Cultura

Papa: a fraternidade é a âncora de salvação da humanidade





No II Dia Internacional da Fraternidade Humana, convocado pelas Nações Unidas, Francisco reafirma que a fraternidade é o único caminho possível para a humanidade ferida por guerras. “Ou somos irmãos ou tudo desaba."

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

Hoje não é o tempo da indiferença: ou somos irmãos ou tudo desaba. A mensagem do Papa Francisco para o II Dia Internacional da Fraternidade Humana não é uma premonição trágica, mas é um convite a mudar de rota, diante de uma realidade feita de “guerras em pedaços”.

A videomensagem foi enviada aos participantes da mesa-redonda realizada na Expo Dubai 2020, com a participação de representantes da Santa Sé e de altos expoentes religiosos da Universidade Al-Azhar, do Cairo.

Em especial, o Pontífice saúda o Grão-Imame Ahmed Al-Tayyeb, com o qual assinou o Documento sobre a Fraternidade Humana três anos atrás, o xeque Mohammed bin Zayed e duas instituições: o Alto Comitê para a Fraternidade Humana e a Assembleia Geral da ONU, que sancionou este Dia com uma resolução em dezembro de 2020.

Debaixo do mesmo céu

A pandemia, afirma Francisco demonstrou que ninguém se salva sozinho. Somos todos diferentes, mas todos iguais em dignidade e “independentemente de onde e de como vivemos, da cor da pele, da religião, da classe social, do sexo, da idade, das condições de saúde e econômicas, todos vivemos “Debaixo do mesmo céu”, que é precisamente o tema desta segunda edição.

E por isso, devemos nos reconhecer irmãos, sendo a fraternidade um dos valores fundamentais e universais na base das relações entre os povos.

Mas “debaixo do mesmo céu”, quem crê em Deus tem um papel a mais a desempenhar, que é ajudar os nossos irmãos a elevar o olhar e a oração ao céu. 

“Elevemos os olhos ao Céu, porque quem adora a Deus com coração sincero ama também o próximo.”

Caminhar juntos

O Papa faz uma proposta: caminhar juntos, porque hoje é o tempo oportuno, não é o tempo da indiferença nem do esquecimento.

“Ou somos irmãos ou tudo desaba. E esta não é uma expressão meramente literária de tragédia, não, é a verdade! Ou somos irmãos ou tudo desaba, o vemos nas pequenas guerras, nesta terceira guerra mundial em pedaços, os povos se destroem, as crianças não têm o que comer, diminui a educação… É uma destruição. Ou somos irmãos ou tudo desaba.”

O percurso da fraternidade é longo e difícil, constata Francisco, mas é a âncora de salvação para a humanidade. Aos muitos sinais ameaçadores, aos tempos sombrios e à lógica do conflito, é preciso responder com o sinal da fraternidade, convidando o outro a empreender um caminho comum. “Não iguais, não, irmãos, cada um com a própria personalidade, com a própria singularidade.”

Por fim, o Papa convida todos a se empenharem pela causa da paz, respondendo aos problemas e às necessidades concretas dos últimos, dos pobres, de quem é indefeso.

“A proposta é caminhar lado a lado, “fratelli tutti”, para ser concretamente artesãos de paz e de justiça, na harmonia das diferenças e no respeito da identidade de cada um. Irmãs e irmãos, avante juntos neste caminho da fraternidade!”

 

- Dia Mundial da Fraternidade Humana

Em 4 de fevereiro de 2019, o Papa Francisco e o Imame Ahmad al-Tayyeb assinaram em Abu Dhabi o Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e a Convivência Comum. E neste dia 4 fevereiro comemora-se o 2° Dia Internacional da Fraternidade Humana instituído pela ONU.

O Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e a Convivência Comum é uma Declaração de intenção conjunta que fez parte de um caminho marcado por outros documentos produzidos neste campo, como as declarações finais dos quatro seminários do "Fórum Católico-Islâmico" realizados em 2008, 2011, 2014 e 2017.

O caminho para construir uma autêntica fraternidade entre povos de diferentes religiões tem suas raízes na Gaudium et spes, onde o trabalho das instituições internacionais é apreciado como um instrumento de desenvolvimento e reconciliação e se expressa ajuda, tanto aos que acreditam em Deus quanto aos que explicitamente não o reconhecem, para que "possam tornar o mundo mais conforme à dignidade eminente do homem, aspirar a uma fraternidade universal apoiada em bases mais profundas, e responder, sob o impulso do amor, com um esforço generoso e unido aos apelos mais urgentes de nosso tempo". O conceito da dignidade dada por Deus a toda a criação, em virtude e por causa da qual somos chamados a proteger e promover nossos semelhantes, é o fundamento sobre o qual também se apoia o Documento sobre a Fraternidade Humana. Enquanto as experiências desumanas de pobreza e guerra - geradas por um terreno fértil para a degradação social, ética e política onde se alastra o terrorismo - assolam o tempo presente, através do Documento da Fraternidade assinado em Abu Dhabi, os dois líderes convidam todos os fiéis a trabalharem juntos em prol de uma cultura do respeito.

Fonte: Vatican News