Política

Taxa de letalidade por Covid no Amapá motiva discussão entre senadores na CPI





Bate-boca ocorreu depois que senador bolsonarista citou dado incorreto sobre mortes e uso de cloroquina no estado. Vice-presidente da CPI disse que Heinze estava 'mentindo'.

Senadores da CPI da Covid bateram boca nesta terça-feira (2) depois que o bolsonarista Luis Carlos Heinze (PP-RS) mencionou a taxa de letalidade da Covid-19 no Amapá. 

O estado adotou protocolo de tratamento precoce com uso de cloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz contra a doença. 

A discussão ocorreu em meio ao depoimento da médica infectologista Luana Araújo, que chegou a ser anunciada como secretária de enfrentamento à Covid do Ministério da Saúde, mas não nomeada — dez dias após o anúncio, ela foi informada que não ocuparia o posto

Ferrenho defensor da cloroquina, Luis Carlos Heinze disse que o Amapá adota o tratamento precoce e tem a "menor letalidade do país". 

A taxa de letalidade indica o número de mortes em relação à quantidade de pessoas que contraíram a doença. É diferente da taxa de mortalidade, que mostra o índice de mortes em relação a toda a população (mortes por 100 mil). 

Randolfe Rodrigues (Rede-AP), senador pelo Amapá, afirmou que o parlamentar gaúcho estava "mentindo", o que elevou a temperatura no colegiado. 

"O senhor está mentindo. Esse dado é falso como todos os dados que o senhor está publicando aqui. Esse dado é fraudado. O senhor está mentindo", disse Randolfe. 

O assunto já havia surgido no depoimento desta terça (1º) da médica Nise Yamaguchi, defensora do uso da cloroquina para o tratamento da Covid. “No Amapá, nós temos um dos menores índices do mundo de mortalidade”, disse ela, também contestada pelo senador Randolfe Rodrigues. 

Dados do Ministério da Saúde mostram que outros estados do Norte, como Pará e Tocantins, têm coeficientes de mortalidade menores do que o do Amapá. 

"Eu não estou mentindo. Não me chame de mentiroso. Não me chame. Não sou. Aqui não é fake news", esbravejou Heinze. 

"O seu enredo todo é mentiroso", afirmou Randolfe, na discussão com senador do PP. 

O Fato ou Fake, serviço de checagem de informações do grupo Globo, verificou que é falsa a afirmação de que o Amapá tem um dos menores índices de mortalidade do mundo. 

O Amapá não tem nem sequer um dos menores índices de mortalidade do Brasil. O cálculo, que considera o número de mortes sobre o total da população, coloca o estado na 12ª colocação entre as unidades da federação. 

A taxa atual é de 200,5 mortes a cada 100 mil habitantes. O estado com a menor taxa é o Maranhão, com 115,1. Caso o Amapá fosse um país, figuraria hoje na 15ª colocação mundial, segundo dados da universidade Johns Hopkins, que reúne informações sobre 180 países e territórios. 

Dados do Ministério da Saúde mostram que outros estados do Norte, como Pará e Tocantins, têm coeficientes de mortalidade menores do que o do Amapá. Segundo o ministério, a taxa do Pará é 168,8 por 100 mil; a do Tocantins, 183,7; e a do Amapá, 201,2. 

Mesmo que fosse em relação à letalidade (e não à mortalidade), não se sustenta a afirmação da médica Nise Yamaguchi de que o Amapá tem uma das menores taxas do mundo. 

Ao menos 78 países têm uma taxa menor levando em conta esse parâmetro. Tal cálculo, entretanto, não é o ideal para se aferir o impacto da doença, já que a subnotificação e a falta de testagem podem subdimensionar o resultado. 

Ao elaborar questionamentos à infectologista Luana Araújo, Heinze voltou a citar pesquisa supostamente contrária ao uso da cloroquina que teria sido contratada por empresa de propriedade de uma atriz pornô. 

O parlamentar também perguntou a Luana Araújo quantos pacientes infectados com o novo coronavírus ela tratou. 

A médica disse que "foram muitos pacientes" e que a nenhum deles receitou medicamentos ineficazes contra a Covid-19. 

"Para nenhum deles eu prescrevi cloroquina ou ivermectina ou azitromicina ou zinco ou vitamina D ou nada disso. Aliás, vitamina D, eu não cheguei nem a pensar nessa prescrição, porque a gente sabe que o paciente só deve fazer reposição de vitaminas quando ele tem deficiência comprovada laboratorialmente", declarou a médica.

Fonte: G1 Amapá