Cotidiano

CEO da Pfizer defende vacina anticovid anual em vez de reforços





O presidente-executivo da Pfizer, Albert Bourla, disse que uma vacina anual contra a covid-19 é preferível a doses de reforço mais frequentes. Ele declarou que, mesmo com “uma vacina para todas as variantes”, o coronavírus não será erradicado.

Com pouco mais de um ano desde o início da vacinação contra a covid-19, muitos países já aplicam uma dose de reforço. Alguns, como Israel, já avançaram para a aplicação da 4ª dose.

Em entrevista ao canal israelense N12 News, Bourla disse não considerar “um bom cenário” que as doses de reforço sejam aplicadas a cada 4 ou 5 meses. Segundo ele, o ideal é uma vacina anual.

“É mais fácil convencer as pessoas a fazer [vacinação anual]. É mais fácil para as pessoas se lembrarem”, disse Bourla. “Então, do ponto de vista da saúde pública, é uma situação ideal. Estamos procurando ver se podemos criar uma vacina que cubra a ômicron e não deixe de fora as outras variantes. Isso pode ser uma solução.”

Bourla compartilha da opinião de Marco Cavaleri, chefe de ameaças biológicas à saúde e de estratégia de vacinas da EMA (Agência Europeia de Medicamentos).

Em entrevista a jornalistas em 11 de janeiro, Cavaleri disse ser necessário um 1º reforço, já que a proteção –em especial contra a ômicron– cai depois de um certo período. No entanto, ele declarou que os dados não são suficientes para a indicação de uma 2ª dose de reforço logo em seguida à 1ª.

“Ao aplicarmos doses de reforço a cada 4 meses, aproximadamente, podemos ter problemas com a resposta imunológica, que poderá não ser tão boa quanto gostaríamos”, disse. “Então, deveríamos ser cuidadosos para não sobrecarregar o sistema imunológico com constantes imunizações”, continuou.

“Idealmente, a aplicação de uma dose de reforço deve ser sincronizada com o início do inverno em cada hemisfério, a semelhança do que fazemos com a vacina da gripe”, afirmou.

 

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- Covid mata quatro vezes mais crianças de 0 a 4 anos no Brasil que maiores de 5

Faixa etária já pode ter atingido 3.249 óbitos e 92.837 internações desde o início da pandemia

Crianças de 0 a 4 anos são mais vulneráveis ao novo coronavírus do que o público infantil de 5 a 11, faixa etária que entrou no plano nacional de vacinação contra a Covid-19.

Oficialmente, o Brasil registrou 1.544 mortes de crianças de 0 a 11 anos por Covid-19 desde o início da pandemia. Do total, 324 delas tinham de 5 a 11. Entre 0 e 4, o número de óbitos alcançou 1.220, o que representa quase quatro vezes mais ocorrências que na faixa acima de 5.

Levantamento da Vital Strategies —organização global composta por especialistas e pesquisadores com atuação junto a governos— avalia ainda que há subnotificação de dados e projeta a omissão de 2.537 mortes no balanço da Covid.

Isso ocorre porque, como não há um diagnóstico do motivo da morte em alguns casos de SRAG (síndrome respiratória aguda grave), os óbitos entram nas estatísticas como SRAG por causa não especificada.

Com isso, o total estimado pode chegar a 4.081 mortes de crianças por Covid. Os números chegariam então a 3.249, de 0 a 4 anos, e 832, de 5 a 11 anos.

Questionado sobre subnotificações e as estimativas da Vital Strategies, o Ministério da Saúde não se manifestou.

A médica epidemiologista e especialista sênior da Vital Strategies Fatima Marinho explicou que existem diferentes motivos que levam à falta de um diagnóstico, como a baixa testagem, colapso no sistema de saúde e acesso desigual à assistência.

A SRAG é uma condição do paciente que pode ser causada tanto pelo novo coronavírus quanto por outros vírus respiratórios, como o H1N1, agente infeccioso da Influenza A (gripe). Os dados foram coletados no Sivep-Gripe (Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe), do Ministério da Saúde.

Marinho disse que para chegar a essa projeção foi feita a redistribuição de óbitos de SRAG não especificados considerando a série histórica de anos anteriores à pandemia —no caso 2018 e 2019.

O número excedente foi reclassificado como Covid e também por outros vírus respiratórios, como o da Influenza. Houve explosão de casos de mortes não especificadas por SRAG em 2020 e 2021, o que aponta a preponderância do novo coronavírus.

"As crianças têm menor diagnóstico de Covid por causa da clínica diferente [sintomas]. Muitas vezes o sintoma de Covid nas crianças é a diarreia, dor abdominal, tosse, não tendo muitas vezes alguns sintomas clássicos como febre, falta de ar. Em paralelo há a baixa testagem que contribui para a não identificação da Covid-19", disse Marinho.

Os dados apontam que a Covid-19 tem impactado mais crianças de 0 a 4 anos. Faixa etária que, segundo especialistas, continuará mais vulnerável à doença porque ainda não pode receber vacinas. Em alguns países, já há autorização para imunizar crianças de 3 e 4 anos.

No Brasil, há dois imunizantes aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O da Pfizer está liberado para crianças a partir de 5 anos, e a Coronavac, para crianças a partir de 6 anos.

Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), concorda que há subnotificação no Brasil. Segundo ele, um maior número de mortes na faixa etária de crianças menores de 5 anos também ocorre em outros países.

De acordo o médico, o sistema imunológico dessas crianças é mais imaturo e não responde às infecções como os mais velhos. Por isso, as vacinas de outras doenças já começam nos primeiros meses de vida.

"As crianças nessa faixa etária vão continuar mais vulneráveis [para Covid]. Por causa disso, as pessoas elegíveis [crianças mais velhas, adolescentes e adultos] devem tomar a vacina para ajudar a reduzir a circulação do vírus, continuar usando máscara, lavar as mãos", afirmou.

A dona de casa Adriana de Godoy Zaniolo, 41, teve seu terceiro filho durante a pandemia em Rio Claro, no interior paulista, ainda no início da campanha de vacinação da Covid no Brasil. Com isso, ela não havia ainda sido imunizada.

Nas primeiras horas de vida de Matheus de Godoy Marangoni, o Theusinho, em 10 de março de 2021, a criança foi transferida para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Adriana disse que teve uma gestação tranquila, e o filho nasceu saudável. Naquele dia, o bebê começou a gemer como se quisesse chorar e não conseguisse. Além disso, a oxigenação estava baixa.

A previsão era que ele logo voltasse para os braços dos pais, mas em cada visita o menino demonstrava piora. Segundo a mãe, foram feitos procedimentos na tentativa de descobrir o que ele tinha. Somente no terceiro dia a família foi informada de que ele estava com Covid.

A partir desse momento, os médicos isolaram o bebê e pediram para Adriana também fazer um teste, que deu positivo. No dia seguinte, Theusinho morreu.

"Parece inacreditável tudo o que acontece, parece que ainda não caiu a ficha. Tudo pronto esperando meu filho, nasceu tão perfeito e do nada parece que o mundo desaba. Cada vez que nós íamos à UTI o médico não tinha um diagnóstico. A única coisa que eu sei é que toda hora mudava de medicação", disse Adriana.

Para evitar incidência de mortes entre os menores, Flávia Bravo, diretora da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações) disse acreditar que as vacinas contra Covid não devem demorar a chegar para faixas etárias abaixo de 5 anos.

No entanto, enquanto não há imunizante para esse público, é preciso focar uma maior cobertura entre os que podem se imunizar para controlar a doença e a transmissão.

De acordo com a médica, os estudos começaram concentrados nas pessoas que morrem mais, que no caso são os adultos. Há pouco tempo foi estendido o olhar para esse grupo infantil e, agora, é preciso esperar o tempo da ciência, diz ela.

São vários fatores levados em conta antes de iniciar a vacinação, como definir a dose correta, o esquema vacinal, entender a expectativa dos eventos adversos. "Não podemos menosprezar os números, e a ciência está buscando a solução para essas idades. Ainda que demore, ela virá. Enquanto isso, tem de proteger os não vacinados vacinando os demais", disse Bravo.

O pedido do Instituto Butantan à Anvisa era para usar as doses em crianças a partir de 3 anos. No entanto, a agência entendeu que não existem dados suficientes para reduzir a vacinação contra a Covid-19 até essa idade.

O instituto agora aguarda resultados da pesquisa do Chile com crianças de 3 a 5 anos para encaminhá-los à agência reguladora. A previsão é que ocorra ainda neste ano.

Em entrevista à Folha, a presidente da Pfizer no Brasil, Marta Díez, disse que a farmacêutica pretende apresentar à Anvisa o pedido de autorização de uso da vacina da Covid-19 em crianças de 6 meses a 5 anos neste ano. Em nota, o laboratório afirmou que ainda não há previsão de data da submissão.

O Ministério da Saúde prevê em contrato com a Pfizer a possibilidade de adquirir doses para crianças de 0 a 4 anos caso a vacina seja aprovada pela agência reguladora.

Não só mortes registram subnotificações, segundo Vital Strategies —as internações também. Dados do Ministério da Saúde apontam 18.326 internações no público de 0 a 4 anos e 6.802 em crianças de 5 a 11 anos.

Entretanto, o Brasil já pode ter atingido 92.837 internações em crianças de 0 a 4 anos, e 39.584 em crianças de 5 a 11 anos.

Marinho, da Vital Strategies, afirmou que uma política de testagem eficaz é imprescindível para controlar os casos em crianças. Porém, ela apontou que, quase dois anos após a pandemia, ainda não há uma estratégia consolidada quanto ao tema.

A médica, no entanto, ponderou que as crianças que não poderão tomar a vacina continuarão vulneráveis e acompanhando as curvas da pandemia —à medida que cresce o número de casos e mortes de doenças, isso ocorre também entre as crianças, mas em uma proporção menor que a de adultos.

"A vulnerabilidade ocorre principalmente entre as crianças mais pobres e negras. Muitas já têm muitos problemas respiratórios por causa do meio ambiente em que vivem, moradias precárias, sem saneamento básico, muitas pessoas por cômodo, o que aumenta o risco de doenças transmissíveis, especialmente as respiratórias", afirmou Marinho.

Fonte: Poder360 - Folha