1ª Leitura Jó 38,1.8-11 | Salmo: 106| 2ª Leitura: 2Cor 5,14-17| Evangelho: Mc 4,35-41
| MACAPÁ (AP) | Por Dom Pedro José Conti
O piloto comunica aos passageiros durante o voo:
Um dos passageiros pergunta ao padre que estava sentado ao seu lado:
Peço desculpa pela brincadeira, mas, às vezes, é isso mesmo que acontece: confiar em Deus e não ter mais nenhuma esperança são a mesma coisa. Se
enxergássemos ainda alguma possibilidade, provavelmente, nem pensaríamos nele. Será, então, que a fé em Deus serve somente nas horas difíceis da vida ou, na prática, não serve mesmo para nada? Qual lugar, tempo ou espaço Deus ocupa nos dias “normais”?
O Evangelho de Marcos deste 12º Domingo do Tempo Comum nos fala de uma tempestade que o barco, com Jesus e os discípulos, enfrenta durante a travessia do mar da Galileia. Todos ficam apavorados com medo que a barca afunde e os leve para o abismo. Todos não, porque Jesus dorme tranquilamente, como se nada estivesse acontecendo. Os discípulos o acordam com uma pergunta dramática que é pedido e provocação ao mesmo tempo: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?” (Mc 4, 38). Jesus atende ao pedido e manda a tempestade se acalmar. À provocação – se lhe importava ou não da vida dos seus amigos – responde com uma pergunta: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé? (v.39). Como sempre, Jesus surpreende pelo poder, porque o vento e o mar lhe obedecem, mas também por colocar em questão a fé dos discípulos. Primeiro, Jesus responde ao pavor deles e manda calar as forças da natureza. Com isso, deixa entender que se importa muito com as suas vidas. Estava dormindo sim, mas não zomba da fraqueza daqueles homens, conhecia bem as fragilidades deles que são também as nossas. Dessa vez, ele mesmo resolveu a situação. Foi suficiente acordá-lo.
O nosso Deus, não é um ser caprichoso e imprevisível, ou, pior, vingativo, alguém que goste de fazer sofrer os seres humanos. Ele está conosco, nos ama muito e quer que todos tenhamos vida e vida em abundância (Jo 10,10). No entanto, quantas outras vezes rezamos e imploramos a Deus para que nos ajude numa determinada circunstância e ele parece não responder, parece ausente, ele estando na sua divina tranquilidade e nós no pior desespero. É nesse momento que Jesus reclama da falta de fé dos discípulos. Porque ter fé significa, justamente, continuar a acreditar e a confiar em Deus, também nas horas difíceis, quando ele parece nos ter abandonado. Alguns acham que ter fé seja dizer a Deus o que ele deve fazer e que ele tenha mesmo que estar sempre pronto a obedecer às nossas ordens. Caso contrário, seria um Deus mau e se tornaria inútil acreditar nele. É verdade que Jesus disse: “Tudo o que, na oração, pedirdes com fé, vós o recebereis” (Mt 21,22), mas será que isso vale para “tudo” mesmo? Com certeza, nós pedimos saúde, dinheiro, sorte, felicidade e vida cômoda. Ninguém pede sofrimentos e provações. Contudo de uma forma ou de outra, antes ou depois, todos experimentamos enfermidades e aflições corporais e espirituais ao longo de nossa vida. Por fim, passaremos
pela morte. Maldade de Deus e destino cruel? Se fosse assim, só nos restaria baixar a cabeça e resmungar sem esperar resposta alguma.
Com a luz da fé, porém, as coisas tomam outras cores e podemos enxergar além das coisas materiais e das circunstâncias imediatas. É possível descobrir riquezas onde parece existir só miséria. É possível ver plenitude de vida também em poucos dias de existência. É possível reconhecer a liberdade e a gratuidade do amor, também onde e quando as deficiências humanas parecem gritar o oposto. A fé cresce com a compaixão e a solidariedade, ensina-nos a sermos companheiros de viagem. Deus não deixa faltar as suas consolações, ele está mais perto de nós do que pensamos, sobretudo quando estamos atravessando as tempestades da vida. A nossa esperança nele nos impede de desistir do amor. A única força mais forte do que a morte, porque “o amor jamais acabará” (1Cor 13,8).
Fonte: Diocese de Macapá