Política

Bolsonaro critica Fux e promete reduzir pressão sobre voto impresso





Presidente sugere que houve corporativismo do STF em defesa pública de Barroso após seus ataques

O presidente Jair Bolsonaro criticou nesta quinta-feira (12) o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Luiz Fux, por ter saído em defesa de seu colega Luís Roberto Barroso, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Em entrevista à Rádio Jovem Pan de Maringá (PR), Bolsonaro sugeriu que houve “corporativismo” da corte. “O próprio ministro do Supremo Tribunal Federal, presidente Fux, na sua nota, disse que 'mexeu com um, mexeu com todos'. Não é assim."

"Se um militar aqui faz alguma coisa de errado, eu sou militar, o que nós fazemos? A gente investiga. Se tiver responsabilidade, vai pagar o preço. Altíssimo. Agora, não pode ter corporativismo nessas questões”, completou o presidente.

Na semana passada, a ameaça de Bolsonaro de usar armas "fora das quatro linhas da Constituição" irritou ministros do STF e levou Fux a fazer um discurso contundente. Fux disse que Bolsonaro não cumpre a própria palavra e cancelou reunião entre os chefes dos Três Poderes que havia convocado.

clima entre Bolsonaro, STF e TSE esquentou após o presidente insistir nos ataques às urnas eletrônicas e na insinuação de que há um complô para fraudar as eleições de 2022 a fim de evitar sua vitória no pleito.

O Judiciário voltou do recesso disposto a dar uma resposta dura a Bolsonaro.

Primeiramente, a corte eleitoral decidiu, por unanimidade, abrir um inquéritopara apurar as acusações feitas pelo presidente, sem provas, de que o TSE frauda as eleições. Depois, Barroso assinou uma queixa-crime contra chefe do Executivo e recebeu o aval do plenário da corte eleitoral para enviá-la ao STF.

Também na semana passada, o corregedor-geral do TSE, ministro Luís Felipe Salomão, solicitou ao Supremo o compartilhamento de provas dos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos com a ação que pode levar à cassação de Bolsonaro.

No mesmo dia, Moraes aceitou a queixa-crime de Barroso e incluiu Bolsonaro como investigado no inquérito das fake news.

Nesta quinta-feira, na mesma entrevista na qual ouviu perguntas sem nenhum tom crítico, o presidente disse que iria reduzir a pressão pela adoção do voto impresso, mas em seguida voltou a insinuar, sem provas, que as eleições no Brasil não são seguras. Bolsonaro disse ter "ouvidos falar" sobre as suspeitas.

“Vou diminuir a pressão da minha parte, vou diminuir a pressão, sim, porque tem muita coisa para fazer pelo Brasil, mas não podemos esquecer, porque se esse pessoal conseguir, no ano que vem, não me cobrem nome do país, por favor, botar alguém sentado na minha cadeira presidencial mais simpático a outras ideologias."

"Porque alguns poucos países têm interesse enorme no Brasil, nós seremos fazenda desse país”, afirmou Bolsonaro, sem especificar a qual nação se referia.

Folha mostrou que os ataques de Bolsonaro ao TSE horas após a derrota da PEC do voto impresso deixou sob pressão Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados.

Líder do centrão, Lira colocou a proposta em votação na terça (10) dizendo ter obtido um compromisso do presidente da República de que respeitaria a decisão do plenário da Casa.

Bolsonaro, porém, manteve a retórica golpista já no dia seguinte, provocando cobranças de parlamentares sobre a conduta do presidente da Câmara —que já enfrenta há meses pressão para a análise de algum dos mais de cem pedidos de impeachment do chefe do Executivo.

Em outro trecho da entrevista, Bolsonaro disse que a missão do STF é tratar das questões constitucionais, mas que "alguns poucos, como Barroso, fazem política". O presidente tem feito ataques a ministros do Supremo, especialmente Barroso e Alexandre de Moraes, na discussão sobre as urnas eletrônicas.

A PEC que alterava a forma de votação para o ano que vem foi derrotada no plenário da Câmara na terça-feira (10), mas o presidente mantém o discurso em defesa do voto impresso.

Mesmo depois da derrotada da PEC na Câmara, Bolsonaro insiste em questionar a lisura das eleições. Na entrevista desta manhã, levantou ainda a possibilidade de eleições para governadores e senadores serem fraudadas no ano que vem. “Poderiam, não estou afirmando."

“Vamos conviver com essa sombra de dúvida. Não é sombra não, isso aí é tempo fechado."

Para ser aprovada, a proposta precisava do apoio de 308 deputados, mas recebeu 229 favoráveis e 218 contrários. Bolsonaro havia prometido a Arthur Lira, presidente da Casa, que respeitaria o resultado do plenário, mas insistiu no tema, o que deixou o deputado sob forte pressão, como mostrou a Folhanesta quinta-feira (12).

Na entrevista, Bolsonaro voltou a apostar na retórica anticomunista que marcou a sua campanha ao Planalto e disse que a economia da Argentina parece não ter salvação. "Nós devemos aprender com os erros dos outros”, disse ele.

“Lamentavelmente parece que no tocante à economia não tem como salvar a Argentina. Não queremos fazer no Rio Grande do Sul uma operação acolhida, como fizemos em Roraima", declarou Bolsonaro.

“Estou ansioso”, diz Bolsonaro sobre depoimento de Barros à CPI da Covid

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta 5ª feira (12.ago.2021) que está “ansioso” para o depoimento do líder do Governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). O deputado será ouvido pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid no Senado nesta 5ª. Deu a declaração para a Rádio Jovem Pan, de Maringá (PR).

Hoje vai chegar o dia, também estou ansioso para isso, para ele [Barros] na CPI, que é um deputado experiente e vai lá explicar o que aconteceu. Ponto final“, disse Bolsonaro. O chefe do Executivo repetiu que o governo não adquiriu doses da vacina Covaxin. As negociações do imunizante pelo Ministério da Saúde são alvo de investigação pela CPI.

Ricardo Barros foi citado por Luis Miranda (DEM-DF) em seu depoimento à Comissão. Segundo Miranda, ao relatar para o presidente as suspeitas de irregularidades na compra do imunizante indiano, o nome de Barros teria sido citado por Bolsonaro. Barros nega envolvimento na compra da vacina.

Na entrevista, Bolsonaro disse que preferiu ficar “quieto” ao ouvir as declarações de Luis Miranda sobre o envolvimento de Barros.

Ele [Miranda] esperou 4 meses para falar e agora ele quer me jogar contra o Ricardo Barros. Eu fico quieto. Como não defendo Ricardo Barros? Ricardo Barros é líder do governo na Câmara. Se eu demito ele da liderança do Governo, aí sim podiam pensar de maneira diferente“, disse.

Fonte: Folha de São Paulo e Poder360