Política

China avança com estratégia para reduzir importância do dólar





Sistema conectado com países asiáticos contorna o sistema Swift, dominado pela moeda dos EUA; transações são feitas em yuan (moeda chinesa) e em só 7 segundos

A China e seus aliados deram mais um passo na redução da dependência global do dólar. No início de abril, o governo chinês testou com os Emirados Árabes um modelo de transferência bancária que utiliza o RMB (renminbi) digital, cuja unidade é a moeda chinesa yuan. O resultado foi uma operação sem a necessidade de passar por bancos intermediários e que foi concluída em 7 segundos, um recorde entre grandes transações transfronteiriças.

A implicação dessa operação bem-sucedida é o enfraquecimento do Swift –sistema de mensagens criado por bancos de vários locais do mundo em 1973 para permitir a troca de moeda entre diferentes países de forma rápida e segura. As operações no Swift são feitas em dólar e euro, mas o sistema leva de 3 a 5 dias para efetuar o pagamento.

Essa não é a 1ª operação financeira com o RMB digital. A China e os países do Asean (sudeste asiático) vêm aprimorando o sistema. As transações em yuan aumentaram 120% de 2021 a 2024. A operação entre Hong Kong e Abu Dhabi foi a 1ª em tempo real.

TAXA MENOR 

Além da velocidade, outra vantagem do modelo chinês é a menor taxa de administração das operações financeiras.

Enquanto no Swift a transação é taxada por bancos, a operação com o RMB digital utiliza um rastreamento por blockchain que a torna rastreável e sem necessidade de passar por bancos intermediários. O resultado foi uma queda de 98% na taxa administrativa.

O sistema chinês também já está integrado a outros 16 países –10 do Asean (sudeste asiático) e 6 do Golfo Pérsico. Atualmente, constituem uma parcela grande do comércio global. Caso o sistema financeiro continue avançando, poderá se tornar uma área fora do alcance do dólar e fortalecer a influência econômica chinesa.

Eis os integrantes do sistema de pagamentos:

  • Arábia Saudita;
  • Bahrein;
  • Brunei;
  • Camboja;
  • China;
  • Cingapura;
  • Emirados Árabes;
  • Filipinas;
  • Indonésia;
  • Irã;
  • Kuwait;
  • Laos;
  • Malásia;
  • Omã;
  • Qatar;
  • Tailândia;
  • Vietnã.

MOEDA CHINESA GANHA

Apesar das vantagens técnicas, o sistema chinês ainda enfrenta um grande desafio: a aceitação da moeda chinesa. Para efetuar essas transações, é necessário um acordo de swap cambial –contrato para trocar variação de câmbio por taxa de juros– entre os bancos centrais dos países.

Em outras palavras, o lançamento do RMB digital abriu caminho para um sistema de pagamento mais rápido, mas o Swift ainda tem o favorecimento de utilizar moedas negociadas internacionalmente, como o dólar norte-americano e o euro, para liquidação e compensação. Até que o RMB seja internacionalizado, o sistema chinês não poderá substituir o Swift.

A guerra comercial entre os EUA e outros países deve fortalecer o sistema de pagamentos liderado pela China e resultar no aumento do uso do RMB digital para transações internacionais. A consequência poderá ser a perda de relevância do dólar.

Os esforços recentes para o uso em transações comerciais de moedas de outros países, sobretudo o renmimbi, têm esbarrado na aversão à falta de liquidez. Ninguém quer acumular reservas que terão uso limitado. Mas, se o sistema de pagamentos chinês prosperar, será uma alternativa usada com frequência cada vez maior em relação ao Swift, sistema que hoje é usado por 11.000 instituições financeiras de vários países. Como o sistema chinês usa o RMB digital, valerá a pena manter reservas nessa moeda.

TENSÃO GEOPOLÍTICA

Um fator que pode acelerar a internacionalização do RMB digital são as tensões geopolíticas que foram ainda mais agravadas pelas tarifas norte-americanas. O banimento do Swift é uma arma utilizada pelo Ocidente para pressionar seus adversários. Em 2022, a Rússia foi banida do sistema de pagamentos por causa da invasão à Ucrânia. Essa medida fez Moscou transferir suas reservas restantes para moedas não controladas pelo Ocidente, incluindo o chinês RMB.

Com as tarifas impostas pela Casa Branca aos seus parceiros comerciais, um movimento similar pode se dar. Caso as negociações entre os EUA e os demais países não avancem, é possível que outras nações migrem suas reservas para o RMB digital e acelerem a internacionalização da moeda chinesa.

O QUE É O SWIFT

Swift é a sigla de Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais –Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication, em inglês. É um sistema de mensagens criado por bancos de vários locais do mundo para permitir a troca de moeda entre diferentes países de forma rápida e segura.

Criado há quase 50 anos, o Swift ainda é o sistema mais usado pelos bancos para a realização de transferências internacionais. Por isso, é fundamental para o fluxo dos pagamentos transfronteiriços e do comércio internacional.

 

-  China diz que está “derrubando muros” para expandir alianças comerciais

Presidente dos EUA impôs uma tarifa de 145% sobre os produtos chineses este ano

A China está “derrubando muros” e expandindo seu círculo de parceiros comerciais, “apertando as mãos” em vez de “apertar os punhos”, disse o Ministério das Relações Exteriores do país nesta terça-feira (15), enquanto Pequim trabalha para diversificar os laços em meio à escalada da guerra comercial com os Estados Unidos.

O presidente dos EUA, Donald Trump, impôs uma tarifa de 145% sobre os produtos chineses este ano, como parte de tarifas recíprocas mais amplas sobre todos os parceiros comerciais dos EUA. Isso provocou escárnio e críticas por parte de Pequim, que retaliou aumentando as taxas sobre os produtos americanos para 125%.

“Diante das incertezas externas, a China insistirá em apertar as mãos em vez de apertar os punhos, derrubar muros em vez de construir barreiras, conectar em vez de dissociar”, disse Lin Jian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, em uma coletiva de imprensa na terça-feira.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) alertou que a disputa comercial entre a China e os Estados Unidos pode reduzir o envio de mercadorias entre as duas economias em até 80% e prejudicar gravemente o crescimento global.

Pequim chamou a estratégia de tarifas do presidente de Trump, de “uma piada”, irritando o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent.

“Isso não é uma piada. Quero dizer, são números grandes”, disse Bessent em uma entrevista à Bloomberg Television. “Acho que ninguém pensa que eles são sustentáveis, nem quer que eles permaneçam aqui, mas está longe de ser uma piada”.

Quaisquer negociações entre os EUA e a China teriam que vir “do topo”, envolvendo Trump e o presidente chinês Xi Jinping, disse Bessent.

Na segunda-feira, Xi deu início a uma turnê por três nações do Sudeste Asiático. No Vietnã, que está enfrentando possíveis tarifas norte-americanas de 46%, Xi pediu que os dois países se oponham ao “bullying unilateral” e fortaleçam a cooperação nas cadeias de produção e fornecimento.

Autoridades chinesas e vietnamitas também assinaram dezenas de acordos de cooperação durante a visita de Xi, incluindo sobre cadeias de produção e fornecimento, bem como cooperação ferroviária.

Depois de uma parada de dois dias em Hanói, Xi continuará sua viagem ao Sudeste Asiático visitando a Malásia e o Camboja, que podem ser alvo de tarifas adicionais dos EUA de 24% e 49%, respectivamente.

Um comentário publicado na terça-feira pelo jornal estatal chinês People’s Daily destacou a necessidade de união em meio à turbulência comercial.

“Diante da crise, ninguém pode se manter sozinho”, disse o comentário, fazendo referência à aventura de Dorothy na história infantil americana O Mágico de Oz. “Somente a unidade e a cooperação podem enfrentar o desafio”.

O comentário apresentou a China como uma defensora benevolente do livre comércio, destacando a decisão da China de implementar tarifas zero para alguns de seus parceiros menos desenvolvidos.

Fonte: Poder360 - CNN