Política

Após motociata, Bolsonaro defende tratamento precoce e ignora vacina





Do alto de um carro de som, após um passeio motociclístico com apoiadores neste sábado (12), o presidente Jair Bolsonaro defendeu o tratamento precoce contra a covid-19, acusou governadores de supernotificar o número de mortos e ignorou a palavra “vacina”. “O Brasil na verdade tem um dos índices mais baixos de mortes por Covid graças ao tratamento precoce (...) Dizem que não tem eficácia científica [a cloroquina]. O que tem no momento no mundo comprovado cientificamente para combater o vírus? Tudo o que esta aí é emergencial, é experimental”, gritou.

O Brasil amanheceu o sábado com  484 mil mortos pela covid. Até o momento, menos de 13% da população brasileira recebeu as duas doses da vacina contra a doença.

Intitulada de manifestação “Acelera para Cristo” o ato pró-Bolsonaro aconteceu em São Paulo e percorreu um trajeto de mais de 50 quilômetros. O presidente esteve acompanhado dos ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, além do filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Poucas horas após o início do percurso, eles foram autuados pelo governo do estado por promoverem aglomeração e não usarem máscara de proteção facial.

As ações e falas do presidente em relação à pandemia são alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado, que avança sobre possíveis omissões na compra de imunizantes por parte do Executivo. Entre os depoentes já ouvidos pelo colegiado esteve o CEO Pfizer, Carlos Murillo, que indicou mais de 50 tentativas de contato da farmacêutica com o governo oferecendo imunizantes ao Brasil, todas ignoradas.

Os parlamentares também apuram a atuação de um possível gabinete paralelo, responsável por subsidiar o presidente em argumentos favoráveis à compra de hidroxicloroquina.  Ainda no ano passado, o Tribunal de Contas da União questionou um certame do Exército no qual insumos para a fabricação da cloroquina teriam sido três vezes mais caro para os cofres públicos. Não houve contestação do Exército ao aumento do preço.

Supernotificação e TCU

Ainda no discurso deste sábado, o presidente voltou a citar, perante apoiadores, um documento inconclusivo vazado por um auditor afastado do Tribuna de Contas da União (TCU) para dizer que os governadores supernotificaram o número de mortos.

“Quem aqui nunca ficou sabendo de pessoas que reclamaram que seu ente querido faleceu de outra doença e quiseram botar ou botaram na certidão de óbito, covid?”, lançou o presidente para a plateia.

Esta semana o Tribunal de Contas da União anunciou que irá pedir à Polícia Federal uma investigação sobre o documento elaborado pelo servidor afastado. Nele constariam informações distorcidas sobre a pandemia. O documento foi construído pelo auditor Ricardo Silva Marques, e entregue pelo pai dele, que é militar, ao presidente Bolsonaro.

De acordo com o ministro-chefe do órgão, Bruno Dantas, há elementos que indicam "tentativa de manipulação da atividade fiscalizatória do TCU em razão de um sentimento pessoal".

“Meu exército”

Outro assunto requentado pelo presidente no discurso em trio elétrico foi a declaração recentemente dada de que determinaria ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, um estudo para desobrigar o uso de máscaras de proteção facial contra a covid. O presidente tentou mostrar sintonia entre os ministros afirmando que todos “se entendem e falam a mesma língua do presidente da República”.

Ao defender a liberação de máscaras, Bolsonaro cometeu um ato falho e disse “meu exército” em referência ao Exército Nacional Brasileiro. “Aqueles que acham que o governo poderia fazer lockdown nacional,  digo que o meu, o nosso exército brasileiro jamais irá para as ruas deixar vocês em casa”.

Passeios de moto viraram hábito

Esta é a terceira vez que o presidente promove este tipo de evento em meio à pandemia. O primeiro aconteceu em Brasília e o segundo no Rio de Janeiro, quando o ex-ministro da Saúde e general da ativa, Eduardo Pazuello, participou desencadenando um mal-estar nas Forças Armadas

A ida do presidente a São Paulo também pode ser entendida com  uma afronta a um dos adversários políticos dele, o governador da cidade, João Doria. No discurso, o governador foi citado de maneira provocativa por Bolsonaro em mais de uma ocasião. "Nos temos um governo que não aumentou nada de imposto para a população brasilerira, ao contrário do governador daqui que aproveitou a pandemia para majorar a ICMS", disse em um dos momentos.

Aos motociclistas, Bolsonaro voltou a falar em isenção de pedágio nas rodovias  e também fez elogios à Polícia Militar.

Fonte: Congresso em Foco