Cotidiano

Médico teme que remédio traga nova variante





Cientistas publicaram recentemente artigos em que alertam para o risco de que o molnupiravir, pílula aprovada pelo FDA (espécie de Anvisa dos EUA) em 23 de dezembro para o tratamento da covid, estimule cepas mais perigosas do coronavírus. Outros virologistas afastam esse risco.

As preocupações se concentram no mecanismo de ação do antiviral. O molnupiravir atua estimulando mutações do vírus até que o acúmulo delas faça com que ele seja incapaz de se replicar.

As farmacêuticas Merck (que no Brasil leva o nome de MSD) e Ridgeback, fabricantes do remédio, dizem que ele reduz hospitalização e morte por covid em 50% na fase inicial da doença.

Michael Z. Lin, professor de bioengenharia na Universidade de Stanford, alerta que a indução dessas novas mutações pode criar  cepas que escapem das vacinas atuais. Ele escreve em artigo publicado no Washington Post (aqui, para assinantes) em 24 de dezembro:

“O estudo da farmacêutica mostra que vírus com viabilidade de se replicar podem ainda ser identificados depois do 3º dia de tratamento. Por vários dias a droga está no organismo produzindo mutações, mas nem todos os vírus tiveram mutações o suficiente para serem desativados. Nesses dias iniciais, o paciente é um terreno fértil para vírus mutantes viáveis [que se replicam]“, escreve o pesquisador. Lin faz o disclaimer de estudar em seu laboratório drogas com o mesmo mecanismo de ação da paxlovid, pílula da Pfizer contra a covid concorrente do molnupiravir.

Outro virologista respeitado, William A. Haseltine, escreve na Forbes que a quantidade indicada de uso de molnupiravir, por 5 dias, deve ser suficiente para evitar  mutações que possam se reproduzir. Mas faz outro alerta:

“Há forte chance de que no mundo real as pessoas não vão seguir o tratamento corretamente. Estudos mostram que até 40% dos pacientes que tomam antibióticos orais não chegam ao fim do tratamento [não tomam todas as pílulas]. Se o molnupiravir não for administrado até o fim nas doses indicadas, pode introduzir mutações no vírus, incluindo na proteína spike [a que é o alvo das vacinas], sem necessariamente desativá-lo”, alerta Haseltine, ex-professor de Harvard e reconhecido por seu trabalho sobre HIV e no projeto genoma.

“O pior cenário possível é preocupante“, escreve Lin. “O molnupiravir poderia desencadear repetidos ciclos de novas variantes, com pessoas tomando o remédio para se tratar, criando assim um círculo vicioso.”

“Risco remoto”

Depois da publicação do artigo de Haseltine, o site da revista Science entrou em contato com outros virologistas, que afirmaram que o risco existe, mas ainda é “largamente hipotético“.

Aris Katzourakis, expecialista em evolução viral da Universidade de Oxford, afirmou ao veículo que “não podemos segurar uma droga que salva vidas por conta de um risco que pode ou não acontecer”.

Raymond Schinazi, da Universidade Emory, concorda haver risco, mas diz que não compartilha do mesmo temor de Lin. “Se a droga força a fazer mais mutações, é provável que isso seja ruim para o vírus“, disse à Science.

A chefe do departamento de doenças infecciosas da farmacêutica Merck, Daria Hazuda, afirmou à Science que não se observou nenhuma evidência de pessoas com o molnupiravir produzindo vírus com novas e perigosas mutações. Ela reforça que em pessoas que completaram o tratamento de 5 dias não sobrou nenhum vírus com capacidade de infecção.

A especialista destaca que as mutações são aleatórias, e não concentradas em nenhum gene que possa fazer o vírus mais eficiente. Hazuda observa que o Sars-Cov2 já tem muitas mutações naturalmente. “Não há falta de variações do vírus circulando por aí“, afirma Katzourakis, de Oxford. O importante, destaca o virologista para a Science, é se o remédio induz a algum tipo de mutação que faz com que o vírus tenha particularmente mais chances de sobreviver. Katzourakis diz que, embora isso seja possível, é “difícil de imaginar“. Por enquanto, reforça, não há evidência disso.

 

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A França registrou um recorde de 104.611 casos de Covid-19 – o maior número diário desde o início da pandemia – e, pela primeira vez, os números ultrapassaram o limite de 100 mil, de acordo com dados do ministério da saúde. 

Na sexta-feira, o governo francês anunciou que o presidente Emmanuel Macron realizará uma reunião virtual com os ministros na segunda-feira para discutir a crise do coronavírus. 

 

África do Sul relaxa as restrições contra a Covid-19

Teste do coronavírus não será mais necessário após o término do período de isolamento de oito dias

A África do Sul não exigirá mais que aqueles que foram expostos a um caso positivo de coronavírus sejam submetidos à quarentena ou teste, a menos que os sintomas se desenvolvam, de acordo com uma declaração emitida pelo diretor-geral do Departamento Nacional de Saúde da África do Sul, Dr. Sandile Buthelezi.

De acordo com a declaração, todo rastreamento de contato será interrompido com efeito imediato, exceto em surtos de cluster ou configurações independentes. Os novos regulamentos também se aplicam a pessoas vacinadas e não vacinadas, com regras aplicáveis ​​baseadas na gravidade da doença.

Aqueles que foram expostos a um caso positivo, mas permanecem assintomáticos, serão solicitados a praticar a “auto-observação” por cinco a sete dias para monitorar o desenvolvimento dos sintomas.

No entanto, precauções aprimoradas ainda serão necessárias, incluindo uso de máscara, distanciamento social e evitar espaços fechados.

Aqueles que apresentarem “doença leve” após a exposição ainda terão que se isolar por oito dias e devem usar uma máscara o tempo todo durante o período de auto-isolamento. No entanto, o teste da Covid-19 não será mais necessário após o término do período de isolamento.

De acordo com o ministério da saúde, doença leve refere-se a pessoas que apresentam sintomas e tiveram resultado positivo, mas que não necessitam de internação.

No caso de “doença grave”, será necessário um período de auto-isolamento de 10 dias, em vez de oito dias.

Fonte: CNN Brasil