Cotidiano

Lockdown no início da pandemia evitaria desemprego permanente, diz especialista





Jovens são os mais prejudicados pelo desemprego no país, chegando a até 35% do número de pessoas sem emprego no Brasil, segundo professor do Insper

Os jovens são os principais prejudicados pelo desemprego durante a pandemia e, enquanto o índice no país é de 14,7% no primeiro trimestre do ano - o maior registrado pelo IBGE desde o início da série histórica em 2012 -, neste grupo a taxa pode chegar a 35%.

Em entrevista à CNN neste sábado (29), o professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) e especialista em mercado de trabalho Naércio Menezes Filho afirmou que a situação no mercado de trabalho e na economia poderia ser diferente se as medidas de combate à Covid-19 adotadas no país fossem outras.

"O melhor caminho seria ter feito uma restrição mais forte no início. Teria que ter uma coordenação do governo federal, estados e municípios e fazer um lockdown nos primeiros meses da pandemia. Os prejuízos seriam grandes no início, mas rapidamente recuperados", disse Naércio.

Caso isso fosse feito, acompanhado de rastreamento de pessoas infectadas e testagem em massa, o cenário econômico atual seria diferente, segundo a análise do especialista.

"Não estaríamos enfrentando essa situação de permanente desemprego. Porque você volta, retoma atividades, aumenta número de mortes, faz novas medidas de lockdown, fica um círculo vicioso que não resolve nunca. Essa incerteza com relação à retomada acaba afetando o desemprego, principalmente entre os mais jovens".

Segundo Filho, o impacto da pandemia aumenta a desigualdade no mercado de trabalho, e cria dificuldades para trabalhadores com menor escolaridade.

"Há dados demonstrando que quem mais se beneficiou da retomada foram os trabalhadores mais qualificados, com ensino superior, mais velhos, que jovens que não tiveram oportunidade de estudar. As pessoas menos qualificadas estão com emprego 20% abaixo do que tinham antes da pandemia e não há perspectiva de recuperação", afirmou o especialista.

Jovens impactados

"A taxa entre os jovens chega a 30%, 35%, sem dúvida são os mais atingidos. Eles costumam trabalhar em atividades que foram fechadas, como restaurante, shows, mercado artístico, e estão tendo muita dificuldade para conseguir emprego na pandemia. Muitos trabalham com entrega de aplicativos, mas é uma situação bastante precária", afirmou o especialista à CNN.

Segundo o professor do Insper, alguns fatores, como a falta de qualificação profissional e habilidades emocionais, contribuem para o pior quadro de emprego entre os jovens. 

"Falta qualificação para os jovens, em grande parte. As empresas estão privilegiando profissões e pessoas que podem trabalhar de casa com computador, internet, e muitos jovens no Brasil não têm capacidade ainda, trabalham em profissões manuais, que não são possíveis no home office. É necessário que nossos jovens consigam na escola aprender não só as matérias tradicionais, mas software, computador e habilidades socioemocionais que os possibilitem enfrentar o mercado de trabalho agora."

Naércio Menezes Filho, professor do Insper (29.Mai.2021)Naércio Menezes Filho, professor do Insper (29.Mai.2021)Foto: Reprodução/CNN

Fonte: CNN Brasil