Cotidiano

Governo Biden propõe novas regras para limitar emissões de metano





No curto prazo, gás de efeito estufa é cerca de 80 vezes mais potente do que o dióxido de carbono; medida cortaria 41 milhões de toneladas de emissões de metano de 2023 a 2035

O governo de Joe Biden propôs novas regras para várias agências federais dos Estados Unidos com o mesmo objetivo: reduzir as emissões de metano, que causam o aquecimento do planeta.

No centro do anúncio está uma regulamentação da Agência de Proteção Ambiental (EPA) que pressionaria as empresas de petróleo e gás a detectar, monitorar e reparar vazamentos de metano de poços, dutos e outros equipamentos novos e existentes.

A EPA estima que a medida cortaria 41 milhões de toneladas de emissões de metano de 2023 a 2035 – mais do que todo o dióxido de carbono emitido por carros de passageiros e aviões comerciais nos EUA, em 2019.

O metano é um gás de efeito estufa cerca de 80 vezes mais potente do que o dióxido de carbono no curto prazo, e especialistas disseram à CNN que reduzir os vazamentos de metano é uma das maneiras mais fáceis de desacelerar o aquecimento global.

É o principal componente do gás natural, que abastece cerca de 40% do setor elétrico dos Estados Unidos. Pode entrar na atmosfera por meio de vazamentos de poços de petróleo e gás natural, dutos de gás natural e do próprio equipamento de processamento. Aterros sanitários e a agricultura também são fontes de emissões de metano.

A proposta da EPA surge no momento em que Biden participa da cúpula do clima da ONU em Glasgow, na Escócia, onde os países estão reunidos para aumentar as ambições de descarbonizar suas economias.

“Com esta ação histórica, a EPA está abordando as fontes existentes da indústria de petróleo e gás natural em todo o país, além de atualizar as regras para novas fontes, para garantir cortes robustos e duradouros na poluição em todo o país”, disse o administrador da agência, Michael Regan, em comunicado.

A regra do EPA sob o governo Biden é mais abrangente do que as medidas adotadas no governo do ex-presidente Barack Obama, que cobriam apenas equipamentos novos e modificados recentemente.

Também regularia o gás natural que vem como um subproduto da produção de petróleo, que muitas vezes é liberado no ar ou queimado, e cobriria vazamentos de estações de compressão e controladores pneumáticos a gás, todos os quais podem ser fontes de vazamentos de metano.

Se as regras forem implementadas, a agência diz que isso resultaria em um novo monitoramento de rotina em 300.000 poços em todo o país.

“Ao todo, a estimativa é que cerca de 75% de todas as emissões de metano serão cobertas por esta regra da EPA”, disse um funcionário do alto escalão governo a repórteres. “O metano é obviamente uma questão chave para os EUA.”

O Departamento de Interior (DOI) e a Administração de Segurança de Dutos e Materiais Perigosos (PHMSA) do Departamento de Transporte também anunciaram uma regra para lidar com o potente gás de efeito estufa.

A regra proposta pelo DOI combateria as emissões de poços em terras públicas ao desencorajar a ventilação e queima, enquanto o PHMSA está estendendo os regulamentos federais a todos os gasodutos de coleta de gás em terra, exigindo que as empresas monitorem e relatem vazamentos e informações de segurança.

O Departamento de Agricultura dos EUA se concentrará em maneiras de capturar o metano da agricultura, trabalhando com os agricultores para identificar maneiras de cortar a emissão do gás na cadeia alimentar.

Embora 30% das emissões de metano do país venham da indústria de petróleo e gás, também é importante combater a emissão de metano em aterros sanitários e na agricultura, enfatizaram as autoridades.

O governo Biden tem procurado maneiras de atingir a meta do presidente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa dos EUA em cerca de 50% até 2030.

A administração tenta mostrar uma ação executiva forte para conseguir apoio à agenda climática de Biden no Congresso, especialmente porque alguns senadores não apoiaram explicitamente a estrutura econômica que contém a maioria das medidas climáticas dos democratas.

Uma dessas medidas é uma taxa que seria cobrada das empresas de petróleo e gás que emitem metano acima de um certo limite, junto com US$ 775 milhões em subsídios e incentivos para ajudar as empresas a ficarem abaixo do limite.

“A taxa e as regras devem ser ferramentas complementares”, disse Jon Goldstein, do Fundo de Defesa Ambiental, à CNN.

“As regras são críticas porque, se projetadas corretamente, garantem reduções abrangentes em todas as áreas. A taxa tem a capacidade de aumentar as regulamentações, levando a reduções mais rápidas e potencialmente adicionais.”

O governo está colocando ênfase na redução das emissões de metano tanto no país quanto no exterior, na esperança de ajudar a limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius, que os cientistas dizem que o mundo deve ficar abaixo para evitar os piores impactos da mudança climática.

As emissões de metano do petróleo e gás “são o fruto mais fácil, a maior fonte industrial de emissões de metano” nos Estados Unidos, disse Goldstein.

Grupos ambientalistas também dizem que tampar vazamentos é bom para os resultados financeiros dos produtores de petróleo e gás, uma vez que muito produto potencial está escapando para a atmosfera.

“No final das contas, o que está vazando é um produto que pode ser vendido”, disse Julie McNamara, diretora-adjunta de política de clima e energia da Union of Concerned Scientists.

- COP26: países se comprometem em reduzir emissão de gás metano em 30%

O metano é considerado um potente gás do efeito estufa, que tem contribuído para a crise climática; Brasil participa de tratativas para integrar acordo

Mais de 80 países se juntaram a um esforço liderado pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE) para reduzir as emissões do potente gás de efeito estufa metano em 30% até 2030.

O pacto visa combater uma das principais causas das mudanças climáticas, disse um alto funcionário do governo de Joe Biden. A parceria entre as nações será lançada formalmente ainda nesta terça-feira (2). O metano é o principal gás de efeito estufa depois do dióxido de carbono.

O metano tem um potencial de retenção de calor maior do que o CO2, mas se decompõe na atmosfera mais rapidamente – o que significa que a redução das emissões de metano pode ter um impacto rápido no controle do aquecimento global.

Global Methane Pledge, que foi anunciado pela primeira vez em setembro, agora inclui metade dos 30 principais emissores de metano, responsáveis ​​por dois terços da economia global, de acordo com o funcionário do governo Biden.

Em fala na COP26, Biden reforça compromisso

Em Glasgow, Biden reforçou o compromisso de reduzir as emissões de metano e afirmou que a medida pode reduzir, inclusive, doenças respiratórias como a asma.

“Isso vai fazer uma grande diferença. E não apenas quando se trata de combater as mudanças climáticas, como [a presidente da UE, Ursula von der Leyen] apontou. Saúde física dos indivíduos e uma gama de outras coisas. Vai melhorar a saúde, reduzir a asma e emergências respiratórias, e também melhorar o suprimento de alimentos, reduzindo a perda de safras e a poluição no nível do solo”, disse o presidente norte-americano.

A redução, segundo Biden, “vai impulsionar nossas economias, economizando dinheiro para as empresas, reduzindo vazamentos de metano, capturando metano e transformando-o em novas fontes de receita e também criando empregos com bons salários para nossos trabalhadores”.

Brasil está em fase de tratativas

O Brasil – um dos cinco maiores emissores mundiais de metano – está na fase de tratativas para se juntar aos demais países neste acordo.

China, Rússia e Índia, que também estão entre os cinco maiores emissores de metano, não assinaram o compromisso. Estes países foram todos incluídos em uma lista identificada como “alvos” para aderir ao compromisso.

Desde que foi anunciado pela primeira vez em setembro, os Estados Unidos e a União Europeia trabalharam para fazer com que os maiores emissores de metano do mundo aderissem à parceria.

Sessenta países se inscreveram na última semana

Cerca de 60 países se inscreveram apenas na semana passada, após um empurrão diplomático final dos Estados Unidos e da UE antes da cúpula da COP26.

Embora não faça parte das negociações formais da ONU, a promessa de redução da emissão de metano pode ser classificada entre os resultados mais significativos da conferência COP26, dado seu impacto potencial em conter as mudanças climáticas desastrosas.

Em maio, um relatório da ONU disse que cortes acentuados nas emissões de metano nesta década poderiam evitar quase 0,3 grau Celsius de aquecimento global até 2040.

Deixar de lidar com o metano, no entanto, afastaria o objetivo do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 C acima dos níveis pré-industriais e evitar os piores impactos das mudanças climáticas.

O corte de 30% do metano seria alcançado em conjunto pelos signatários e cobriria todos os setores. As principais fontes de emissões de metano incluem infraestrutura com vazamento de óleo e gás, antigas minas de carvão, agricultura e aterros sanitários.

Impacto no setor de energia

Se cumprida, a promessa provavelmente terá o maior impacto no setor de energia, já que analistas dizem que consertar a infraestrutura de petróleo e gás com vazamentos é a maneira mais rápida e barata de reduzir as emissões de metano.

Os Estados Unidos são o maior produtor mundial de petróleo e gás, enquanto a UE é o maior importador de gás.

Os EUA devem anuciar as regulamentações de metano para petróleo e gás esta semana. A UE e o Canadá planejam divulgar uma legislação sobre o metano direcionada ao setor de energia ainda neste ano.

Fonte: CNN Brasil