Cultura

Papa: pedir tudo a Jesus, pois Ele tudo pode





A exemplo de Bartimeu, ter uma fé concreta, insistente e corajosa - exortou o Papa - expondo com confiança o coração diante do Senhor e levando a Ele nossa história e os rostos que fazem parte de nossa vida.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

“Quando a fé é viva, a oração é sincera: não mendiga trocados, não se reduz às necessidades do momento. A Jesus, que tudo pode, deve ser pedido tudo. Ele não vê a hora para derramar sua graça e sua alegria em nossos corações”.

A fé concreta, insistente e corajosa de Bartimeu nos foi apresentada como exemplo pelo Papa Francisco, ao refletir no Angelus deste 30º Domingo do Tempo Comum sobre a narrativa apresentada no Evangelho de Marcos (Mc 10, 46-52).

Dirigindo-se aos milhares de fiéis e turistas reunidos na Praça São Pedro, em um belo domingo de outono, o Papa começa destacando a importância deste encontro entre Bartimeu - “um cego que mendiga ao longo do caminho” – e Jesus, que se preparava para entrar em Jerusalém para a Páscoa.

A fé, raiz do milagre

Se os gritos de Bartimeu "Filho de Davi, Jesus, tem piedade de mim" incomodaram a multidão e os apóstolos, não passaram desapercebidos de Jesus, que percebe que sua voz “é cheia de fé, uma fé que não tem medo de insistir, de bater no coração de Deus, apesar da incompreensão e repreensões. E aqui – ressaltou o Papa - está a raiz do milagre. Na verdade, Jesus lhe disse: ‘A tua fé te curou’”.

Ou seja, “a fé de Bartimeu, transparece pela sua oração. Não é uma oração tímida, uma oração convencional. Antes de tudo, ele chama o Senhor de "Filho de Davi", isto é, o reconhece como Messias, o Rei que vem ao mundo. Depois o chama pelo nome, com confiança: "Jesus". Não tem medo dele, não se distancia. E assim, de coração, grita ao Deus amigo todo o seu drama: 'Tem piedade de mim!'".

Não pede algum trocado como faz com os transeuntes. Não, não. Aquele que tudo pode, pede tudo. Às pessoas pede trocados, a Jesus, que pode fazer tudo, pede tudo: “Tem piedade de mim, tem piedade de tudo o que sou”. Não pede uma graça, mas apresenta a si mesmo: pede misericórdia para a sua pessoa, para a sua vida. Não é um pedido pequeno, mas é belíssimo, porque invoca a piedade, isto é, a compaixão, a misericórdia de Deus, a sua ternura.

Apresentar-se inteiramente ao Senhor, como somos 

“Bartimeu não usa muitas palavras - recorda Francisco -  diz o essencial e confia-se no amor de Deus, que pode fazer a sua vida voltar a florescer realizando o que é impossível aos homens”:

Por isso, não pede esmola ao Senhor, mas manifesta tudo, a sua cegueira e o seu sofrimento, que iam além do não poder ver. A cegueira era a ponta do iceberg, mas em seu coração haveria feridas, humilhações, sonhos desfeitos, erros, remorsos. E ele rezava com o coração.

"E nós - pergunta o Papa - quando pedimos uma graça a Deus, colocamos também na oração a nossa própria história: as feridas, as humilhações, os sonhos desfeitos, os erros, os remorsos?"

E ao sugerir para fazermos nossa a oração “Filho de David, Jesus, tem piedade de mim!”, o Papa exorta a nos perguntarmos: "Como vai a minha oração?":

É oração corajosa, tem a boa insistência daquela de Bartimeu, sabe "agarrar" o Senhor que passa, ou contenta-se em dar-lhe uma saudação formal de vez em quando, quando me lembro? Estas orações mornas não ajudam nada.

Fé viva, oração sincera

Depois – acrescentou Francisco - também podemos nos perguntar se “nossa oração é “substanciosa”, expõe o coração diante do Senhor: levo a ele a história e os rostos da minha vida? Ou é anêmica, superficial, feito de rituais sem afeto e sem coração?“:

Quando a fé é viva, a oração é sincera: não mendiga trocados, não se reduz às necessidades do momento. A Jesus, que tudo pode, tudo deve ser pedido. Não se esqueçam disso. A Jesus que tudo pode, deve ser pedido tudo, com a minha insistência diante d'Ele. Ele não vê a hora para derramar sua graça e sua alegria em nossos corações, mas infelizmente somos nós que mantemos distância, talvez por timidez, ou preguiça ou descrença. Tantos de nós, quando rezamos, não acreditamos que o Senhor possa realizar o milagre.

Oração insistente e corajosa

Para ilustrar o resultado de uma oração insistente e expectante, o Papa voltou a contar uma história ocorrida quando era arcebispo na Argentina: com a filha pequena desenganada pelos médicos, um pai viajou 70 km de ônibus até um Santuário mariano. Mesmo estando fechado, ele passou a noite agarrado às grades do portão rezando e clamando: "Senhor, salva-a. Senhor, dá a ela a vida". Ao voltar ao hospital na manhã seguinte, encontrou a esposa que chorava, mas não de tristeza: "Não se entende, não se entende. Os médicos dizem algo estranho: parece curada".

"Aquele grito daquele homem que pedia tudo, foi ouvido pelo Senhor que lhe havia dado tudo", disse o Papa, acrescentando: "Esta não é uma história, eu vi isso"!:

“Mas temos coragem na oração? Peçamos tudo àquele que pode dar tudo, como Bartimeu, que é um grande mestre, um grande mestre na oração nisto.”

Que Bartimeu – disse ao concluir - seja um exemplo para nós com a sua fé concreta, insistente e corajosa. E que Nossa Senhora, a Virgem orante, nos ensine a dirigir-nos a Deus de todo o coração, confiando que Ele escuta atentamente cada oração.

- O Papa: Ajudemos os refugiados na Líbia, ouço seus gritos!

Na Praça São Pedro, ao final do Angelus, Francisco denunciou as condições desumanas em que se encontram milhares de refugiados e requerentes de asilo no país do norte da África. Disto, o apelo à comunidade internacional para que dê prioridade ao resgate de vidas no mar e garanta rotas migratórias regulares e acesso aos procedimentos de asilo: “Por um fim ao regresso dos migrantes a países inseguros”

Salvatore Cernuzio - Cidade do Vaticano

“Prioridade ao resgate de vidas humanas no mar”, “condições de vida dignas, alternativas à detenção”, “percursos regulares de migração e acesso a procedimentos de asilo”. Da janela do Palácio Apostólico no Vaticano, Francisco dirige seu olhar para a Líbia e suas tragédias, em primeiro lugar aquela de muitos refugiados vítimas de violência sem precedentes, e elabora uma lista para a comunidade internacional de quais são as urgências que ela deve enfrentar imediatamente a fim de resolver o problema de uma situação desumana que se prolongou por muito, muito tempo.

"Eu nunca esqueço de vocês ..."

No final do Angelus, o Papa expressa, antes de tudo, a sua proximidade pessoal “aos milhares de migrantes refugiados e a outros necessitados de proteção na Líbia”. Para eles, Francisco pronuncia palavras de apoio, movido por uma profunda preocupação e uma viva comoção.

“Eu nunca esqueço de vocês. Eu ouço seus gritos e oro por vocês”

O apelo à comunidade internacional

A denúncia do Papa ressoa forte na Praça de São Pedro: “Muitos destes homens, mulheres e crianças são submetidos a violências desumanas”, disse o Bispo de Roma. E "mais uma vez" pede à comunidade internacional "que cumpra as suas promessas de buscar soluções comuns, concretas e duradouras para a gestão dos fluxos migratórios na Líbia e em todo o Mediterrâneo".

“E quanto sofrem aqueles que são mandados de volta ... Lá existem verdadeiros campos de concentração.”

Não ao retorno de migrantes a países inseguros

“É preciso por um fim com o retorno dos migrantes a países inseguros”, diz o Papa, que junto com isso pede para “dar prioridade ao resgate de vidas humanas no mar com dispositivos de resgate e desembarque previsíveis, para garantir a eles condições de vida dignas alternativas à detenção, percursos regulares de migração e acesso aos procedimentos de asilo”.

Todos somos responsáveis

Francisco chama todos os católicos do mundo a não permanecerem indiferentes diante deste drama contemporâneo, a não vê-lo como algo distante ou grande demais para poder agir: “Todos nos sintamos responsáveis ​​por estes nossos irmãos e irmãs, que há tantos anos são vítimas desta gravíssima situação”, afirma o Papa, um convite inequívoco que se concretiza numa ação imediata, pequena mas necessária: a oração.

Rezemos juntos por eles, em silêncio....

O alarme para um barco à deriva 

Na praça lotada de 12 mil fiéis, onde brilha um sol quase primaveril, por alguns momentos só se ouve o som dos pássaros e o choro de uma criança. O silêncio é quebrado pelos aplausos a este forte apelo do Papa, que surge poucas horas depois dos avistamentos na manhã deste domingo de barcos à deriva no Mediterrâneo, "em fuga" do país do Norte de África.

Trata-se de um barco com problemas de motor, à mercê das ondas e do vento, com 68 pessoas a bordo, incluindo muitas crianças, segundo a Alarm Phone,serviço telefônico para migrantes em dificuldade no mar. Foi pedido uma intervenção urgente e dado o alarme para que a recente tragédia do bote semi-afundado com 60 migrantes a bordo não se repita.

ACNUR ao governo da Líbia: plano urgente é necessário para requerentes de asilo 

No sábado, 23, por outro lado, o convite da ACNUR, a Agência da ONU para os Refugiados, ao governo da Líbia para responder à situação desesperadora dos requerentes de asilo e refugiados de uma forma que respeite a dignidade e os direitos humanos.

As batidas e prisões arbitrárias realizadas recentemente pelas autoridades líbias em áreas habitadas principalmente por refugiados e requerentes de asilo causaram de fato inúmeras mortes e levaram milhares de pessoas à detenção, muitas perderam suas casas ou estão agora reduzidas à pobreza.

"Desde o início das batidas e prisões conduzidas pelas autoridades líbias em outubro por razões de segurança, vimos uma deterioração drástica na situação dos requerentes de asilo e refugiados vulneráveis ​​em Trípoli", disse Vincent Cochetel, enviado especial da ACNUR para o oeste e Mediterrâneo central. “É necessário que as autoridades líbias elaborem um plano eficaz que respeite seus direitos e identifique soluções duradouras”.

- O agradecimento do Papa aos missionários que dão testemunho de Jesus a um alto preço

Nas saudações após o Angelus, o Papa aplaude os anunciadores que levam o Evangelho onde não é conhecido, "não por proselitismo", e recorda as novas Beatas: Irmã Lúcia da Imaculada e a jovem Sandra Sabattini.

Alessandro De Carolis - Cidade do Vaticano

Os aplausos da Praça de São Pedro dirigiram-se àquelas fronteiras geográficas e culturais extremas, que os missionários do século XXI alcançam levando o Evangelho, não sem riscos muito graves. Os aplausos, no Dia Mundial das Missões, são pedidos diretamente por Francisco, que então aplaude juntamente com os 12 mil presentes na Praça São Pedro. A gratidão do Papa é dirigida aos “sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis leigos”, apóstolos contemporâneos que, como afirma, estão “na linha da frente”.

Gastam suas energias a serviço da Igreja, pagando em primeira pessoa - às vezes um preço alto - por seu testemunho. E o fazem, não para fazer proselitismo, mas para dar testemunho do Evangelho em suas vidas em terras que não conhecem Jesus.

 

As novos Beatas, serviço e entusiasmo

Pouco antes, Francisco havia pedido uma primeira salva de palmas para as duas Beatas que entre sábado e hoje passam a ser veneradas, Da Irmã Lúcia da Imaculada, das Servas da Caridade, beatificada em Brescia, o Papa recorda sua característica de “mulher mansa e acolhedora”, falecida aos 45 anos “depois de uma vida passada ao serviço do próximo, mesmo quando a doença a enfraqueceu no corpo, mas não no espírito”.

 De Sandra Sabattini - a estudante de medicina falecida aos 22 anos num acidente de automóvel - o traço em evidência é antes de tudo o da "jovem alegre, animada por grande caridade e oração quotidiana", a "serviço dos mais fracos" com entusiasmo, "na esteira do carisma do Servo de Deus Dom Oreste Benzi”.

As outras saudações de Francisco aos diversos grupos da praça são dirigidas aos participantes da Semana Social dos Católicos Italianos que se encerra em Taranto, aos membros das comunidades peruana e filipina, às religiosas capitulares das Filhas do Sagrado Coração de Jesus, à Comunidade Emmanuel. A seguir, uma saudação especial aos participantes da "maratona" de Treviso a Roma e àqueles que estão percorrendo o "Caminho" da Sacra di San Michele ao Monte Sant'Angelo, entre os quais também o engenheiro que sofre de ALS, Matteo Gamerro.

Fonte: Vatican News