Sergio Centofanti - Vatican News
Alguns não acreditavam. Uma guerra na Europa no terceiro milênio: improvável, quase impossível. Agora já há muitos mortos. Teme-se um banho de sangue. As habituais vítimas inocentes e indefesas, que gostariam de viver em paz com os outros, com todos, mesmo que tivessem uma bandeira diferente. Os poderosos não se importam com os fracos que sucumbem. Há muitos Herodes cínicos em circulação. O massacre dos inocentes não cessa. Depois dos sofrimentos causados pela pandemia, vem o luto de um conflito que não sabemos como poderá degenerar.
Alguns têm evocado o risco de uma terceira guerra mundial. Continuamos acreditando que isso é impossível. Continuamos pensando que a humanidade não será tão louca o suficiente para cair novamente numa guerra. Porque a guerra é uma loucura, é insensata. É demoníaca. E o diabo quer destruir a vida, quer destruir o mundo. Hoje há armas letais suficientes para atingir seu objetivo. Não tomemos a paz no mundo como algo dado por certo.
O Papa Francisco, repleto de angústia e preocupação, pede oração e jejum pela paz. A fraqueza da oração contra o poder das armas. Quem vai querer acreditar nisso? Quem oporá a ascese mansa do jejum contra a força dos canhões? A oração nos une ao Pai e nos faz irmãos, o jejum nos tira algo para compartilhá-lo com os outros: mesmo que o outro seja um inimigo.
A oração é a verdadeira revolução que muda o mundo porque muda os corações. Temos poucos recursos contra as guerras porque, sem eximir-nos de qualquer responsabilidade, o diabo as fomenta, com ódio, astúcia, maldade. Jesus diz: "Este tipo de demônios não pode ser expulso de nenhuma maneira, a não ser através da oração".
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- Ataque militar russo à Ucrânia. O mundo em apreensão
Silvonei José - Vatican News
O que se temia há dias se verificou e o mundo está testemunhando uma nova guerra. Durante a noite, a Rússia lançou operações militares em território ucraniano para proteger o Donbass. Foi o próprio presidente Putin quem anunciou a invasão: explosões e sirenes de alarme começaram a ser ouvidas ao amanhecer, também na capital, Kiev, onde se registraram colunas de carros civis em fuga, especialmente de áreas periféricas. O caos está por todo o país, não apenas no sul e sudeste, mas também nas fronteiras com Belarus e Polônia: em Odessa, Kharvik, Mariupol e Lviv. O ataque anunciado por Putin parece, portanto, ser poderoso e em grande escala. Em seu anúncio, o presidente russo, por outro lado, usou termos precisos como "desnazificar" e "desmilitarizar" a Ucrânia, ou seja, torná-la inofensiva: "a expansão da OTAN e seu uso do território ucraniano são inaceitáveis", disse. Qualquer um que tente criar obstáculos e interferir conosco", afirmou, "sabe que a Rússia responderá com consequências sem precedentes". Estamos preparados para tudo. E na ONU, Moscou deixou claro que o alvo do ataque é "a junta no poder em Kiev". Pouco antes, ele havia dito que estava respondendo a um pedido de ajuda de líderes separatistas que, nas últimas horas, afirmaram ter conquistado dois locais no Donbass. A notícia dever ser ainda verificada, assim como a das primeiras mortes.
A presidência ucraniana fala de uma "guerra de agressão", e está pedindo ajuda ao mundo, em termos de sanções e isolamento da Rússia, assistência financeira, militar e humanitária. Enquanto isso, o governo está tentando proteger a população através da imposição da lei marcial. "Detenham a guerra e Putin", escreveu o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky no seu Twitter. Têm-se notícias também da destruição da defesa antiaérea de Kiev. E da própria presidência a difusão das primeiras imagens da guerra, uma explosão na capital com uma densa nuvem de fumaça, perto de um parque. A operação russa", adverte Zelensky, "visa destruir o estado ucraniano, tomar seu território pela força e estabelecer uma ocupação".
Reações de condenação e planejamento de uma resposta unida por parte do mundo ocidental são registradas nas primeiras horas após a ação militar russa. Os Estados Unidos e o presidente Biden falam de uma guerra premeditada e injustificada que trará "perdas catastróficas de vidas e sofrimento". O líder norte-americano chamou o presidente Zelensky e anunciou novas duras sanções contra Moscou junto com os aliados. A OTAN, que convocou embaixadores com o Secretário-Geral Stoltenberg, disse que faria "o que fosse preciso para proteger seus aliados". Na reunião do Conselho de Segurança da ONU, o Secretário Geral Guterres se manifestou: "este é o momento mais triste do meu mandato", disse ele, "o presidente Putin, em nome da humanidade, retire as tropas russas. Este conflito deve parar agora, esta guerra não faz sentido e viola os princípios da Carta da ONU".
A Europa está ao lado de Kiev: os representantes permanentes dos Estados membros se reunirão nesta manhã em Bruxelas para discutir a situação da segurança. "Nessas horas escuras, nossos pensamentos estão com a Ucrânia e as mulheres, homens e crianças inocentes que enfrentam esse ataque não provocado e temem por suas vidas. Responsabilizaremos o Kremlin", disse a presidente da Comissão da UE, Von der Leyen. Putin escolheu o caminho do banho de sangue e da destruição', atacou o primeiro-ministro britânico Johnson, que disse estar horrorizado com os acontecimentos, 'a Rússia escolheu o banho de sangue para um ataque não provocado'. O Comitê de Emergência Cobra foi convocado de emergência em Londres nesta manhã.
Enquanto isso, a população espera e tenta se proteger da melhor maneira possível. Aos microfone de Jean Charles Poutzulu Padre Radko Vaolodymyr de Lviv:
É a guerra, ouvimos notícias de bombardeios de numerosos vilarejos e até de grandes cidades. Nosso Patriarca chamou todos nós nesta manhã para nos convidar para a oração. Ainda estou na cidade de Lviv, a cerca de 60 quilômetros da fronteira com a Polônia. Posso testemunhar que durante alguns minutos as sirenes foram ouvidas. Não vamos ceder ao pânico. A ativação das sirenes significa que temos que ser cautelosos e nos esconder. À meia-noite, hora ucraniana, começou o estado de emergência, e esta manhã o presidente declarou o estado militar, portanto, a guerra aberta começou. Precisamos da oração para nos ajudar a não ceder ao pânico e para manter a calma, na esperança de que possamos vencer este mal.
Outras reações à operação militar russa na Ucrânia
- França -
"A Rússia fez a escolha da guerra. A França condena nos termos mais fortes o lançamento dessas operações", disse o embaixador francês na ONU, Nicolas de Rivière.
Esta decisão, "no preciso momento em que este Conselho está reunido, ilustra o desprezo que a Rússia tem pelo direito internacional e pelas Nações Unidas", acrescentou ele.
"Exortamos a Rússia a respeitar o direito humanitário internacional em todas as circunstâncias, pedimos a proteção e o respeito de todos os civis, incluindo pessoas vulneráveis, mulheres e crianças, e pessoal humanitário", afirmou ainda.
- Alemanha -
A operação militar russa é "uma violação flagrante" do direito internacional, disse o chanceler alemão Olaf Scholz.
- Reino Unido -
O primeiro ministro britânico Boris Johnson condenou os "horríveis acontecimentos na Ucrânia", dizendo que o presidente russo Vladimir Putin "escolheu o caminho do derramamento de sangue e da destruição ao lançar este ataque não provocado".
- OTAN -
O Secretário Geral da OTAN, Jens Stoltenberg, condenou o "ataque imprudente e não provocado" da Rússia à Ucrânia, advertindo que isso coloca "inúmeras" vidas em risco.
"Condeno veementemente o ataque imprudente e sem provocação da Rússia à Ucrânia, que coloca em risco inúmeras vidas civis. Mais uma vez, apesar de nossas repetidas advertências e os esforços incansáveis da diplomacia, a Rússia escolheu o caminho da agressão contra um país soberano e independente", disse o Sr. Stoltenberg em uma declaração.
"Os Aliados da OTAN se reunirão para enfrentar as conseqUências das ações agressivas da Rússia. Estamos com o povo ucraniano neste momento terrível. A OTAN fará o que for preciso para proteger e defender os aliados", acrescentou ele.
- Itália -
O primeiro-ministro italiano Mario Draghi chamou o ataque da Rússia à Ucrânia de "injustificado e injustificável" e disse que a UE e a OTAN estavam trabalhando em uma resposta imediata.
- Japão -
O ataque russo à Ucrânia "abala as bases da ordem internacional", disse o primeiro-ministro japonês Fumion Kishida.
- Mensagem do papa Francisco para a Quaresma de 2022
Vaticano, 24 fev. 22 / 09:09 am (ACI).- A Santa Sé publicou hoje, 24 de fevereiro, a mensagem do papa Francisco para a Quaresma de 2022 com o tema: “Não nos cansemos de fazer o bem, porque, a seu tempo, colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos”.
Em sua mensagem, o papa lembra que a Quaresma “é um tempo favorável de renovação pessoal e comunitária que nos conduz à Páscoa de Jesus Cristo morto e ressuscitado” e animou a refletir sobre o tema da mensagem que se baseia em uma exortação de são Paulo aos Gálatas.
“Não nos cansemos de rezar. Jesus ensinou que é necessário «orar sempre, sem desfalecer» (Lc 18, 1). Precisamos rezar, porque necessitamos de Deus. A ilusão de nos bastar a nós mesmos é perigosa. Se a pandemia nos fez sentir de perto a nossa fragilidade pessoal e social, permita-nos esta Quaresma experimentar o conforto da fé em Deus, sem a qual não poderemos subsistir (cf. Is 7, 9). No meio das tempestades da história, encontramo-nos todos no mesmo barco, pelo que ninguém se salva sozinho; mas sobretudo ninguém se salva sem Deus, porque só o mistério pascal de Jesus Cristo nos dá a vitória sobre as vagas tenebrosas da morte”, disse o papa.
A seguir, a mensagem completa do papa Francisco:
«Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos» (Gal 6, 9-10a).
Queridos irmãos e irmãs!
A Quaresma é um tempo favorável de renovação pessoal e comunitária que nos conduz à Páscoa de Jesus Cristo morto e ressuscitado. Aproveitemos o caminho quaresmal de 2022 para refletir sobre a exortação de São Paulo aos Gálatas: «Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo (kairós), pratiquemos o bem para com todos» (Gal 6, 9-10a).
1. Sementeira e colheita
Neste trecho, o Apóstolo evoca a sementeira e a colheita, uma imagem que Jesus muito prezava (cf. Mt 13). São Paulo fala-nos dum kairós: um tempo propício para semear o bem tendo em vista uma colheita. Qual poderá ser para nós este tempo favorável? Certamente é a Quaresma, mas é-o também a nossa inteira existência terrena, de que a Quaresma constitui de certa forma uma imagem [1]. Muitas vezes, na nossa vida, prevalecem a ganância e a soberba, o anseio de possuir, acumular e consumir, como se vê no homem insensato da parábola evangélica, que considerava assegurada e feliz a sua vida pela grande colheita acumulada nos seus celeiros (cf. Lc 12, 16-21). A Quaresma convida-nos à conversão, a mudar mentalidade, de tal modo que a vida encontre a sua verdade e beleza menos no possuir do que no doar, menos no acumular do que no semear o bem e partilhá-lo.
O primeiro agricultor é o próprio Deus, que generosamente «continua a espalhar sementes de bem na humanidade» (Enc. Fratelli tutti, 54). Durante a Quaresma, somos chamados a responder ao dom de Deus, acolhendo a sua Palavra «viva e eficaz» (Heb 4, 12). A escuta assídua da Palavra de Deus faz maturar uma pronta docilidade à sua ação (cf. Tg 1, 19.21), que torna fecunda a nossa vida. E se isto já é motivo para nos alegrarmos, maior motivo ainda nos vem da chamada para sermos «cooperadores de Deus» (1 Cor 3, 9), aproveitando o tempo presente (cf. Ef 5, 16) para semearmos, também nós, praticando o bem. Esta chamada para semear o bem deve ser vista, não como um peso, mas como uma graça pela qual o Criador nos quer ativamente unidos à sua fecunda magnanimidade.
E a colheita? Porventura não se faz toda a sementeira a pensar na colheita? Certamente; o laço estreito entre a sementeira e a colheita é reafirmado pelo próprio São Paulo, quando escreve: «Quem pouco semeia, também pouco há de colher; mas quem semeia com generosidade, com generosidade também colherá» (2 Cor 9, 6). Mas de que colheita se trata? Um primeiro fruto do bem semeado, temo-lo em nós mesmos e nas nossas relações diárias, incluindo os gestos mais insignificantes de bondade. Em Deus, nenhum ato de amor, por mais pequeno que seja, e nenhuma das nossas «generosas fadigas» se perde (cf. Exort. Evangelii gaudium, 279). Tal como a árvore se reconhece pelos frutos (cf. Mt 7, 16.20), assim também a vida repleta de obras boas é luminosa (cf. Mt 5, 14-16) e difunde pelo mundo o perfume de Cristo (cf. 2 Cor 2, 15). Servir a Deus, livres do pecado, faz maturar frutos de santificação para a salvação de todos (cf. Rm 6, 22).
Na realidade, só nos é concedido ver uma pequena parte do fruto daquilo que semeamos, pois, segundo o dito evangélico, «um é o que semeia e outro o que ceifa» (Jo 4, 37). É precisamente semeando para o bem do próximo que participamos na magnanimidade de Deus: constitui «grande nobreza ser capaz de desencadear processos cujos frutos serão colhidos por outros, com a esperança colocada na força secreta do bem que se semeia» (Enc. Fratelli tutti, 196). Semear o bem para os outros liberta-nos das lógicas mesquinhas do lucro pessoal e confere à nossa atividade a respiração ampla da gratuidade, inserindo-nos no horizonte maravilhoso dos desígnios benfazejos de Deus.
A Palavra de Deus alarga e eleva ainda mais a nossa perspetiva, anunciando-nos que a colheita mais autêntica é a escatológica, a do último dia, do dia sem ocaso. O fruto perfeito da nossa vida e das nossas ações é o «fruto em ordem à vida eterna» (Jo 4, 36), que será o nosso «tesouro no céu» (Lc 18, 22; cf. 12, 33). O próprio Jesus, para exprimir o mistério da sua morte e ressurreição, usa a imagem da semente que morre na terra e frutifica (cf. Jo 12, 24); e São Paulo retoma-a para falar da ressurreição do nosso corpo: «semeado corruptível, o corpo é ressuscitado incorruptível; semeado na desonra, é ressuscitado na glória; semeado na fraqueza, é ressuscitado cheio de força; semeado corpo terreno, é ressuscitado corpo espiritual» (1 Cor 15, 42-44). Esta esperança é a grande luz que Cristo ressuscitado traz ao mundo: «Se nós temos esperança em Cristo apenas para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram» (1 Cor 15, 19-20), para que quantos estiverem intimamente unidos a Ele no amor, «por uma morte idêntica à Sua» (Rm 6, 5), também estejam unidos à sua ressurreição para a vida eterna (cf. Jo 5, 29): «então os justos resplandecerão como o sol, no reino do seu Pai» (Mt 13, 43).
2. «Não nos cansemos de fazer o bem»
A ressurreição de Cristo anima as esperanças terrenas com a «grande esperança» da vida eterna e introduz, já no tempo presente, o germe da salvação (cf. Bento XVI, Spe salvi, 3; 7). Perante a amarga desilusão por tantos sonhos desfeitos, a inquietação com os desafios a enfrentar, o desconsolo pela pobreza de meios à disposição, a tentação é fechar-se num egoísmo individualista e, à vista dos sofrimentos alheios, refugiar-se na indiferença. Com efeito, mesmo os recursos melhores conhecem limitações: «Até os adolescentes se cansam, se fatigam, e os jovens tropeçam e vacilam» (Is 40, 30). Deus, porém, «dá forças ao cansado e enche de vigor o fraco. (…) Aqueles que confiam no Senhor, renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer» (Is 40, 29.31). A Quaresma chama-nos a repor a nossa fé e esperança no Senhor (cf. 1 Ped 1, 21), pois só com o olhar fixo em Jesus Cristo ressuscitado (cf. Heb 12, 2) é que podemos acolher a exortação do Apóstolo: «Não nos cansemos de fazer o bem» (Gal 6, 9).
Não nos cansemos de rezar. Jesus ensinou que é necessário «orar sempre, sem desfalecer» ( Lc 18, 1). Precisamos rezar, porque necessitamos de Deus. A ilusão de nos bastar a nós mesmos é perigosa. Se a pandemia nos fez sentir de perto a nossa fragilidade pessoal e social, permita-nos esta Quaresma experimentar o conforto da fé em Deus, sem a qual não poderemos subsistir (cf. Is 7, 9). No meio das tempestades da história, encontramo-nos todos no mesmo barco, pelo que ninguém se salva sozinho [2]; mas sobretudo ninguém se salva sem Deus, porque só o mistério pascal de Jesus Cristo nos dá a vitória sobre as vagas tenebrosas da morte. A fé não nos preserva das tribulações da vida, mas permite atravessá-las unidos a Deus em Cristo, com a grande esperança que não desilude e cujo penhor é o amor que Deus derramou nos nossos corações por meio do Espírito Santo (cf. Rm 5, 1-5).
Não nos cansemos de extirpar o mal da nossa vida. Possa o jejum corporal, a que nos chama a Quaresma, fortalecer o nosso espírito para o combate contra o pecado. Não nos cansemos de pedir perdão no sacramento da Penitência e Reconciliação, sabendo que Deus nunca Se cansa de perdoar [3]. Não nos cansemos de combater a concupiscência, fragilidade esta que inclina para o egoísmo e todo o mal, encontrando no decurso dos séculos vias diferentes para fazer precipitar o homem no pecado (cf. Enc. Fratelli tutti, 166). Uma destas vias é a dependência dos meios de comunicação digitais, que empobrece as relações humanas. A Quaresma é tempo propício para contrastar estas ciladas, cultivando ao contrário uma comunicação humana mais integral (cf. ibid., 43), feita de «encontros reais» ( ibid., 50), face a face.
Não nos cansemos de fazer o bem, através duma operosa caridade para com o próximo. Durante esta Quaresma, exercitemo-nos na prática da esmola, dando com alegria (cf. 2 Cor 9, 7). Deus, «que dá a semente ao semeador e o pão em alimento» (2 Cor 9, 10), provê a cada um de nós os recursos necessários para nos nutrirmos e ainda para sermos generosos na prática do bem para com os outros. Se é verdade que toda a nossa vida é tempo para semear o bem, aproveitemos de modo particular esta Quaresma para cuidar de quem está próximo de nós, para nos aproximarmos dos irmãos e irmãs que se encontram feridos na margem da estrada da vida (cf. Lc 10, 25-37). A Quaresma é tempo propício para procurar, e não evitar, quem passa necessidade; para chamar, e não ignorar, quem deseja atenção e uma boa palavra; para visitar, e não abandonar, quem sofre a solidão. Acolhamos o apelo a praticar o bem para com todos, reservando tempo para amar os mais pequenos e indefesos, os abandonados e desprezados, os discriminados e marginalizados (cf. Enc. Fratelli tutti, 193).
3. «A seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido»
Cada ano, a Quaresma vem recordar-nos que «o bem, como aliás o amor, a justiça e a solidariedade não se alcançam duma vez para sempre; hão de ser conquistados cada dia» (ibid., 11). Por conseguinte, peçamos a Deus a constância paciente do agricultor (cf. Tg 5, 7), para não desistir na prática do bem, um passo de cada vez. Quem cai, estenda a mão ao Pai que nos levanta sempre. Quem se extraviou, enganado pelas seduções do maligno, não demore a voltar para Deus, que «é generoso em perdoar» (Is 55, 7). Neste tempo de conversão, buscando apoio na graça divina e na comunhão da Igreja, não nos cansemos de semear o bem. O jejum prepara o terreno, a oração rega, a caridade fecunda-o. Na fé, temos a certeza de que «a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido», e obteremos, com o dom da perseverança, os bens prometidos (cf. Heb 10, 36) para salvação nossa e do próximo (cf. 1 Tm 4, 16). Praticando o amor fraterno para com todos, estamos unidos a Cristo, que deu a sua vida por nós (cf. 2 Cor 5, 14-15), e saboreamos desde já a alegria do Reino dos Céus, quando Deus for «tudo em todos» (1 Cor 15, 28).
A Virgem Maria, em cujo ventre germinou o Salvador e que guardava todas as coisas «ponderando-as no seu coração» (Lc 2, 19), obtenha-nos o dom da paciência e acompanhe-nos com a sua presença materna, para que este tempo de conversão dê frutos de salvação eterna.
Roma, em São João de Latrão, na Memória litúrgica do bispo São Martinho, 11 de novembro de 2021.
- Parolin: quem tem nas mãos o destino do mundo nos poupe dos horrores da guerra
Vatican News
Diante dos desdobramentos hodiernos da crise na Ucrânia, tornam-se ainda mais nítidas e mais prementes as palavras que o Santo Padre Francisco pronunciou ontem ao término da Audiência Geral: é o que afirma o secretário de Estado vaticano, cardeal Pietro Parolin, numa declaração divulgada pela Sala de Imprensa da Santa Sé esta quinta-feira, 24 de fevereiro, dia em que a crise na Ucrânia se transformou num conflito.
"O Papa evocou grande dor ‘grande dor’, ‘angústia e preocupação’. E convidou todas as partes envolvidas a ‘abster-se de qualquer ação que provoque ainda mais sofrimento às populações’, ‘desestabilize a convivência pacífica’ e desacredite o direito internacional’."
"Este apelo – prossegue o cardeal Parolin – adquire uma dramática urgência após o início das operações militares russas no território ucraniano. Os trágicos cenários que todos temiam, infelizmente, estão se tornando realidade."
O cardeal secretário de Estado ressalta que "ainda há tempo para a boa vontade, ainda há tempo para a negociação, ainda há tempo para o exercício de uma sabedoria que impeça o prevalecer dos interesses de parte, tutele as legítimas aspirações de cada um e poupe o mundo da loucura e dos horrores da guerra".
"Nós fiéis - conclui o cardeal Parolin - não perdemos a esperança num vislumbre de consciência daqueles que têm o destino do mundo em suas mãos. E continuamos rezando e jejuando – o faremos na próxima Quarta-feira de Cinzas – pela paz na Ucrânia e no mundo inteiro."
Fonte: Vatican News - ACI Digital