Cultura

Artigo de Dom Pedro José Conti: Eu te peço, acenda-me!





Reflexão para o domingo da Festa do Batismo do Senhor | 09 JAN 2022 – Ano “C” 

| MACAPÁ (AP) | Por Dom Pedro José Conti

Chegou o dia em que o fósforo disse à vela: 

  • Eu tenho a tarefa de acender-te. Assustada, a vela respondeu: 
    -Não, isso não. Se eu ficar acesa, meus dias estão contados. Ninguém mais vai admirar a minha beleza. O fósforo perguntou:
  • Tu preferes passar a vida inteira inerte e sozinha, sem ter experimentado a vida? A vela sussurrou insegura e apavorada: 
  • Mas queimar dói e consome as minhas forças. 
    – É verdade, mas este é o segredo da nossa vida. Nós somos chamados para ser luz! O que eu posso fazer é pouco. Eu existo para acender o fogo. Se não te acender, eu perco o sentido da vida. Mas tu és uma vela, tu existes para iluminar os outros. Tudo o que ofereceres do teu empenho e do sofrimento será transformado em luz. Outros passarão o teu fogo adiante. Só quando tu te recusares a iluminar,  morrerás. Então a vela preparou o seu pavio e disse cheia de expectativa:
  • Eu te peço, acenda-me!

Com o Domingo do Batismo de Jesus, no Rio Jordão, o batismo de penitência e conversão, proposto por João Batista, encerramos o tempo litúrgico do Natal. De fato, acompanhando os evangelhos, a partir desse momento, inicia-se a chamada “vida pública” de Jesus. Essas páginas dos evangelhos são também “revelações”, ou seja, explicações antecipadas daquilo que, depois, Jesus será reconhecido e acreditado ser o Filho amado que o Pai enviou e no qual ele pôs o seu bem-querer (Lc 3,22). O evangelho, deste domingo, quer nos dizer que o “profeta de Nazaré” não agirá sozinho. Ele tem uma “missão” a cumprir: foi enviado pelo Pai e será sustentado pela luz e a força do Divino Espírito Santo.

 Quando os evangelhos foram colocados por escrito, a fé das primeiras comunidades de discípulos já estava praticamente consolidada. Não era fácil anunciar um “messias” que havia sido condenado à morte de cruz. No entanto, em lugar de envergonhar-se e esconder-se, os cristãos começaram a entender o valor daquela morte. A derrota, na realidade, era a vitória do amor. A vida perdida era uma vida doada. “Salva”, portanto, não no sentido comum de sobrevivência a qualquer custo, mas salva do fechamento em si mesma, do interesse e do bem-estar individual. Assim, junto com o anúncio de que Jesus era o Cristo esperado, espalhava-se também a boa notícia do amor do Pai e da força do Espírito Santo, capaz de transformar aqueles que a acolhessem de “escravos por medo da morte” (Hb 2,15) em irmãos generosos e solidários.

Este domingo nos convida também a repensar o nosso batismo, para muitos recebido quando crianças pequenas, sem conhecimento real daquilo que estava acontecendo com a nossa vida. Quem teve a graça de ser educado na fé cristã deveria ter entendido que, com o nosso batismo, começou algo novo para todos nós. Não simplesmente para sermos inscritos no livro de batizados de alguma paróquia e responder que somos católicos nas estatísticas do IBGE. Ser cristão e, no nosso caso, ser católico é um jeito de encarar a vida, de caminhar à luz de alguém que, acreditamos, veio para nos ajudar nas escolhas fundamentais da vida. Já São Paulo escrevia aos romanos: “Com efeito, o Reino de Deus não é comida e bebida, mas é justiça e paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14,17). Por “comida e bebida”, São Paulo entendia coisas exteriores. Ao contrário: “justiça, paz e alegria”, significam uma existência construída e consumida por causa do amor, geradora de paz e alegria para todos aqueles e aquelas que encontramos nos caminhos da vida. Essas são escolhas sérias, profundas, interiores. Não precisam ser badaladas ou apresentadas por algo necessariamente visível. Somente alguns desses sinais são exteriores porque são comuns a todos, como a escuta da mesma Palavra de Deus e a nossa participação na comunidade, de maneira especial quando celebramos a Liturgia. Depois cada um vive a própria situação familiar, de trabalho, conforme as diversas responsabilidades. É lá que “gastamos” os nossos dias. Em qualquer situação ou lugar aonde formos, a luz brilha por si mesma. Não precisa explicar que é luz. Se é luz verdadeira, sempre brilha e ilumina ao seu redor. Se consome e se comunica. Atrai.

Fonte: Diocese de Macapá