Bianca Fraccalvieri – Vatican News
Tecelões de reconciliação: é o que Jesus espera de nós, disse o Papa Francisco na homilia da missa celebrada na Basílica de São Pedro, no Domingo da Divina Misericórdia. A cerimônia foi presidida pelo presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Dom Rino Fisichella.
O Pontífice comentou o Evangelho deste II Domingo da Páscoa, quando Jesus aparece aos discípulos e mostra as suas chagas. De modo especial, se deteve sobre a saudação “A paz esteja convosco!”, que aparece três vezes neste episódio.
Trata-se da saudação do Ressuscitado que vem ao encontro de todas as fraquezas e erros humanos, explicou o Santo Padre. Cada exclamação de Jesus corresponde a uma ação da misericórdia divina: dá alegria; desperta o perdão; e consola durante o cansaço.
Na primeira vez, os discípulos estavam a portas fechadas, poderiam ter se sentido envergonhados por terem abandonado Jesus no momento crucial da sua vida. Em vez disso, se alegraram ao vê-Lo.
Eles são distraídos de si mesmos e de seus fracassos e atraídos pelo olhar do Senhor, onde não há severidade, mas misericórdia. Cristo não se queixa do passado, mas transmite-lhes a benevolência de sempre.
“Esta é a alegria de Jesus, a alegria que também nós sentimos ao experimentar o seu perdão”, disse ainda o Papa. A experiência dos discípulos pode ser também a nossa, a desolação após uma queda, um pecado ou um fracasso. Mas ali mesmo o Senhor tudo faz para nos dar a sua paz através de uma Confissão, das palavras de uma pessoa que se aproxima, de uma consolação interior do Espírito, de um acontecimento inesperado e surpreendente.
“Sim, a alegria de Deus é uma alegria que nasce do perdão e que traz paz, uma alegria que eleva sem humilhar. (...) Porque nada pode ser como antes para quem experimenta a alegria de Deus!”
Mas ao receber a misericórdia divina, todos os fiéis tornam-se por sua vez dispensadores da mesma misericórdia que receberam. Jesus diz: “A quem perdoardes os pecados, lhes serão perdoados”.
“E hoje e sempre na Igreja, o perdão deve chegar-nos assim, através da humilde bondade de um confessor misericordioso, que sabe que não é detentor de algum poder, mas canal de misericórdia, que derrama sobre os outros o perdão do qual ele primeiro se beneficiou.”
A este ponto, o Pontífice se dirigiu diretamente aos centenas de Missionários da Misericórdia, que participam em Roma de seu II Encontro, pedindo que não "torturem" os fiéis na Confissão. "Deus perdoa tudo: não se deve fechar as portas."
“Sintamo-nos chamados a isso”, exortou Francisco, convidando cada fiel a se perguntar se é um “tecelão de reconciliação” na comunidade, na família e no trabalho.
“Jesus procura em nós testemunhas para o mundo destas suas palavras: ‘A paz esteja convosco!’”
Por fim, a misericórdia divina consola durante o cansaço. A este ponto, o Papa comentou a incredulidade de Tomé, que não escandaliza Jesus; pelo contrário, o trata com benevolência, que o leva a exclamar: “Meu Senhor e meu Deus!”.
“É uma bela invocação”, afirmou o Papa, que pode ser repetida ao longo do dia, especialmente quando experimentamos dúvidas e trevas. Aliás, em Tomé está presente a história de cada fiel quando vive momentos de crise.
Nessas situações, recordou o Papa, Jesus não vem triunfante e com provas contundentes, não realiza milagres prodigiosos, mas oferece as suas feridas.
E mais: também faz descobrir as feridas dos irmãos, porque há sempre quem esteja pior. Cuidando das feridas do próximo, renasce em nós uma nova esperança.
“Quando fazemos isso, encontramos Jesus que, com os olhos de quem é provado pela vida, nos olha com misericórdia e nos repete: ‘A paz esteja convosco!’”
- Regina Coeli: É melhor uma fé imperfeita, mas humilde, do que uma fé forte, mas presunçosa
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
Após celebrar a missa na Basílica Vaticana neste Domingo da Misericórdia, o Papa Francisco rezou a oração do Regina Coeli.
Aos milhares de fiéis e peregrinos na Praça São Pedro, o Pontífice comentou o Evangelho deste último dia da Oitava de Páscoa, concentrando-se no Apóstolo Tomé, “que representa todos nós”.
Assim como ele, disse o Papa, também nós temos dificuldade em acreditar que Jesus ressuscitou. Mas não devemos nos envergonhar, pois Cristo não busca cristãos perfeitos, que ostentam uma fé segura sem jamais duvidar. "Tenho medo quando vejo cristãos ou associações de cristãos que se creem perfeitos."
A “aventura da fé”, como a definiu Francisco, é feita de luzes e sombras, alternando momentos de consolação e entusiasmo, com cansaços e perdições.
Mas não devemos temer as crises, "não são um pecado", afirma o Papa, pois ajudam a nos reconhecer necessitados, nos tornam humildes, reavivam a necessidade de Deus.
“É melhor uma fé imperfeita, mas humilde, que sempre regressa a Jesus, do que uma fé forte, mas presunçosa, que nos torna orgulhosos e arrogantes.”
Diante das incertezas de Tomé, observou Francisco, a atitude de Jesus é única: Ele “pôs-se no meio”.
“Jesus não se rende, não se cansa de nós, não se assusta com nossas crises e fraquezas. Ele sempre volta.”
Jesus volta quando as portas estão fechadas, quando duvidamos, e o faz não com sinais poderosos, mas com as suas chagas.
Ele espera somente que O chamemos, o invoquemos ou, como fez Tomé, protestemos, apresentando nossas necessidades e incredulidades. Ele volta porque é paciente e misericordioso, vem para “abrir os cenáculos dos nossos medos”.
Francisco concluiu convidando os fiéis a lembrarem da última vez que viveram um momento de crise e se fecharam em seus problemas, deixando Jesus de fora. E a prometeram que, da próxima vez, irão em busca de Jesus.
“Assim, também nos tornaremos capazes de compaixão, de aproximar sem rigidez e sem preconceitos as chagas dos outros. Que Nossa Senhora, Mãe de misericórdia, nos acompanhe no caminho de fé e de amor.”
- Papa renova apelo por trégua na Ucrânia: som das armas prevalece sobre os sinos da Ressurreição
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
Após a oração do Regina Coeli neste II Domingo de Páscoa, o Papa Francisco renovou seu apelo por uma trégua pascal na Ucrânia.
Ao saudar as várias Igrejas orientais, católicas e ortodoxas, que celebram hoje a Páscoa de acordo com o calendário juliano, o Pontífice afirmou:
“Seja Ele a doar a paz, ultrajada pela barbárie da guerra. Justamente hoje recorrem dois meses desde o início desta guerra: ao invés de parar, a guerra se agravou.”
Nesses dias que são os mais santos e solenes para todos os cristãos, prosseguiu o Papa, é triste que se sinta ainda mais o tilintar das armas, ao invés do som dos sinos que anunciam a ressurreição. E é triste que as armas estejam ocupando sempre mais o lugar da palavra.
“Renovo o apelo a uma trégua pascal, sinal mínimo e tangível de uma vontade de paz. Detenha-se o ataque para que se possa ir ao encontro dos sofrimentos da população exausta. Detenha-se, obedecendo às palavras do Ressuscitado, que no dia de Páscoa repete aos seus discípulos: «A paz esteja convosco!»”
Dirigindo-se aos fiéis, Francisco pediu que intensifiquem a oração pela paz e que tenha a coragem de dizer e manifestar que a paz é possível. Aos líderes políticos, exortou que ouçam a voz do povo, que quer a paz e não uma escalada do conflito.
Outro pedido de paz foi dirigido a Camarões. Os bispos realizam este domingo uma peregrinação com seus fiéis ao Santuário mariano de Marianberg, para consagrar novamente o país à Mãe de Deus e colocá-lo sob a sua proteção.
"Rezemos em particular pelo regresso da paz ao país, que há mais de cinco anos, em várias regiões, foi dilacerado pelas violências", suplicou o Papa.
"Elevemos também nós a nossa súplica, junto aos irmãos e irmãs de Camarões, para que Deus, por intercessão da Virgem Maria, conceda em breve uma paz verdadeira e duradoura a este amado país."
Fonte: Vatican News