Seis anos após o Motu proprio "Mitis Iudex Dominus Iesus" (publicado em agosto de 2015 e que entrou em vigor no dia 8 de dezembro seguinte), com o qual havia reformado o processo canônico para os casos de declaração de nulidade matrimonial, tornando-os mais ágeis e acessíveis graças a uma maior responsabilidade do bispo diocesano, o Papa Francisco retorna ao assunto. E institui uma comissão para verificar e ajudar na aplicação da reforma na Itália, a fim de dar "novo impulso" a essas normas. É o que se lê num Motu propriopublicado esta sexta-feira, 26 de novembro, pelo Pontífice.
O objetivo da comissão, instituída na Rota Romana com a participação de um bispo da Conferência Episcopal Italiana, é "apoiar as Igrejas na Itália na recepção da reforma". Francisco lembra que o bispo recebeu o poder de julgar e ressalta novamente que "o ministério judicial" do bispo "por sua própria natureza postula a proximidade entre o juiz e os fiéis", dando assim origem a "pelo menos uma expectativa por parte dos fiéis" de poder recorrer ao tribunal de seu bispo "de acordo com o princípio da proximidade".
Além disso, o Papa, recordando as normas emitidas em 2015, reitera que, embora seja permitido ao bispo diocesano ter acesso a outros tribunais, esta faculdade deve ser considerada uma exceção e, portanto, todo bispo "que ainda não tem seu próprio tribunal eclesiástico, deve procurar instituí-lo ou pelo menos trabalhar para que isso se torne possível". Francisco escreve que a Conferência Episcopal Italiana "ao distribuir igualmente às dioceses os recursos humanos e econômicos para o exercício do poder judicial, será um estímulo e uma ajuda a cada Bispo para que ponha em prática a reforma do processo matrimonial". E repete o que já indicou em seu discurso à Conferência Episcopal Italiana em maio de 2019: "O impulso reformador do processo matrimonial canônico - caracterizado pela proximidade, rapidez e gratuidade dos procedimentos - passa necessariamente por uma conversão das estruturas e das pessoas".
Para favorecer esta conversão, seis anos após a entrada em vigor das novas normas, o Papa cria no Tribunal da Rota Romana uma "Comissão pontifícia ad inquirendum et adiuvandum (para verificar e ajudar, ndr) todas e cada uma das Igrejas particulares na Itália". Será presidida pelo Decano da Rota, Alejandro Arellano Cedillo, e incluirá os dois juízes da Rota, Vito Angelo Todisco e Davide Salvatori, e o bispo de Oria, Vincenzo Pisanello. A tarefa da Comissão será "constatar e verificar a aplicação plena e imediata da reforma" nas dioceses italianas, "bem como sugerir às mesmas dioceses o que é considerado apropriado e necessário para apoiar e ajudar na frutuosa continuação da reforma, de modo que as Igrejas na Itália possam se mostrar aos fiéis como mães generosas, em uma matéria intimamente ligada à salvação das almas", como também solicitado pelo Sínodo extraordinário sobre a família. No final de seus trabalhos, a Comissão elaborará um relatório detalhado sobre a aplicação das novas normas sobre a nulidade matrimonial na Itália.
- Nulidades matrimoniais, as palavras de Bento XVI no início de seu pontificado
Era 25 de julho de 2005 e o novo Papa, Bento XVI, que até quatro meses antes era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, tinha se encontrado com o clero da diocese que o acolhia durante um curto período de férias em Val d'Aosta, noroeste da Itália. Um padre havia levantado a questão da comunhão aos fiéis divorciados e novamente casados.
O Papa Ratzinger havia respondido: "Todos sabemos que este é um problema particularmente doloroso para as pessoas que vivem em situações em que são excluídas da comunhão eucarística e naturalmente para os padres que querem ajudar estas pessoas a amar a Igreja, a amar Cristo. Isto apresenta um problema".
"Nenhum de nós - acrescentara Bento XVI - tem uma receita pronta, até porque as situações são sempre diferentes. Diria que particularmente dolorosa é a situação daqueles que foram casados na Igreja, mas não eram realmente crentes e o fizeram por tradição, e depois se encontrando em um novo matrimônio inválido se convertem, encontram a fé e se sentem excluídos do Sacramento. Isto é realmente um grande sofrimento e quando eu era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, convidei várias Conferências episcopais e especialistas a estudar este problema: um sacramento celebrado sem fé".
"Se podemos realmente encontrar aí um momento de invalidez – comentava ainda o Papa - porque faltava ao sacramento uma dimensão fundamental, não ouso dizer. Eu pessoalmente pensava assim, mas pelas discussões que tivemos entendi que o problema é muito difícil e que ainda deve ser aprofundado. Mas dada a situação de sofrimento dessas pessoas, precisa ser aprofundado".
Dez anos após estas palavras, em 2015, foi publicado o Motu proprio do Papa Francisco "Mitis Iudex Dominus Iesus", reformando e agilizando o processo para casos de nulidade matrimonial, tornando-o mais acessível e menos oneroso. No cerne da reforma está o papel do bispo diocesano, a quem é pedido que crie um tribunal para responder mais facilmente aos pedidos dos fiéis.
- O Papa recebe Macron, conversações no Vaticano sobre clima e Oriente Médio
O Papa Francisco recebeu em audiência na manhã desta sexta-feira, 26 de novembro, o Presidente da República Francesa, Emmanuel Macron, o qual em seguida se encontrou com o secretário de Estado vaticano, cardeal Pietro Parolin, acompanhado do secretário das Relações com os Estados, dom Paul Richard Gallagher.
Durante as cordiais conversações na Secretaria de Estado foram ressaltadas as boas relações bilaterais, cujo centenário foi celebrado recentemente, informa um comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé.
No decorrer das conversações, foram discutidas algumas questões internacionais, incluindo a proteção ambiental à luz dos resultados da recente COP26 em Glasgow, na Escócia. Houve também uma troca de opiniões sobre as perspectivas da próxima presidência francesa da União Europeia e sobre o compromisso da França no Líbano, no Oriente Médio e na África, destaca ainda o referido comunicado.
Na tradicional troca de presentes, Macron ofereceu ao Papa duas biografias de Inácio de Loyola: a primeira é uma versão muito rara de 1585 escrita por Giovanni Pietro Maffei, que foi uma referência por vários séculos e pode ser comparada e colocada em perspectiva com uma segunda obra, Inigo, de François Sureau, membro da Academia Francesa, que oferece um breve retrato do fundador da Companhia de Jesus. Uma obra a meio caminho entre um ensaio e uma biografia, que presta uma nova e moderna homenagem ao santo basco. Francisco retribuiu com uma pintura em cerâmica representando a Basílica de São Pedro vista dos Jardins Vaticanos, juntamente com uma série de documentos do pontificado, incluindo a Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2021, o Documento sobre a Fraternidade Humana assinado em Abu Dhabi e o livro que reúne as mais belas imagens da Statio Orbis, a oração do Pontífice na Praça São Pedro em 27 de março de 2020, no ápice da pandemia.
- Papa aos paulinos: a exemplo do Beato Alberione, viver e comunicar o Evangelho com paixão
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
A comemoração da família paulina pelos 50 anos da morte do Beato Tiago Alberione foi coroada esta quinta-feira com o encontro com o Papa Francisco, no Vaticano.
Às vésperas da memória litúrgica do bem-aventurado (26 de novembro), o Pontífice recebeu o superior-geral da Sociedade São Paulo, o padre brasileiro Valdir José de Castro, e uma delegação representando as várias Congregações religiosas, os Institutos de vida secular consagrada e agregações de leigos fundados por Alberione.
Para Francisco, este aniversário é para toda a Igreja, e especialmente para os paulinos, a ocasião propícia para fazer memória das “grandes coisas operadas pelo Espírito Santo no Beato Alberione e, através dele, para reafirmar a importância do seu carisma no contexto atual, na perspectiva da nova evangelização”.
O Papa citou seu predecessor Paulo VI, que já havia compreendido a importância da obra do Beato por ter dado à Igreja novos instrumentos para se expressar no mundo moderno com meios modernos; para, com a oração, ter a capacidade de ler os “sinais dos tempos” de modo a adequar os projetos apostólicos às situações e necessidades das pessoas de hoje.
Como repetia Pe. Alberione, o verdadeiro fundador da família paulina é o Apóstolo Paulo, o modelo a imitar na total doação ao Senhor Jesus Cristo e ao seu Evangelho. E “é justamente a paixão pelo Evangelho – destaco isto: porque o Evangelho sem paixão não pode ser vivido. O Evangelho só com palavras não funciona: o Evangelho vem do coração. E é justamente a paixão pelo Evangelho que brilha nas incontáveis iniciativas apostólicas” do Bem-aventurado.
Analisando o atual contexto comunicativo, o Papa afirmou que a evolução tecnológica conduziu toda a comunidade eclesial a assumir os instrumentos modernos da comunicação como elementos da pastoral ordinária. Portanto, prosseguiu, a presença dos paulinos hoje é ainda mais necessária para contribuir com a experiência que acumularam nesta área.
De modo particular, Francisco pediu à família paulina uma ajuda especial no percurso rumo ao Sínodo sobre a sinodalidade.
A exemplo e com a intercessão do Beato Alberione, “também vocês escolheram os meios de comunicação como púlpito, para que – como dizia com frequência – se possa mostrar Jesus Cristo aos homens do nosso tempo com os meios do nosso tempo”, disse ainda o Papa, agradecendo pelo empenho com o qual trabalham.
Por fim, Francisco recomendou uma intensa vida de oração: “Não esqueçam a oração. É o meio de comunicação mais importante. Trabalho e oração”. E invocou a intercessão de Maria, Rainha dos Apóstolos, para acompanhar a família paulina pelas estradas do mundo como apóstolos e apóstolas do Evangelho, sempre abertos a aprender das pessoas comuns, como amava dizer Tiago Alberione.
Após a audiência com o Santo Padre, o superior dos paulinos fez à Rádio Vaticano/Vatican News as suas considerações:
Além do pe. Valdir, havia outros brasileiros na audiência com o Papa Francisco. Um deles é o Ir. Darlei Zanon, que descreve a emoção do encontro com o Santo Padre e ressalta os principais pontos do seu discurso:
- Papa pede ao Fórum da Ação Católica a alegria de evangelizar
Jane Nogara - Vatican News
O Papa Francisco escreveu uma carta por ocasião dos 30 anos do Fórum Internacional da Ação Católica. Recordando o momento de fundação deste Fórum, escreveu Francisco, inevitavelmente nos faz olhar para o passado com uma contemplação agradecida, aos sonhadores que ousaram olhar avante com esperança. E “um dos sonhadores que iniciou e encorajou a criação deste Fórum, foi o Cardeal Eduardo Pironio que com grande amor à Ação Católica e plena confiança em sua missão disse: ‘No caminho da Ação Católica houve luzes e sombras, desorientação e cansaço, o medo de ser ultrapassado pelos novos tempos e necessidades da Igreja. Creio que agora seja o momento providencial do Espírito para uma profunda renovação de seu compromisso espiritual, doutrinal, apostólico e missionário. Isto sem dúvida ajudará a realização deste Fórum, que visa abrir a outros países a fertilidade de uma experiência associativa tão rica em seus frutos e tão cheia de esperança".
Depois de citar as palavras do cardeal Pironio o Papa recordou que ele amou a Ação Católica e criou a vocação leiga missionária da mesma. "A Igreja pode testemunhar que a Ação Católica abriu novas perspectivas no campo da responsabilidade do leigo na evangelização. Muitos evangelizados e formados pela Ação Católica – continuou o Papa - levaram a verdade, a profundidade e o Evangelho a áreas civis, muitas vezes fechadas à fé. Os santos e beatos leigos da Ação Católica são uma riqueza para a Igreja. São 'os santos da porta ao lado' de tantas comunidades". “E a Ação Católica – explicou ainda o Pontífice - tem suas origens no próprio coração da Igreja Católica. Não tem um fundador ou carisma particular. Seu objetivo é o da própria Igreja: a evangelização. A Ação Católica não assume um ou outro campo particular de apostolado, mas o propósito da Igreja: a proclamação do Evangelho, a todas as pessoas e a todos os ambientes. Portanto, o ‘carisma próprio’ é não ter nada de próprio, mas estar disponível para todas as necessidades da Igreja em todos os lugares”.
“Como Fórum - escreveu ainda Francisco - vocês tem uma missão global ao completar trinta anos que é um desafio e um convite. Desafio para descobrir cada vez mais e de maneira mais forte para onde vai a vida e a história de nossos povos, sem preconceitos, sem medos, sem classificações e sem nos sentirmos reguladores da fé de ninguém. Um convite para estar presente, onde seus interesses, suas preocupações, suas feridas mais profundas e suas maiores ansiedades estão presentes. Sabemos que não há maior pobreza do que não ter Deus, ou seja, viver sem a fé que dá sentido à vida, sem a esperança que nos dá força para trabalhar, sem nos sentirmos amados por alguém que não desilude. Este é o lugar e o povo onde a Ação Católica deve realizar sua missão”.
Francisco chamou a atenção de todos para a questão da globalização da indiferença, sugerindo "a construção de pontes e criar comunhão que é o chamado profundo de Deus. A Igreja é Comunhão para a missão. A comunhão não é uma ideia, é uma realização e a missão não é apenas mais uma atividade, é a essência da vida eclesial. Isto supõe, para a Ação Católica em comunhão com a pastoral diocesana e seus pastores, uma formação que se experimenta em chave missionária. A Ação Católica não deve formar o futuro cristão, mas deve e precisa acompanhar o processo de fé do cristão de hoje, de acordo com as características da etapa da vida em que ele se encontra".
Por fim o Santo Padre escreveu que gostaria de pedir a todos ainda três coisas:
"Que o Fórum sinta de modo profundo a urgência de trabalhar pela fraternidade e amizade social como meio de reconstruir um mundo ferido.
Que semeiem no coração de todos essa autêntica espiritualidade cristã a que está enraizada no desejo de santidade e este é um caminho que começa nas bem-aventuranças e se realiza a partir de Mateus 25; amando e trabalhando por nossos irmãos e irmãs mais sofredores.
Que o espírito que anima todos os seus projetos e trabalhos seja o de ser uma 'Igreja em saída' que vive a doce e reconfortante alegria de evangelizar; e que isso seja notado".
- Papa ajudará 50 imigrantes do Chipre a se instalarem na Itália
O papa Francisco fez arranjos para que 50 imigrantes do Chipre se instalem na Itália, a fim de marcar sua viagem à ilha mediterrânea na semana que vem, disse uma fonte do Vaticano nesta sexta-feira (26).
Os 50 serão reassentados após a viagem, que começa na quinta-feira, mas dificilmente antes do Natal devido a questões de logística.
No Chipre, o porta-voz governamental Marios Pelekanos disse que o Vaticano manifestou a intenção de reassentar vários imigrantes da ilha em Roma, mas não deu detalhes.
"Esta é uma expressão de solidariedade tangível do chefe da Igreja Católica Romana a pessoas necessitadas, afirmando que o Vaticano reconhece o problema que a República do Chipre enfrenta hoje, por causa dos fluxos migratórios crescentes e a necessidade de distribuição justa entre Estados-membros da União Europeia", afirmou.
A ilha do leste do Mar Mediterrâneo, que é o país da UE mais próximo do Oriente Médio, diz ter sido inundada por recém-chegados nos últimos anos.
A esta altura do ano, a chegada de imigrantes já aumentou 38% quando comparada com todo o ano de 2020, disse o governo de Chipre.
Muitos atravessam a porosa "linha verde", o legado de um cessar-fogo de 1974 decretado após uma invasão turca ocorrida na esteira de um golpe de Estado apoiado pela Grécia, que divide a ilha entre o norte turco-cipriota e o sul greco-cipriota reconhecido internacionalmente.
Fonte: Vatican News