Cotidiano

Invisibilidade e Registro Civil é tema da redação do Enem 2021





Professores acharam o tema mais difícil do que nos anos anteriores

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) desta edição é "Invisibilidade e Registro Civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil", segundo divulgou o Ministro da Educação, Milton Ribeiro, em suas redes sociais. Nesta edição, de acordo com Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o tema da redação é o mesmo tanto para o Enem impresso quanto para o digital.

A aplicação do Enem teve início hoje (21), com uma prova contendo a redação dissertativa-argumentativa e 90 questões objetivas: 45 delas dos componentes linguagens, códigos e suas tecnologias, e 45 de ciências humanas e suas tecnologias. Os candidatos terão até as 19h para terminar o exame. No próximo domingo (28), terão vez as provas de ciências da natureza e suas tecnologias, e matemática e suas tecnologias.

As notas do Enem podem ser usadas para acesso ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e ao Programa Universidade para Todos (ProUni). Para tanto, o candidato não pode tirar nota zero na redação. Os participantes do Enem podem ainda pleitear financiamento estudantil em programas do governo, como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), e se candidatar a uma vaga em instituições de ensino superior portuguesas que têm convênio com o Inep.

O que os professores acharam

Para o coordenador de Integração Pedagógica do SAS Plataforma de Educação, Vinicius Beltrão, o tema da redação desta edição foi mais difícil do que os temas de edições anteriores do Enem: “Se compararmos com as propostas de redação de anos anteriores, a barra subiu, é um tema bastante complexo, de dificuldade elevada, em especial para o candidato que está saindo do ensino médio. Vamos pensar que essa questão de registro civil para um adolescente de 17, 18 anos, é algo bastante distante uma vez que isso é responsabilidade dos familiares”, diz.

O tema, no entanto, segundo o professor, segue a linha de tratar de uma dificuldade social presente no Brasil. “É um problema muito grave e que merece discussão”. 

A professora de produção textual do colégio Mopi Júlia Langer concorda que a prova seguiu a mesma linha dos anos anteriores. “O Enem é uma prova muito crítica, que fala sobre problemas da nossa sociedade muito intrínsecos, problemas que impedem muitas vezes nosso desenvolvimento enquanto país”, diz. 

A estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é que cerca de 3 milhões de pessoas não possuam um registro civil, como certidão de nascimento. “Isso impede o acesso à cidadania, uma vez que não consegue acesso ao sistema público de saúde, ao SUS, não consegue registro para programas sociais, não tem acesso à educação, não pode fazer uma matricula numa escola pública, não tem algo básico”, diz, Júlia.

Para desenvolver uma boa redação, os professores ressaltam que os estudantes precisam estar atentos aos textos motivadores, que acompanham o tema. O enfoque a ser dado estará definido nos textos. De acordo com a professora de redação na plataforma Explicaê, Cainã Marques Vilanova, o tema é bastante amplo. “Meu receio é que os estudantes não consigam selecionar queriam falar de tudo. Se conseguirem manter a calma, eles vão conseguir, com certeza, escrever direitinho. Mas, tem que ter cuidado”.  

Associação que representa cartórios se manifesta

A Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), divulgou nota oficial em que disse "ver com orgulho" a escolha do tema da redação deste ano.  "Mais do que chamar a importância para um assunto de extrema relevância para o país afinal é no ato do registro civil de nascimento  que a criança passa a ter nome, sobrenome, nacionalidade, filiação e direitos à saúde e à educação, destaca o trabalho que os registradores civis vem realizando ao longo do tempo, como o registro de nascimento direto em maternidades (chamadas Unidades Interligadas), mutirões de combate ao subregistro (falta de registro) em aldeias indígenas, comunidades quilombolas e de população excluída, que resultaram na queda expressiva da falta de certidão de nascimento no Brasil, que até a década de 2000 estava na casa de dois dígitos e hoje corresponde a 2,1% dos nascidos vivos.", destacou a entidade em nota.

Motivos para nota zero 

Segundo o edital do Enem, são motivos para zerar a redação: 

• fuga total do tema proposto;

• não obediência ao tipo dissertativo-argumentativo;

• extensão de até sete linhas manuscritas, qualquer que seja o conteúdo, ou extensão de até dez linhas escritas no sistema Braille;

• cópia de texto(s) da Prova de Redação e/ou do Caderno de Questões sem que haja pelo menos oito linhas de produção própria do participante;

• impropérios, desenhos e outras formas propositais de anulação, em qualquer parte da folha de redação;

• números ou sinais gráficos sem função clara em qualquer parte do texto ou da folha de redação;

• parte deliberadamente desconectada do tema proposto;

• assinatura, nome, iniciais, apelido, codinome ou rubrica fora do local devidamente designado para a assinatura do participante;

• texto predominante ou integralmente escrito em língua estrangeira;

• folha de redação em branco, mesmo que haja texto escrito na folha de rascunho; 

• texto ilegível, que impossibilite sua leitura por dois avaliadores independentes.

Veja os temas das redações de anos anteriores: 

Enem 2009: O indivíduo frente à ética nacional

Enem 2010: O trabalho na construção da dignidade humana

Enem 2011:  Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado

Enem 2012: O movimento imigratório para o Brasil no século XXI

Enem 2013:  Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil

Enem 2014: Publicidade infantil em questão no Brasil

Enem 2015: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira

Enem 2016: Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil e Caminhos para combater o racismo no Brasil - Neste ano houve duas aplicações regulares do exame.

Enem 2017: Desafios para formação educacional de surdos no Brasil

Enem 2018: Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet

Enem 2019: Democratização do acesso ao cinema no Brasil

Enem 2020: O Estigma Associado às Doenças Mentais na Sociedade Brasileira (Enem impresso), O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil (Enem digital) e A falta de empatia nas relações sociais no Brasil (Enem PPL e reaplicação)

 

Confira outras notícias:

- Tema da redação mantém perspectiva social e dos direitos humanos, diz educador

“Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil” é a proposta de redação deste ano

“Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil” é o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2021, segundo publicação do Ministério da Educação (MEC), no Twitter, neste domingo (21).

A abordagem é a mesma para as modalidades de prova digital ou impressa, sendo que a redação deve ser manuscrita em ambos os casos.

“Vejo de maneira positiva o recebimento da notícia de que o tema da redação do Enem ainda mantém a perspectiva social e do ponto de vista dos direitos humanos”, relata o doutor em Língua Portuguesa Rudney Soares, diretor do Colégio Companhia de Maria, que fica em São Paulo.

Para o educador, o tema não foi óbvio por aqueles que prepararam os alunos ao longo do ano. “Acho que nem nas melhores expectativas alguém pensaria neste tema”. No entanto, à CNN, ele analisa que a possível interferência do governo na prova, que está sendo investigada pelo Tribunal de Contas da União, não foi capaz de tirar a qualidade crítica da redação.

“É um tema que, de certo modo, desmobiliza aquela opinião de que o Enem seria marcado por interferências muito fortes do ponto de vista político. O que nós vemos, hoje, é que, de fato, o Enem manteve a proposta de abordar temas socialmente relevantes, muito embora o de hoje não tenha sido tão discutido nos últimos anos.”

Rudney Soares comenta que a redação tem um peso muito grande no exame porque a escrita é uma habilidade que os seres-humanos desenvolveram há menos tempo se comparada com outras formas de comunicação.

“A escrita, diferente da fala e de outras habilidades que os seres humanos desenvolvem ao longo da vida, é muito recente. Há poucos milhares de anos que o ser-humano desenvolve a escrita como uma forma de se comunicar, então partiremos deste princípio, ela é difícil por natureza.”

O diretor também explica que o texto propicia avaliar a capacidade de reflexão e elaboração dos alunos sobre diversas matérias e conteúdos estudados.

“A escrita, num exame como o Enem ou outro vestibular, busca aferir o quanto os candidatos consolidaram a aprendizagem em outros componentes curriculares. É na redação que a matemática, a geografia, a história, a ciência, o estudo da literatura, todos os estudos se consolidam”, defende.

 

- Enem tem questões com a música 'Admirável Gado Novo' e indígenas

Pelo terceiro ano seguido a prova não trouxe questões sobre a ditadura militar

O primeiro dia de provas do Enem 2021 teve questão com a música "Admirável Gado Novo", do cantor Zé Ramalho, sobre populações indígenas e carcerária do país.

O exame começou neste domingo (21) com as provas de ciências humanas, linguagens e redação.

O professor de história, Guilherme Freitas, da escola Seb Lafaiete, diz que a questão com a música de Ramalho pedia ao candidato que interpretasse um trecho da letra da canção e a relacionasse com a exclusão vivida pela população.

"Surpreendentemente, diante de todas as denúncias que cercaram o Enem nos últimos dias, a prova voltou a trazer questões que abordam a história contemporânea brasileira. Ainda que a ditadura militar não tenha sido abordada, outros períodos importantes apareceram", conta Freitas.

Às vésperas do início do Enem, servidores do Inep, órgão responsável pela elaboração da prova, fizeram uma série de denúncias sobre assédio moral que sofreram para suprimir perguntas com temas considerados inadequados pela gestão do órgão.

Folha mostrou que o próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, para que houvesse questões que tratassem o Golpe Militar de 1964 como uma revolução.

Nenhuma questão da prova abordou a ditadura militar no país. Desde o início do governo Bolsonaro, o período histórico foi suprimido da prova.

"Ainda que não tenha abordado a ditadura militar, a prova deste ano voltou a falar da história contemporânea, o que é muito positivo e importante. O exame trouxe duas questões sobre Getúlio Vargas", dis Freitas.

Apesar das denúncias de pressão, a prova abordou questões sobre minorias, como população indígena, população carcerária e desigualdade de gênero.

Umas das questões, por exemplo, falou sobre as dificuldade de mulheres cientistas no século 19 diante da exclusão que sofriam com a sociedade patriarcal.

O tema da redação também surpreendeu os educadores por ter mantido o padrão de anos anteriores ao abordar assunto relacionado aos direitos humanos. Os candidatos tiveram que fazer uma dissertação sobre a "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil'.

 

Fonte: Agência Brasil - CNN Brasil - Folha