Cotidiano

Pandemia teve impacto no diagnóstico de retinopatia diabética





A pandemia de covid-19 causou uma queda brusca no número de atendimentos e procedimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em geral. Conforme a Fundação Oswaldo Cruz apontou em uma nota técnica divulgada este mês, só em termos de internações, foram registradas, de janeiro de 2020 a junho de 2021, 1,7 milhão de hospitalizações a menos que no período pré-pandêmico (janeiro de 2018 a junho de 2019).

A queda também atingiu procedimentos diagnósticos, que diminuíram quase 13% no último período. Incluindo os destinados à prevenção e promoção da saúde dos olhos. No começo desta semana, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) já tinha anunciado que a pandemia afetou a realização de consultas e cirurgias relacionadas à visão, derrubando em 35% o número de consultas oftalmológicas e em 27% o total de cirurgias realizadas pelo SUS no ano passado.

Agora, um novo levantamento do CBO estima que cerca de 2,3 milhões de procedimentos para diagnosticar a retinopatia diabética deixaram de ser realizados na rede pública entre janeiro e setembro de 2020, represando atendimentos que só este ano começaram a ser normalizados.

A estimativa do conselho se baseia no fato de que, nos primeiros nove meses de 2019 e de 2021, foram realizados, respectivamente, 5.854.835 e 5.569.661 procedimentos, enquanto no mesmo período de 2020, auge da pandemia no país, foram 3.810.020 atendimentos. Os números apresentados pelo CBO provém do Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS, alimentado com dados fornecidos pelas secretarias estaduais e municipais de saúde.

Associada a alterações nos níveis de glicose no sangue e a danos nos pequenos vasos da retina de pessoas diabéticas, a retinopatia diabética pode, no pior dos casos, levar à cegueira. Segundo a CBO, a doença é a principal causa da perda de visão entre pessoas de 20 a 64 anos de idade. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), mais de 10 milhões de brasileiros têm problemas associados à enfermidade – número que a entidade diz acreditar que pode ser maior, considerando a subnotificação de casos.

Mutirão

O CBO associa ao “efeito positivo da queda dos indicadores de morbidade e mortalidade causados pela covid-19 e do aumento da cobertura vacinal” contra o novo coronavírus o aumento de 46% do número de procedimentos realizados entre janeiro e setembro deste ano (5,56 milhões) em comparação ao resultado do mesmo período de 2020 (3,81 milhões)

Mas ainda que reconheça a “retomada gradual na produtividade do SUS”, o conselho manifesta preocupação com a “demanda reprimida” pela pandemia. A entidade assinala que, mesmo com o aumento dos procedimentos verificado nos nove primeiros meses deste ano, o resultado está aquém dos 5,85 milhões de atendimentos feitos no mesmo período de 2019.

Para auxiliar no atendimento à demanda reprimida, a entidade decidiu estimular oftalmologistas e entidades parceiras a intensificarem os exames capazes de identificar a doença. A partir das 9 horas deste sábado, o conselho dedicará 24 horas a uma maratona de prevenção e conscientização sobre a retinopatia diabética. Na ação, chamada 24 horas pelo diabetes, entidade transmitirá nas redes sociais entrevistas, debates, palestras e reportagens sobre o tema. Também serão oferecidos acessos a sessões individuais de teleorientação, com médicos oftalmologistas e de outras especialidades respondendo às principais dúvidas dos interessados.

O atendimento online estará disponível àqueles que realizarem agendamento prévio no site do evento. O interessado deve preencher um formulário e escolher o horário da consulta, o que lhe garante um link de acesso à uma sala privada, onde poderá conversar com profissionais dispostos a ouvir e esclarecer todas as dúvidas sobre os mais variados temas relacionados ao diabetes e à retinopatia diabética.

“Desde 2014, temos realizado ações coletivas de saúde, visando a prevenção, o diagnóstico e o tratamento precoces dos casos de retinopatia diabética. Contudo, em 2020, fomos obrigados a suspender nosso trabalho devido às restrições impostas pela pandemia. Este ano, percebemos que era hora de retomar nossa atuação”, explica o diretor-tesoureiro do CBO e coordenador do projeto, Pedro Carricondo.

Ministério

Consultado, o Ministério da Saúde informou à Agência Brasil que também realiza várias ações e estratégias destinadas a atender às demandas e necessidades em termos de saúde ocular da população, incluindo a retinopatia diabética.

Segundo a pasta, só entre 2019 e setembro deste ano, o SUS registrou 30,2 milhões de procedimentos de diagnose da doença e 55.662 procedimentos de tratamento com uso da fotocoagulação a laser.

Quanto ao levantamento realizado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), o ministério afirmou não ser possível fazer nenhuma consideração sem antes analisar a íntegra da pesquisa. Ainda assim, destacou que o atendimento aos pacientes do SUS é efetuado pelas secretarias de saúde dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.

“Sendo assim, é de responsabilidade local a regulação do acesso assistencial do paciente aos procedimentos de diagnóstico da retinopatia diabética, de modo que não compete ao Ministério da Saúde prover ou incentivar a realização de mutirões de atendimentos para a retinopatia diabética em todo o país”, informou a pasta em nota enviada à Agência Brasil.

“Cabe ressaltar que a alta demanda identificada em 2020 é por conta da pandemia covid-19 e à reorganização de toda a rede para o atendimento dos casos suspeitos e confirmados com a doença. Alguns gestores locais optaram por medidas locais de suspensão e adiamento de [atendimento] ambulatorial e de cirurgias, com o objetivo principal de preservar a saúde e integridade das pessoas, evitando o seu deslocamento para ambientes ambulatoriais e hospitalares os quais não raro estavam dedicados ao acolhimento dos casos de covid-19”, completa o ministério.

 

- Consumo de açúcar na primeira infância é fator de risco para cáries

Crianças de zero a seis anos que consomem açúcar com alta frequência estão muito suscetíveis ao aparecimento de cáries. Estudo desenvolvido na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, em um ambulatório odontológico mostrou que oito em cada dez crianças atendidas ingeriam alimentos açucarados e tinham cáries. De 86 casos analisados, a doença bucal foi encontrada em 86,2% da amostra.

Segundo os pesquisadores, o consumo de açúcar se dava já a partir dos nove meses, inclusive na mamadeira. “A gente percebia que a maioria nos procurava quando já tinha alguma dor ou quando tinha algum processo para tratar. Na sua maioria, não se procura atendimento de forma preventiva, como orientação, para saber como está a saúde bucal”, aponta Fernanda Ortiz, coautora do trabalho.

Ela explica que, embora sejam dentes de leite, a falta de cuidados nos anos iniciais são também para o futuro. “Prejudica a erupção e a formação do dente permanente, que é o dente de adulto. Ele não vai nascer de maneira imediata, apenas quando for mais velho. Prejudica toda a formação e o nascimento desse dente permanente”, aponta a pesquisadora, que é odontopediatra.

A cárie tem relação direta com o açúcar. “É uma doença comportamental, é um processo complexo que existe com a formação da placa bacteriana. Essas bactérias se alimentam principalmente do açúcar, produzem ácidos e esses ácidos entre aspas corroem o dente e começam o processo de destruição dentário, que é a cárie”, explica Fernanda. Ela destaca que esta é uma das doenças mais prevalentes na infância.

Nesse sentido, tanto a escovação quanto a diminuição ou mesmo a não ingestão de açúcar são os principais meios de prevenção. “A gente comenta que é muito mais fácil conseguir controlar a nutrição da criança e a da família, do que pedir pra essa criança ou a família escovar o dente toda vez que ingerir algum alimento açucarado”, orienta a odontopediatra.

Ela lembra que a recomendação é não ingerir açúcar até os dois anos de idade e depois dessa faixa etária ingerir a menor quantidade possível. E, com o nascimento do primeiro dente, fazer a escovação com creme dental com flúor.

De acordo com divulgação da Agência Bori, o trabalho foi publicado nesta sexta-feira (19) na Revista Gaúcha de Odontologia.

Fonte: Agência Brasil