Quando leio notícias como essa, vejo que infelizmente se repetem em vários lugares do mundo e pelos mais diversos motivos, então volta à minha memória a parábola de Jesus que encontramos no evangelho de Lucas e que a Liturgia nos oferece neste Quarto Domingo da Quaresma. É a parábola dos dois filhos e do pai misericordioso. Fico a imaginar como teria sido diferente a situação se o pai da parábola tivesse negado a parte da herança ao filho mais novo e, por isso, este o tivesse matado. O que teria acontecido depois? Como teria reagido o outro irmão? Talvez os dois podiam ter planejado juntos o assassinato, um para fugir e esbanjar o dinheiro e o outro para, finalmente, assar um cabrito e fazer festa com os seus amigos. Pura imaginação! Nada disso nos é apresentado na parábola de Jesus. No entanto chama atenção o descontentamento dos dois filhos: a casa do pai é uma prisão para ambos. O mais novo sonha com as aventuras da liberdade que o dinheiro do pai lhe permitiria, mas somente se for bem longe do controle paterno. O mais velho suporta a submissão ao pai na espera de ser, um dia, o dono de tudo. Nesse mal-estar, os dois irmãos se assemelham, por razões diferentes, mas o pai não é amado.No desenvolver da parábola, sabemos que o filho mais novo perde tudo e passa fome. “Caiu em si” e, de cabeça baixa, decide voltar para a casa do pai, ao menos, para ser um entre os empregados dele. Mais uma vez, esse pai nos surpreende. Já havia dividido a herança e agora corre ao encontro do filho, o abraça e manda fazer festa cheio de alegria. Na frente do filho que se declara pecador, o pai manifesta toda a sua bondade: nada de cobranças e castigos, somente beijos. Começam as músicas e as danças. Falta, porém, o outro filho, o mais velho, o obediente. A raiva dele é mais do que compreensível. A volta do irmão mais novo atrapalha os seus planos de poder cultivar no coração, desde que o outro tinha ido embora e ele tinha ficado, o fato, de ser o único herdeiro. Agora, terá que dividir novamente os bens do pai? Não é justo. Para que serviu obedecer? Ele trabalhador, sim, mereceria uma festa com os seus amigos, não o outro que já se divertiu tanto. O pai sai ao encontro do filho mais velho e lhe explica o porquê da festa: o irmão perdido foi encontrado novamente. Falta ainda o abraço de perdão dele. Mas a parábola termina antes disso e cabe a nós refletir sobre o possível desfecho.
Fonte: Diocese de Macapá