Cotidiano

57 mil detidos: número de brasileiros cruzando fronteira do México para EUA aumenta 8 vezes em um ano e bate recorde





O número de brasileiros cruzando ilegalmente a fronteira sul dos Estados Unidos bateu recorde histórico no ano fiscal de 2021 (que vai de 1º de outubro de 2020 a 30 de setembro de 2021). Ao todo, foram 56.881 detidos, um aumento de 700% em relação ao mesmo período de 2020.

Os dados foram divulgados pelo órgão americano de Alfândega e Proteção de Fronteiras.

Só em setembro, 10.471 tentaram a travessia, a maior marca durante o período.

A maioria tentou entrar no país pelo Estado do Arizona (36.682 ou 65% do total).

O número total de brasileiros cruzando ilegalmente a fronteira sul dos EUA nesse ano fiscal (56.881) superou em quase oito vezes o total de 2020 (ou seja, de 1º de outubro de 2019 a 30 de setembro de 2020), quando o contingente de detidos nessa rota migratória foi de 7.161.

Até então, o auge da migração ilegal de brasileiros havia ocorrido em 2019, quando cerca de 18 mil tentaram entrar nos EUA ilegalmente pela fronteira terrestre com o México.

A queda de 2019 para 2020 se deveu, em grande parte, à pandemia de covid-19.

Dos 56.881 brasileiros detidos na fronteira com o México, a maioria tentou completar a jornada com suas famílias (43.790 ou 77%). Já 12.898 eram adultos viajando sozinhos. O restante — 188 — eram menores de idade e crianças desacompanhadas, e cinco eram menores de idade acompanhados.

Com o aumento dos que tentam a travessia ilegal, o Brasil já é a sexta nação com o maior número de imigrantes detidos pelas autoridades americanas na fronteira sul do país, atrás do México, Honduras, Guatemala, El Salvador, Equador, nessa ordem.

Está à frente, por exemplo, de países como Nicarágua, Cuba, Colômbia e Venezuela que, historicamente, enviavam mais imigrantes irregulares aos EUA.

Para se ter ideia do tamanho desse fluxo registrado em 12 meses, é como se, em média, 156 brasileiros fossem detidos por dia ao tentar acessar os EUA a pé pela fronteira com o México.

Em setembro deste ano, um grupo de 140 brasileiros foi flagrado por operadores de câmeras de segurança durante a travessia. Em seguida, eles se entregaram a agentes da Patrulha de Fronteira do Setor Yuma e foram detidos.

Na ocasião, Chris T. Clem, chefe da Patrulha de Fronteira do Setor Yuma, postou as imagens em sua conta pessoal no Twitter e escreveu:

"Agentes da Patrulha de Fronteira detiveram um grupo de 140 migrantes brasileiros nesta manhã. Até o momento, neste mês, os agentes se depararam com uma média diária de mais de 600 migrantes, um aumento de mais de 2.000% em relação ao ano passado".

Brasileiros foram flagrados e, em seguida, se entregaram a agentes da Patrulha de Fronteira do Setor Yuma

O Setor Yuma é responsável por patrulhar o sudeste do Estado americano do Arizona. Sua jurisdição se estende por 470 mil quilômetros quadrados em uma área entre os Estados da Califórnia e do Arizona.

Também em setembro, agentes encontraram o corpo da técnica de enfermagem Lenilda dos Santos, 49, no deserto de Deming, no Estado do Novo México.

Natural de Rondônia, ela morreu ao ser abandonada, sem água e comida, pelo grupo que cruzava para os Estados Unidos a pé.

No mesmo mês, imigrantes brasileiros foram descobertos na carroceria de um caminhão tentando entrar ilegalmente nos EUA pela fronteira do México com Sierra Blanca, no Texas.

E nesta terça-feira (19/10), o secretário de Estado americano, Antony Blinken, conversou com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, para discutir a imigração regional "sem precedentes" e maneiras de colaborar para diminuir o número de imigrantes indo para o norte, informou o Departamento de Estado do EUA.

Na conversa, Blinken e França discutiram "os movimentos migratórios irregulares sem precedentes pelo hemisfério", e como os dois países podem trabalhar juntos para "conter o fluxo descontrolado e crescente de imigrantes irregulares na região", segundo o porta-voz do órgão, Ned Price.

O México, por sua vez, deve passar a exigir visto para visitantes brasileiros, de acordo com um documento do Ministério do Interior mexicano. Desde 2004, o país não exige o documento para brasileiros, o que torna mais fácil a entrada dos imigrantes e, consequentemente, sua jornada rumo ao norte. 

Segundo a agência de notícias Reuters, Washington tem, desde julho, pedido ao México a imposição de exigência de vistos para brasileiros. 

Crise migratória

Os EUA passam por uma crise migratória sem precedentes sob o governo do democrata Joe Biden.

No cômputo geral, mais de 1,7 milhão de pessoas tentaram atravessar a fronteira entre os Estados Unidos e o México no ano fiscal de 2021 — um recorde histórico.

Recentemente, imagens de agentes da patrulha de fronteira açoitando migrantes haitianos que tentavam completar a travessia repercutiram ao redor do mundo e levaram a um pedido de desculpas público de Biden.

Mas autoridades americanas continuaram com as deportações, culminando com a renúncia do enviado especial dos EUA para o Haiti dois meses após sua nomeação.

"Não vou me associar à decisão desumana e contraproducente dos Estados Unidos de deportar milhares de refugiados haitianos e imigrantes ilegais ao Haiti", afirmou o enviado especial do Departamento de Estado, Daniel Foote, em sua carta de renúncia.

 
Confira outras notícias: 
- EUA dizem que mataram líder da Al Qaeda na Síria com ataque de drones

Investida ocorre dois dias depois que um posto avançado dos Estados Unidos no sul da Síria foi atacado

Os militares dos Estados Unidos mataram o líder da Al Qaeda Abdul Hamid al-Matar em um ataque de drones na Síria disse um porta-voz do Comando Central dos EUA.

“A remoção deste líder sênior da Al Qaeda interromperá a capacidade da organização terrorista de planejar e realizar ataques globais que ameaçam cidadãos dos EUA, nossos parceiros e civis inocentes”, disse o major do Exército dos EUA, John Rigsbee, em um comunicado.

Investida ocorre dois dias depois que um posto avançado dos EUA no sul da Síria foi atacado. Rigsbee não disse se o ataque do drone nos EUA foi realizado em retaliação.

- Otan tenta disfarçar própria crise com novo plano contra a Rússia

Aliança militar ocidental enfrenta crise de liderança dos EUA e divergências internas

Em meio a uma crise de liderança de seu principal membro, os Estados Unidos, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) lançou mão do seu motivo de existência para mostrar alguma unidade no primeiro encontro presencial de seus ministros de Defesa desde a pandemia.

Após um encontro de dois dias, encerrado em Bruxelas, a aliança militar ocidental concordou em colocar em prática um plano para tentar resistir ao que chamam de agressão russa nas regiões dos mares Báltico e Negro.

Nada foi revelado, mas foi vazado à imprensa que os preparativos incluíam a previsão de ataques com armas nucleares, guerra cibernética e tecnologia espacial. Nada além do que já está no cardápio do clube criado para conter a União Soviética na Europa em 1949, o que reforça o caráter de tergiversação do anúncio.

"Isso confirma vivamente a correção da decisão russa, adotada vários dias atrás, acerca de encerrar o diálogo oficial [com a Otan]. Qualquer diálogo sob tais condições é simplesmente desnecessário", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

O corte de relações ocorreu após a Otan determinar que a missão russa junto à aliança fosse reduzida de 20 para 10 pessoas, expulsando 8 diplomatas acusados de espionagem. No dia 18, a Rússia suspendeu a sua missão em Bruxelas e mandou fechar o escritório do grupo em Moscou.

Lá fora

Receba no seu e-mail uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo; aberta para não assinantes.

Ao jogar holofotes sobre seus problemas com o país de Vladimir Putin, que também nesta sexta criticou duramente o que chamou de valores "monstruosos" do Ocidente numa conferência, a Otan buscou disfarçar sua crise interna.

Apesar das promessas do governo de Joe Biden de reatar os laços esgarçados pela turbulenta Presidência de Donald Trump, os EUA são hoje vistos com extrema desconfiança pelos aliados europeus.

No centro disso está a retirada americana do Afeganistão. Ainda que prevista num acordo com o Talibã assinado no ano passado, ela foi uma decisão exclusiva dos EUA, que tinham no país menos da metade do número de soldados que seus aliados da Otan mantinham.

O resultado foi a retirada caótica e com centenas de vítimas registrada em Cabul, além da retomada militar do Afeganistão pelo grupo fundamentalista que havia sido expulso pelos mesmos ocidentais do poder em 2001.

Naturalmente, isso não transpareceu em comunicados oficiais. O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, afirmou após a reunião que seu país continua comprometido com a aliança atlântica, mas passou mais tempo botando panos quentes sobre a declaração de Biden acerca do compromisso de defender Taiwan da China.

China, terra do meio

Receba no seu e-mail os grandes temas da China explicados e contextualizados; exclusiva para assinantes.

Antes do começo do encontro, o secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, havia dito que a missão ocidental no Afeganistão não havia sido um fracasso. Mas admitiu que havia divergência de percepção da retirada entre europeus e americanos e que o encontro permitiria debater isso de forma franca.

Outro tema central é o foco americano no Indo-Pacífico, que ganhou intensidade nos últimos meses, a começar pelo fim do dispêndio de energia no caso afegão.

A Otan já concordou que a China é uma possível adversária, mas vários de seus integrantes são contrários a uma posição mais agressiva ante Pequim por serem parceiros comerciais do gigante asiático.

O pacto militar de Washington e Londres com a Austrália, por exemplo, gerou enorme desconforto nos franceses, que perderam um bilionário acordo para venda de submarinos à nação na Oceania.

Novamente, em público nada se falou sobre isso. O bode, contudo, segue na sala. Em uma reunião preparatória para o encontro, realizada há algumas semanas em Riga (Letônia), diplomatas franceses deixaram a mesa numa discussão sobre o caso australiano com americanos e britânicos.

A França também provocou tremores dentro da aliança ao firmar uma pacto bilateral com a Grécia mirando outro membro da Otan, a Turquia. Atenas é rival histórica de Ancara, e Paris também alimenta grande antipatia no governo de Recep Tayyip Erdogan.

Ao permitir uma defesa mútua em caso de ataque por outro membro da Otan, o princípio de proteção externa comum a todos os integrantes da aliança foi desafiado. De quebra, Erdogan tem estreitado laços militares com o Kremlin.

Com tudo isso, mais fácil falar mal do velho inimigo de todos, a sempre assertiva Rússia. Se não há detalhes ainda sobre o que o plano de contenção trará, tampouco é segredo que as relações com Moscou estão no pior nível desde o fim da Guerra Fria.

Além do corte de contatos, há a questão da aproximação da Ucrânia com a Otan, as disputas fronteiriças entre a aliada de Moscou Belarus e membros da Otan como a Polônia, a intensificação de abordagens mútuas justamente no Báltico e no mar Negro —uma fragata britânica recebeu tiros de advertência na costa da Crimeia em julho.

E os russos têm avançado em diversas áreas, como no desenvolvimento de mísseis hipersônicos e em exercícios militares elaborados. Segundo a ministra da Defesa alemã, Annegret Kramp-Karrenbauer, o plano "é o caminho da dissuasão". Ninguém falou, contudo, em qualquer risco de conflito iminente.

Fonte: BBC News Brasil - CNN Brasil - Folha