Política

Bolsonaro distorce números para dizer que gás e gasolina estão baratos





O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) distorceu uma série de dados durante sua live para dizer que a gasolina e o gás de cozinha não estão caros. Bolsonaro ignorou os sucessivos aumentos dos preços dos dois produtos em 2021, assim como o fato de que, em ambos os casos, a fatia que vai para a Petrobras é a que mais pesa no valor final.

A gasolina tá cara? Não tá cara a gasolina, não. Não tá R$ 6,00, R$ 6,50, R$ 7,00, não é verdade. Tá custando na refinaria, o litro da gasolina, R$ 1,95, em média. O imposto federal, na casa dos R$ 0,70, valor fixo desde janeiro quando eu assumi. Então, tá na ordem de R$ 2,70 o preço da gasolina. O que ultrapassa o R$ 2,70, pra chegar a R$ 5,70? Aí é o frete, margem de lucro e ICMS. O ICMS, em média, é o dobro do imposto federal. Agora, quando aumenta na refinaria, que aumenta sim, é pouco, mas aumenta, o ICMS acompanha."Presidente Jair Bolsonaro em live semanal

A afirmação de que o litro da gasolina custa R$ 1,95 na refinaria é FALSA. O preço a que Bolsonaro se refere é o do litro da mistura de 73% de gasolina com 27% de etanol — que é a gasolina comum. Após o aumento da semana passada, o valor médio do litro na refinaria chegou a R$ 2,03, segundo a própria Petrobras.

A outra parte da declaração do presidente é DISTORCIDA, porque usa dados verdadeiros fora de contexto e omite informações para passar uma percepção enganosa sobre o preço da gasolina.

O preço da gasolina nas refinarias da Petrobras acumula alta de 51% só em 2021. O último aumento foi anunciado na semana passada. O valor que cabe à estatal representa aproximadamente um terço da composição do preço do combustível, mais do que qualquer imposto ou margem de lucro de revenda.

Os impostos federais sobre a gasolina de fato não foram reajustados por Bolsonaro, mas o valor dos tributos para a gasolina é superior ao mencionado pelo presidente. Segundo dados da Fecombustíveis (Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes), o PIS/Cofins está em R$ 0,79 por litro e a Cide, em R$ 0,10 por litro — ou seja, os impostos federais somam R$ 0,89 por litro, mais que os R$ 0,74 citados por Bolsonaro. O peso dos tributos federais só chega à "casa dos R$ 0,70" citada por Bolsonaro (R$ 0,68 por litro) após a adição do etanol à gasolina.

Já o ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) é um imposto estadual que incide na forma de um percentual sobre o valor do combustível que sai das refinarias. Assim, na prática, ele sobe à medida que o preço sobe na origem. As alíquotas variam de 25% a 34% (veja aqui a alíquota de seu estado).

O gás de cozinha tá caro? R$ 130, em média. Mas vou falar o contrário. Não tá caro. Custa R$ 45 quando ele é engarrafado. O que eu fiz? Zerei o imposto federal.Presidente Jair Bolsonaro em live semanal

A declaração de Bolsonaro é DISTORCIDA, porque aproveita dados reais para fazer uma alegação enganosa — no caso, a de que o gás de cozinha não está caro e que zerar o imposto federal tem grande impacto para baixar o preço do produto.

O corte promovido por sua gestão desonerou a cadeia em apenas R$ 2,18, o que representa 2,3% do preço médio no país do GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), conhecido como gás de cozinha, como mostrou checagem do Projeto Comprova em junho.

O desconto do governo acabou absorvido pelos outros fatores que compõem o preço do gás de cozinha, principalmente pelos reajustes nas refinarias da Petrobras. Hoje, 48,2% do valor final corresponde ao preço da Petrobras e 37%, à distribuição e revenda. O produto tem sofrido sucessivos aumentos em 2021.

Já a carga tributária dos estados equivale a 14,8% do valor final, embora a alíquota mude entre os entes federativos. O tributo não sofreu alterações da alíquota. Ainda assim, se todos os estados eliminassem o ICMS, o impacto ao consumidor chegaria a R$ 12, em média.

O preço médio do gás de cozinha no Brasil está em R$ 93,45, segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo) para a semana de 8 a 14 de agosto — mas chegou ao máximo de R$ 130 na região Centro-Oeste, o valor citado pelo presidente. A média nacional do preço do gás quando sai das refinarias da Petrobras é de R$ 46,88, próximo ao número mencionado pelo presidente.

Terminamos dezembro de 2020 com mais gente empregada com carteira assinada do que em 2019.Presidente Jair Bolsonaro em live semanal

A afirmação é INSUSTENTÁVEL, pois não tem amparo nos dados públicos disponíveis para consulta. Bolsonaro fez uma comparação indevida, já que houve mudanças nos métodos de cálculo de empregos.

O saldo total de carteiras assinadas ao final de 2020 foi de 38,95 milhões, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Em 2019, o Brasil fechou o ano com 39,05 milhões de empregos formais.

No entanto, o Ministério da Economia, responsável pelo levantamento, mudou a metodologia de cálculo de empregos formais, o que impede a comparação dos resultados de 2020 com anos anteriores. A pesquisa passou a usar dados mais abrangentes, incluindo trabalhadores temporários, que não eram contabilizados antes.

Além disso, o dado mais utilizado para avaliar o desempenho da economia é o saldo de empregos gerados — ou seja, o resultado considerando as contratações e demissões que aconteceram no mês ou no ano. O saldo de emprego no final do ano passado foi equivalente a apenas 22% do valor de 2019. Foram criadas 142.690 vagas com carteira assinada em 2020, ante 644.079 em 2019 (lembrando que houve a mudança de metodologia em 2020).

Considerando apenas o mês de dezembro, o saldo foi pior em 2019 do que em 2020: foram 67.906 postos perdidos em dezembro de 2020, ante 307.311 no mesmo mês do ano anterior.

Outro dado relevante para se avaliar o desempenho da economia é a taxa de desemprego. A PNAD/Contínua, divulgada pelo IBGE, registrou um desemprego recorde no Brasil ao final de 2020, com uma taxa de 13,5% de desempregados, o que corresponde a 13,4 milhões de pessoas. Em 2019, o desemprego era de 11,9%.

Os dados divulgados pelo IBGE e pelo Ministério da Economia adotam metodologias diferentes. O IBGE é mais amplo e aborda também trabalhadores informais e pessoas em busca de emprego.

No corrente ano, a média mensal de novos empregos ultrapassa 200 mil.Presidente Jair Bolsonaro em live semanal

A afirmação é VERDADEIRA. Segundo a nova metodologia do Caged, foram criados 1,5 milhão de postos de trabalho no primeiro semestre de 2021, o que equivale, em média, a mais de 200 mil carteiras assinadas por mês. Foram 9.588.085 contratações, antes 8.051.368 demissões no período.

Perda para o Brasil no momento, possíveis calotes [no BNDES], US$ 1,5 bilhão, quase R$ 8 bilhões. É o orçamento anual do Tarcísio [Freitas, ministro da Infraestrutura] (...) Imagine você dobrando de R$ 8 [bilhões para R$ 16 bilhões o orçamento da Infraestrutura."Presidente Jair Bolsonaro em live semanal

A declaração sobre os possíveis calotes de outros países no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) é VERDADEIRAsegundo dados do próprio banco. Segundo o BNDES, os pagamentos atrasados de Venezuela (US$ 572 milhões), Cuba (US$ 165 milhões) e Moçambique (US$ 122 milhões) somavam US$ 859 milhões até julho, e estes três países ainda têm outros US$ 717 milhões por vencer. Com isso, as possíveis dívidas em atraso ultrapassam US$ 1,5 bilhões — valor correspondente a cerca de R$ 8,1 bilhões, segundo a cotação do dia no site do Banco Central.

A fala do presidente sobre o orçamento do Ministério da Infraestrutura está SEM CONTEXTO, já que Bolsonaro não detalha a qual parte da despesa ele se refere. Há montantes previstos para despesas obrigatórias e discricionárias (ou seja, despesas em que o governo possui autonomia para escolher onde gastar). O valor previsto para despesas discricionárias da pasta de fato, inferior a R$ 8 bilhões.

No entanto, no Portal da Transparência, a despesa prevista no orçamento anual do Ministério da Infraestrutura consta como superior a R$ 23 bilhões, embora este valor contenha pagamentos ainda em andamento — e com juros — de anos anteriores. Até agosto de 2021, já foram gastos R$ 2,73 bilhões pela pasta.

Depois de ataques, Bolsonaro diz que aceita conversar com Moraes e Barroso

O presidente esteve em Cuiabá (MT), onde falou com a imprensa e participou de evento promovido pela Funai e pela Secretaria de Governo Isac Nóbrega/PR - 19.ago.2021

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que está aberto ao “diálogo” caso ministros do Judiciário queiram conversar para “chegar a um acordo:. Em tom diferente daquele dos últimos dias, o chefe do Executivo se dispôs a dialogar com os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) que critica: Alexandre de Moraes e Roberto Barroso. Disse ainda que poderia conversar com o ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Luis Felipe Salomão.

Converso com o senhor Alexandre de Moraes, se quiser conversar comigo. Converso com o senhor Barroso, se quiser conversar comigo. Converso com o senhor Salomão, se quiser conversar comigo. Ele fala o que ele acha que tá certo, eu falo o que está para o lado de cá. E vamos chegar num acordo”, disse durante viagem a Cuiabá (MT) nesta 5ª feira (19.ago.2021).

Não estou atacando ninguém, nenhuma instituição. Algumas poucas pessoas que estão turvando as águas do Brasil. Quero paz, quero tranquilidade”, declarou o chefe do Executivo.

Bolsonaro afirmou que um “problema” entre os Poderes reflete na cotação do dólar, que impacta na população. “Toda vez que há um problema se mexe no dólar. Mexeu no dólar, mexe no preço do combustível, tem inflação. Tem dor de cabeça. Para o povo todo, em especial, o mais pobre, o mais humilde. É pedir muito o diálogo? Da minha parte nunca vou fechar as portas para ninguém”, disse.

O presidente também disse nesta 5ª feira (19.ago) que “não haverá rupturainstitucional, mas afirmou que é “provocado o tempo todo”. A defesa do voto impresso foi a principal divergência do chefe do Executivo com o ministro Barroso, que é presidente do TSE. O Tribunal enviou notícia-crime contra Bolsonaro por ataques contra o sistema eleitoral. Alexandre de Moraes aceitoua notícia-crime e incluiu o presidente no inquérito das fake news.

Também irritou o presidente a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson, determinada por Moraes. O presidente criticou ainda decisão de Luis Felipe Salomão de desmonetizar páginas na internet que publicam conteúdos contra as urnas eletrônicas. Para Bolsonaro, as decisões dos ministros ameaçam a “liberdade” das pessoas.

Gostaria até que não tivesse o 7 de Setembro fora das paradas militares, mas o que está em jogo, pessoal, é a nossa liberdade“, disse. O presidente anunciou que participará de atos no Dia da Independência em Brasília e São Paulo. Nesta 5ª feira (19.ago), também afirmou, sem citar o STF diretamente, que há uma “supressão da liberdade por parte de alguns poucos que habitam a Praça dos Três Poderes”.

ATAQUES

Em 6 de agosto, Bolsonaro se referiu ao presidente do TSE como “aquele filho da puta do Barroso”. A fala foi transmitida em visita a Santa Catarina, ao vivo, na conta oficial do presidente no Facebook por volta de 14h50. Às 15h19, a live já tinha sido apagada. Diferentemente do que costuma fazer, a equipe do presidente não publicou o vídeo na página do chefe do Executivo.

Em 10 de julho deste ano, Bolsonaro disse que o ministro teria defendido a redução da maioridade de vulneráveis estuprados. “Ministro esse que defende a redução da maioridade para estupro de vulnerável, ou seja, a pedofilia é o que ele defende. Ministro que defende a legalidade das drogas. Com essas bandeiras todas, ele não devia estar no Supremo. Devia estar no Parlamento. Lá é o local de cada um defender a sua bandeira”, afirmou o presidente na ocasião.

O STF soltou nota no mesmo dia dizendo que a afirmação é falsa. Em julgamento de 2017, o ministro votou em sentido inverso ao apontado por Bolsonaro: manteve a continuidade de uma ação movida contra um rapaz de 18 anos acusado de manter relações sexuais com uma menina de 13 anos.

Já os xingamentos a Barroso se tornaram uma constante nos discursos de Bolsonaro. Em 9 de julho, o presidente chamou o ministro de “idiota” e “imbecil”. As declarações foram dadas porque Barroso, atual presidente do TSE, não concorda com a adoção do comprovante impresso de voto, defendido pelo presidente.

Governo estuda cortar subsídios para zerar PIS/Cofins do diesel, diz Bolsonaro

Segundo Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes já está ciente da medida. Equipe estuda como cortar subsídios para bancar o projeto Sérgio Lima/Poder360 - 1.out.2019

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que o governo estuda zerar os impostos PIS/Confins que incidem sobre o diesel. A medida dependerá de cortes em subsídios: “Estamos trabalhando nesse sentido, temos que reduzir 10% dos subsídios no corrente ano e, quando há redução, há margem para você chegar a outro local”.

Bolsonaro completa: “Pretendo, não vou dizer que vou conseguir, conversei com Paulo Guedes. Mas existe uma chance, não me cobrem porque está em estudo ainda, para nós zerarmos o PIS/Cofins do diesel a partir de janeiro do ano que vem. Nós arrecadamos, o governo federal, na ordem de R$ 17 bilhões do PIS/Cofins do diesel. Temos que achar algo compensador para isso. Não é dar canetada. Tem a lei de responsabilidade fiscal”.

PANDEMIA NO FIM E EMPREGO

Bolsonaro também afirmou que o governo fez “mais do que sua parte” para ajudar a manter o emprego dos brasileiros durante a pandemia –que, de acordo com ele, está chegando ao fim. Segundo o IBGE, 14,8 milhões de pessoas estão desempregadas no país. Os dados são da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua.

“O Governo federal fez mais do que sua parte. Mesmo durante a pandemia, com programas como o Bem e o Pronampe, terminamos dezembro de 2020 com mais gente com carteira assinada que em 2019. […] O mundo começou a consumir mais no período da pandemia e essa, se Deus quiser, estamos chegando ao fim. Se Deus quiser. Pelo que tudo parece, se não tiver nova cepa, estamos no fim”, afirmou.

EMBATE COM OUTROS PODERES

Em um aceno ao judiciário, Bolsonaro disse estar aberto para o “diálogo” caso ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) queiram conversar para “chegar a um acordo”. O tom adotado destoa dos ataques proferidos pelo presidente ao Judiciário nas últimas semanas. No sábado (14.ago), o presidente ameaçou pedir ao Senado abertura de processo contra Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.

Fonte: UOL - Poder360