Política

Demandas russas deixam negociações nucleares com Irã no limbo





As negociações para retomar o acordo nuclear de 2015 com o Irã enfrentavam a perspectiva de um colapso depois que uma demanda russa de última hora forçou as potências mundiais a pausar as negociações por tempo indeterminado, apesar de terem um texto amplamente concluído.

Os negociadores chegaram à fase final de 11 meses de discussões para restaurar o acordo, que suspendeu as sanções ao Irã em troca de restrições ao seu programa nuclear, há muito visto pelo Ocidente como uma forma de encobrir o desenvolvimento de bombas atômicas.

Mas no sábado passado, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, inesperadamente exigiu garantias abrangentes de que o comércio russo com o Irã não seria afetado pelas sanções impostas a Moscou por sua invasão da Ucrânia -- uma exigência que as potências ocidentais dizem ser inaceitável e Washington insistiu que não concordará.

Um colapso das negociações poderia resultar em Teerã ficando a uma curta distância do desenvolvimento de armas nucleares, uma perspectiva que poderia desencadear uma nova guerra no Oriente Médio. Teerã nega que busca bombas atômicas.

O fracasso em chegar a um acordo também pode levar o Ocidente a impor sanções severas adicionais ao Irã e aumentar ainda mais os preços mundiais do petróleo já pressionados pelo conflito na Ucrânia.

"É necessária uma pausa (nas negociações de Viena), devido a fatores externos", escreveu o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, no Twitter. "Um texto final está essencialmente pronto e sobre a mesa."

Teerã sugeriu na quinta-feira que havia novos obstáculos para retomar o acordo. Washington ressaltou que não tem intenção de acomodar as exigências da Rússia.

 

- Sem terno e de camiseta verde, Zelenski quer sinalizar que guerra na Ucrânia é de todos

Visual do presidente ucraniano é adotado por oficiais do país e entra para a cultura pop

Diversos tons de verde. Quem vê as redes sociais ou os vídeos divulgados por Volodimir Zelenski depois do início da guerra contra a Rússia nota que o presidente ucraniano sempre aparece vestindo uma camiseta justa da cor da mata.

Na maioria das vezes a peça é lisa, mas alguns modelos trazem, do lado esquerdo do peito, a insígnia das Forças Armadas ou um bordado da bandeira da Ucrânia com o número 5.11, marca de uma fabricante de roupas militares.

O verde e suas variações se estendem também para as calças e casacos de moletom com zíper vestidos pelo líder, e tudo fica mais monocromático quando Zelenski aparece em seu gabinete sentado numa poltrona verde detrás de uma mesa repleta de objetos da mesma cor.

Embora ele tenha adotado o marrom nos últimos dias e, em apenas uma ocasião, uma camiseta camuflada, a referência à militarização do país em seu visual é óbvia.

Guerra na Ucrânia

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Ao substituir a formalidade da camisa branca e paletó que trajava antes da guerra e adotar tons de musgo, Zelenski passa a ideia de um presidente combatente, fardado, que se coloca na linha de frente do conflito, afirma Leonardo Trevisan, doutor em ciência política pela USP e professor da ESPM.

O especialista acrescenta que um líder civil vestindo roupas de referência militar simboliza que a guerra é um assunto de todos os ucranianos, não apenas do Exército. Homens com idade entre 18 e 60 anos foram proibidos de deixar a Ucrânia, para pegarem em armas.

A ideia de civis tornados militares por necessidade, sintetizada nesse visual, é também vendida pelo presidente ucraniano como uma ameaça aos russos, segundo Trevisan, que lembra o contraste com os pronunciamentos do líder do país invasor.

"Você não pressupõe que quando Vladimir Putin fala sobre a Rússia ele não esteja de paletó e gravata." A comunicação política do presidente russo é vertical, de cima para baixo, ao passo em que a de seu par ucraniano é horizontal, mais igualitária e afeita às redes sociais —e isso se reflete no guarda-roupas.

O visual a um só tempo austero e despojado de Zelenski foi adotado por outros oficiais do país. Numa foto das negociações em Minsk entre ucranianos e russos dias atrás, para costurar um possível cessar-fogo, três dos quatro membros da delegação de Kiev vestiam verde-oliva, e somente um estava com traje azul e preto.

A única estampa visível era a de uma bandeira ucraniana —e num boné. Do lado oposto da mesa, os cinco negociadores enviados por Moscou usam o clássico terno e gravata adotado por lideranças mundo afora.

Olhando para a história de outros tempos e de outros conflitos, é possível encontrar lideranças que seguiram a mesma lógica. Primeiro-ministro da Inglaterra durante a Segunda Guerra, Winston Churchill se vestia com uniformes militares completos, como o de comodoro da Força Aérea Real, da qual fez parte.

Ele também trajou o vestuário do Exército Britânico, com quem mantinha relação próxima, tendo inclusive posado com soldados para uma foto em cima de um tanque de guerra.

Churchill, aliás, foi modelo para Zelenski também em discursos. Na última terça (8), em emocionada aparição virtual no Parlamento britânico, sob aplausos de pé, ele fez uma citação a uma famosa fala na qual o ex-premiê britânico, naquela mesma Câmara dos Comuns, prometeu lutar até o fim contra a Alemanha nazista em 4 de junho de 1940.

"Não nos renderemos e não perderemos. Lutaremos até o fim, no mar, no ar. Seguiremos lutando por nossa terra, custe o que custar, nos bosques, nos campos, nas costas, nas ruas", disse o líder, que tem sido pintado pelo Ocidente como uma espécie de Churchill do Leste Europeu por sua resistência ao ataque russo em Kiev.

É fato que, na terceira semana da guerra, as cores da bandeira da Ucrânia entraram para a cultura pop, estampando camisetas em desfiles da semana de moda de Paris e de bandas de rock inglesas.

O visual de Zelenski segue o mesmo caminho: camisetas verdes iguais às suas podem ser compradas online por US$ 16, cerca de R$ 80. "Peça perfeita para os amantes da Ucrânia. Um bom presente para os ucranianos", diz a descrição.

Fonte: Agência Brasil - Folha