Cotidiano

COP26: Brasil apoia declaração internacional para proteger florestas





O governo brasileiro manifestou nesta terça-feira (2) seu apoio à declaração internacional de líderes mundiais para preservar as florestas e reduzir o desmatamento e a degradação dos solos até 2030. O anúncio faz parte de acordo realizado durante a Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP26), em Glasgow, na Escócia.

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, atualmente, quase um quarto (23%) das emissões mundiais de gases de efeito estufa (GEEs) vem da agricultura e da indústria madeireira. Juntos, os mais de 100 países signatários do compromisso histórico, como Rússia, Estados Unidos, China, Austrália e França, concentram mais de 85% das florestas do mundo, uma área superior a 21 milhões de quilômetros quadrados.

O anúncio da “Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso do Solo” aconteceu em evento convocado pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, com participação do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e da presidente da Comissão da União Europeia (EU), Ursula von der Leyen, e prevê o equivalente a cerca de R$ 108 bilhões em financiamento público e privado.

Parte dos recursos virá de financiamento por 12 países – como Estados Unidos, Reino Unido, Noruega, Alemanha, Coreia do Sul, integrantes da União Europeia, Canadá e Japão –, com cerca de R$ 68 bilhões previstos até 2025. O objetivo é apoiar iniciativas em países em desenvolvimento, incluindo a restauração de terras degradadas, o combate a incêndios florestais e o apoio aos direitos das comunidades indígenas.

Já o setor privado – representado na COP26 por CEOs de mais de 30 instituições financeiras – responderá por mais R$ 41 bilhões em financiamentos. Desse total, R$ 17 bilhões devem ir para a iniciativa Finanças Inovadoras para a Amazônia, Cerrado e Chaco (IFACC, na sigla em inglês), visando a promover a produção de soja e gado sem desmatamento na América Latina. Dirigentes dessas instituições também irão se comprometer a não investir mais em atividades ligadas ao desmatamento.

Declaração

A declaração conjunta será adotada por mais de 100 países onde se situam 85% das florestas mundiais, entre elas, a floresta boreal do Canadá, a Floresta Amazônica e a floresta tropical da bacia do Congo. O objetivo da iniciativa é limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius acima dos valores médios da era pré-industrial.

Os signatários também reafirmam seus compromissos com o Acordo de Paris e outros tratados internacionais na área ambiental. Além disso, reconhecem que, para se chegar às metas de desenvolvimento sustentável, serão exigidos mais esforços de integração entre produção, consumo, infraestrutura, comércio, finanças e investimentos. 

A declaração menciona ainda o apoio a produtores rurais, povos indígenas e comunidades que dependem desses biomas para sua sobrevivência – uma população estimada em cerca de 1,6 bilhão de pessoas em todo o mundo.

Confira outras notícias:

União Europeia promete 1 bilhão de euros para proteger florestas

Contribuição faz parte de pacote financeiro maior, de US$ 12 bilhões

Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen

A União Europeia (UE) se comprometeu, nesta terça-feira (2), a gastar 1 bilhão de euros de seu orçamento nos próximos cinco anos para proteger as florestas, incluindo 250 milhões de euros para países da Bacia do Congo, na África Central.

"Precisamos ouvir melhor as comunidades indígenas, os produtores, os consumidores e os comerciantes. Ouvir uns aos outros, trabalhar uns com os outros, para impedir o desmatamento", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no Conferência do Clima (COP26) em Glasgow, na Escócia.

A contribuição da UE faz parte de um pacote financeiro maior, de US$ 12 bilhões, para proteger, restaurar e administrar de forma sustentável as florestas nos países mais pobres. Entre os outros doadores estão a Grã-Bretanha, Noruega, os Estados Unidos e o Japão.

- De Rondônia para Glasgow: quem é a jovem indígena que discursou na COP26

Txai Suruí, de 24 anos, contou aos líderes mundiais que seu amigo de infância foi morto por proteger a floresta e pediu ações imediatas pelo clima

Txai Suruí na COP26, em Glasgow, na EscóciaTxai Suruí na COP26, em Glasgow, na Escócia Foto: ONU News 

A jovem indígena Txai Suruí, de 24 anos, saiu de Rondônia e chegou até Glasgow, na Escócia, para discursar diante de líderes mundiais na COP26, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas.

Da mesma plenária onde discursaram o premiê britânico, Boris Johnson, o chefe da ONU, António Guterrres, entre outras autoridades mundiais, Txai pediu ações imediatas pelo clima. Ela abriu sua fala lembrando do pai, o cacique Almir Suruí.

“Meu nome é Txai Suruí, eu tenho só 24, mas meu povo vive há pelo menos 6 mil anos na floresta Amazônica. Meu pai, o grande cacique Almir Suruí, me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a Lua, o vento, os animais e as árvores.”

Segundo ela, a Terra está dando sinais de que mudanças favoráveis ao clima são fundamentais. “A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo. Precisamos tomar outro caminho com mudanças corajosas e globais. Não é 2030 ou 2050, é agora”, disse a jovem. Txai é estudante de Direito e fundou o Movimento da Juventude Indígena em Rondônia.

A ativista do povo Paiter Suruí revelou aos líderes mundiais que seu amigo, o líder indígena Ari Uru-Eu-Wau-Wau, foi morto em abril de 2020.

“Enquanto vocês estão fechando os olhos para a realidade, o guardião da floresta Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo de infância, foi assassinado por proteger a natureza”, diz Txai na plenária da COP26.

Ari foi encontrado morto na Linha 625 de Tarilândia, distrito de Jarucom, em Rondônia, com sinais de espancamento às vésperas do Dia do Índio, celebrado em 19 de abril. Ele integrava um grupo de vigilância para fiscalizar e denunciar as invasões na terra indígena Uru-eu-wau-wau.

Ari e seu primo Awapy já sofriam ameaças de morte feitas por grileiros que cooptam terras da região.

Em sua fala, Txai afirmou que os povos indígenas estão “na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui”.

Em outubro, a jovem se tornou conselheira da World Wide Fund For Nature no Brasil (WWF Brasil).

“Nós temos ideias para adiar o fim do mundo”, disse a jovem – evocando o livro do líder indígena Ailton Krenak, “Ideias para adiar o fim do mundo” (Cia das Letras). A obra critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza e faz reflexões sobre o meio ambiente.

“Vamos frear as emissões de promessas mentirosas e irresponsáveis; vamos acabar com a poluição das palavras vazias, e vamos lutar por um futuro e um presente habitáveis. É necessário sempre acreditar que o sonho é possível”, concluiu Txai em sua fala na COP26.

Cacique Almir Suruí e o povo indígena Paiter Suruí

Almir Narayamoga Suruí foi eleito cacique geral do povo Paiter Suruí em setembro e tem ampla participação em debates sobre a preservação do meio ambiente, inclusive em eventos internacionais.

Ele vive na terra indígena Sete de Setembro, em Cacoal, no estado de Rondônia.

Nas redes sociais, Almir aparece ao lado de políticos e defensores do meio ambiente em diversos países. Ele e a filha se posicionam contrários ao Marco Temporal sobre terras indígenas.

Em maio, Almir Suruí foi intimado a depor em um inquérito aberto na Polícia Federal (PF) em razão de divulgações na internet que, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), difamavam o governo federal.

Na época, Sonia Guajajara, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), também foi intimada a prestar depoimento sob a mesma acusação. As intimações foram alvo de requerimento na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara dos Deputados, e consideradas abuso de autoridade. O inquérito, no entanto, foi arquivado.

- COP26: O emotivo apelo da rainha Elizabeth 2ª aos participantes da cúpula do clima

A Rainha em vídeo mostrado na cúpula da COP26

Buckingham Palace/PA Wire

Rainha Elizabeth 2ª disse esperar que líderes na COP26 "se elevem acima da política do momento"

A Rainha exortou os líderes mundiais na Cúpula do Clima em Glasgow (COP26), na Escócia, a agirem como verdadeiros chefes de Estado e criarem um "futuro mais seguro e estável" para o planeta.

Em uma mensagem de vídeo, ela disse que muitas pessoas esperam que "a hora das palavras se torne agora a hora da ação".

Ela os exortou a agir "por nossos filhos e os filhos de nossos filhos" e para que eles se elevem acima das diferenças políticas do momento.

A rainha acrescentou que tem "grande orgulho" de como seu "querido marido falecido", o príncipe Philip (duque de Edimburgo), promoveu as questões ambientais.

A monarca de 95 anos era esperada na conferência das Nações Unidas em Glasgow. Mas ela acabou cancelando sua participação após ser aconselhada a descansar por seus médicos. Ela gravou seu pronunciamento na semana passada no Castelo de Windsor, uma de suas residências reais.

Seu filho, o príncipe Charles, e seu neto, o príncipe William, estão participando da conferência COP26, considerada como um encontro crucial para limitar o aumento da temperatura global e as mudanças climáticas.

Em seu pronunciamento, a rainha lembrou como o "impacto do meio ambiente no progresso humano era um assunto que estava no coração" do duque de Edimburgo. Ela se referiu ao alerta dele em um encontro acadêmico de 1969 sobre os perigos de não se enfrentar a poluição.

Elizabeth 2ª disse: "É uma fonte de grande orgulho para mim que o papel principal que meu marido desempenhou em encorajar as pessoas a proteger nosso frágil planeta, continue vivo por meio do trabalho de nosso filho mais velho Charles e de seu filho mais velho William".

"Eu não poderia estar mais orgulhosa deles."

A rainha disse que também tirou "grande conforto e inspiração do entusiasmo implacável de pessoas de todas as idades — especialmente os jovens — ao convocar todos a fazerem a sua parte".

Ela disse: "Nos próximos dias, o mundo terá a chance de se unir ao objetivo comum de criar um futuro mais seguro e estável para nosso povo e para o planeta do qual dependemos".

"Nenhum de nós subestima os desafios que temos pela frente: mas a história mostra que quando as nações se unem em uma causa comum, sempre há espaço para esperança."

Ela acrescentou: "É a esperança de muitos que o legado desta cúpula — escrito em livros de história ainda a serem impressos — os descreva como os líderes que não perderam a oportunidade; e que vocês responderam ao chamado das gerações futuras".

"Que vocês deixaram esta conferência como uma comunidade de nações com uma determinação, um desejo e um plano para enfrentar o impacto da mudança climática; e reconhecer que a hora das palavras agora se tornou a hora da ação".

"É claro que os benefícios de tais ações não estarão lá para serem desfrutados por todos nós aqui hoje: nenhum de nós viverá para sempre."

"Mas não estamos fazendo isso por nós mesmos, mas por nossos filhos e pelos filhos de nossos filhos, e por aqueles que seguirão seus passos."

Antes da COP26, câmeras flagraram a rainha em uma conversa, aparentemente irritada com pessoas que "falam" mas "não agem" quando se trata de questões climáticas.

Discursando na abertura da conferência no início do dia, o Príncipe de Gales exortou os líderes mundiais a agirem, dizendo que entendia que muitos países não podem se dar ao luxo de "se tornarem verdes".

Em vez disso, disse ele, é preciso haver uma "grande campanha de estilo militar para reunir a força do setor privado global", que tem trilhões de dólares à sua disposição.

"A escala e o escopo da ameaça que enfrentamos exigem uma solução global de nível de sistema, baseada na transformação radical de nossa atual economia baseada em combustíveis fósseis para uma que seja genuinamente renovável e sustentável", disse ele.

Fonte: Agência Brasil - CNN Brasil - BBC News Brasil