares deverão respeitar critérios de transparência, rastreabilidade e correção”.
O acordo fixou regras para a execução das emendas. Todas ficam mantidas, com novas regras que garantam rastreio dos recursos e transparência no gasto.
As decisões do STF que suspenderam a execução de emendas impositivas (obrigatórias), como as individuais e de bancada, seguem válidas até nova determinação do relator, ministro Flávio Dino.
- Lula, Barroso, Pacheco e Lira assinam pacto para adotar medidas de 'transformação ecológica'
Os chefes dos Três Poderes firmaram nesta quarta-feira (21) um pacto para adotar medidas que incentivem a transição ecológica no país.
O documento foi assinado em cerimônia no Palácio do Planalto pelos representantes do Executivo, Judiciário e Legislativo:
A cerimônia com os presidentes ocorreu no dia seguinte ao acordo entre os poderes para estabelecer critérios de transparência às emendas parlamentares — tema que motiva desde 2019 atritos entre Planalto, Congresso e STF.
Em discurso no lançamento do pacto, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva(Rede), afirmou que a iniciativa dos Três Poderes reflete a necessidade de cooperação para uma nova forma de pensar e executar políticas de desenvolvimento.
De acordo com ela, ao redefinir bases econômicas, culturais e ecológicas, o Brasil está alinhando o progresso social e o bem-estar para toda a sociedade.
Já o ministro Luís Roberto Barroso afirmou que o Brasil tem condições de liderar o processo de transição ecológica e citou ações que serão adotadas pelo Judiciário com a adoção do pacto.
"Vamos priorizar ações ambientais, fundiárias e desenvolver grande programa de descarbonização do Judiciário", pontuou Barroso.
O ministro afirmou também que é preciso "superar o negacionismo", porque "ainda tem muita gente que não acredita" no "problema real" que afeta a humanidade.
Ele citou inundações no Rio Grande do Sul, seca na Amazônia e queimadas no Pantanal como exemplos de que as mudanças climáticas já impactam o país.
"Este não é um problema teórico e para as futuras gerações. É um problema que nos afeta aqui e agora", declarou o ministro.
Lira, por sua vez, destacou que, ao longo deste biênio, a Câmara vem dando prioridade às matérias da chamada "pauta verde".
Nesse contexto, ele destacou, entre outras propostas, a emenda constitucional sobre o aumento da competitividade dos biocombustíveis e o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Programa Mover).
"Esta agenda fortalece o Brasil também para liderar os debates internacionais, em cujo contexto devemos continuar a lutar contra o protecionismo comercial disfarçado e a imposição de metas desequilibradas para países em desenvolvimento", afirmou Lira.
"Defender o meio ambiente dentro dessa visão do desenvolvimento sustentável é buscar que o nosso país influencie as novas tendências da produção e comércio globais", prosseguiu o presidente da Câmara.
O presidente do Senado reforçou esse entendimento. Falou sobre a importância do consenso e mencionou que o equilíbrio democrático passa por "atuação harmônica e colaborativa" entre os poderes.
Rodrigo Pacheco lembrou que o Brasil é um ator tradicional nas discussões ambientais e climáticas no mundo.
"Considero que nos compete a formulação de uma cultura institucional que sirva de modelo aos demais países", disse Pacheco.
Lula declarou que o pacto é um "testemunho da força e da maturidade" da democracia brasileira, que busca uma política de Estado "perene e inclusiva".
"O pacto simboliza a determinação de cada um de nós no enfrentamento dos maiores desafios do nosso tempo com a profundidade que a crise climática exige", afirmou.
Lula também citou as chuvas no Rio Grande do Sul e a seca na Amazônia como "alertas" da natureza para que sejam adotadas ações de preservação ambiental e transição energética.
O presidente afirmou ainda que o Brasil está preparado para assumir o "protagonismo global" na área e lembrou que no próximo ano o país sediará, em Belém (PA), a edição da conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, a COP 30.
Lula agradeceu Barroso, Pacheco e Lira pelo pacto e frisou a importância da conciliação.
Ele também afirmou que a pauta climática não pode ser considerada "custo", porque incentiva a preservação ambiental e "gera oportunidade de emprego e renda".
Segundo Lula, o desejo do governo é que as as decisões tomadas no país "reverberem em todo o território e também no exterior".
"Este é um país que voltou a ter projeto de nação e plano de futuro", afirmou Lula. "O Brasil voltou à normalidade civilizatória", completou o presidente.
Segundo o governo, o pacto marca a primeira vez que os Três Poderes acertam que trabalharão juntos para implementar uma agenda ambiental e climática.
A iniciativa busca fortalecer também estruturas para lidar com catástrofes climáticas.
O documento definiu objetivos para atuação conjunta:
O pacto prevê a criação de um comitê gestor conjunto para monitorar o avanço das medidas, entre as quais:
Os Três Poderes também pretendem integrar bancos de dados imobiliários, ambientais, cadastrais e fiscais para garantir segurança jurídica sobre a titularidade de terras públicas e privadas.
Conforme o acordo, o Congresso priorizará projetos de lei como a aprovação do marco legal do mercado de carbono, da produção de energia eólica no mar e dos biocombustíveis.
Os poderes também buscam regulamentar e ter controle efetivo da cadeia do ouro a fim de promover o rastreamento do produto e coibir o garimpo ilegal.
O Judiciário se comprometeu a agilizar demandas judiciais que tratam de temas ambientais, fundiários e climáticos. Metas e protocolos serão definidos no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
O governo federal assumiu o compromisso de ampliar o financiamento e reduzir o custo do crédito para projetos sustentáveis.
Fonte: g1 - CNN