“Com o seu amor cheio de confiança, Deus envolve-nos para que, por sua vez, nos tornemos nós mesmos, uns para os outros, “anjos’, mensageiros da sua presença, a tal ponto que tanto para quem sofre como para quem presta assistência, a cama de um doente se pode transformar, muitas vezes, num ‘lugar santo’ de salvação e redenção”, disse Francisco na homilia por ele preparada para a Missa deste domingo - presidida na Praça São Pedro pelo arcebispo Rino Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização -, ponto alto do Jubileu dos Enfermos e do Mundo da Saúde, com a participação de cerca de 20 mil peregrinos: pacientes, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, profissionais da saúde, voluntários, provenientes de mais de 90 países.
Antes de pronunciar a homilia, o arcebispo Fisichella quis dirigir-se aos participantes da Eucaristia com as seguintes palavras:
Irmãos e irmãs, a poucos metros de nós, o Papa Francisco, de seu quarto na Casa Santa Marta, está particularmente perto de nós e está participando, como tantos doentes, tantas pessoas frágeis, desta Santa Eucaristia pela televisão. Sinto-me feliz e honrado por oferecer minha voz para ler a homilia que ele preparou para esta ocasião.
Partindo da promessa de Deus trazida pelo profeta Isaías que se dirige ao povo de Israel exilado na Babilônia assegurando-lhe realizar algo de novo, que já está a aparecer, e do trecho do Evangelho em que Jesus entra na vida da pecadora que está para ser apedrejada, defendendo-a e resgatando-a da violência de seus carrascos, Francisco ressalta que em ambos os casos em que tudo parece perdido, Deus dá a possibilidade de começar uma nova existência.
Com estas narrativas dramáticas e comoventes, a liturgia de hoje convida-nos a renovar, no caminho quaresmal, a confiança em Deus, que está sempre ao nosso lado para nos salvar. Não há exílio, nem violência, nem pecado, nem qualquer outra realidade da vida que o impeça de estar à nossa porta e bater, pronto a entrar logo que lho permitamos. Aliás, observou o Santo Padre, é sobretudo quando as provações se tornam mais duras que a sua graça e o seu amor nos apertam com uma força ainda maior, para nos reerguer.
Irmãs e irmãos, lemos estes textos no momento em que celebramos o Jubileu dos enfermos e do mundo da saúde, e não há dúvida que a doença é uma das provas mais difíceis e duras da vida, durante a qual tocamos com a mão o quanto somos frágeis. Tal como aconteceu com o povo exilado ou a mulher do Evangelho, ela pode levar a fazer-nos sentir privados de esperança no futuro. Mas não acontece assim.
Nesses momentos, continuou o Pontífice, Deus não nos deixa sozinhos e, se nos abandonarmos a Ele, precisamente onde as nossas forças falham, podemos experimentar a consolação da sua presença. Ele mesmo, feito homem, quis partilhar a nossa fraqueza em tudo e sabe bem o que é o sofrimento. Por isso, podemos dizer-Lhe e confiar-Lhe a nossa dor, certos de que encontraremos compaixão, proximidade e ternura.
Queridos médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde, enquanto cuidais dos vossos pacientes, em especial dos mais frágeis, o Senhor oferece-vos a oportunidade de renovar continuamente a vossa vida, alimentando-a com gratidão, misericórdia e esperança. Ele chama-vos a iluminá-la com a consciência humilde de que nada está garantido e tudo é dom de Deus; e a alimentá-la com aquela humanidade que se experimenta quando, deixadas por terra as aparências, permanece o que conta: os pequenos e grandes gestos de amor. Permiti que a presença dos doentes entre na vossa existência como um dom, para curar o vosso coração, purificando-o de tudo o que não é caridade e aquecendo-o com o fogo ardente e doce da compaixão.
E convosco, queridos irmãos e irmãs doentes, neste momento da minha vida, estou a partilhar muito: a experiência da enfermidade, de me sentir frágil, de depender dos outros em tantas coisas, de precisar de apoio. Nem sempre é fácil, mas é uma escola na qual aprendemos todos os dias a amar e a deixarmo-nos amar, sem exigir nem recusar, sem lamentar nem desesperar, agradecidos a Deus e aos irmãos pelo bem que recebemos, abertos e confiantes no que ainda está para vir. O quarto do hospital e a cama da enfermidade podem ser lugares para ouvir a voz do Senhor que também nos diz a nós: “Vou realizar algo de novo, que já está a aparecer: não o notais?” (Is 43, 19). E, deste modo, renovar e fortalecer a fé.
Ao término da celebração, Francisco presentou os participantes fazendo uma surpresa a todos, deixando-os comovidos: apresentou-se brevemente diante do altar, em sua cadeira de rodas. Detendo-se em poucos minutos, o Papa acenou aos presentes, abençoou-os e fez uma saudação:
Bom domingo a todos! Muito obrigado!
Antes de saudar os peregrinos e os fiéis na praça, o Santo Padre recebeu o sacramento da reconciliação na Basílica de São Pedro, deteve-se em oração e atravessou a Porta Santa.
Por fim, ao término da Missa foi lida uma mensagem de Francisco de agradecimento:
Sua Santidade o Papa Francisco sauda com afeto todos os que participaram desta celebração e agradece do fundo do coração as orações dirigidas a Deus pela sua saúde, desejando que a peregrinação jubilar seja rica de frutos. Ele lhes concedeu a bênção apostólica, estendendo-a aos entes queridos, aos doentes e aos sofredores, bem como a todos os fiéis hoje reunidos.
Os seguintes grupos indicaram sua presença no evento de hoje: da Itália, a Diocese de Vittorio Veneto e a Diocese de Termoli-Larino. Também estão presentes grupos de fiéis da Albânia e da Croácia.
- Apelos do Papa pela paz no mundo: que as armas sejam silenciadas
Os apelos pela paz no mundo continuam sem cessar por parte de um Pontífice que, embora obrigado ao repouso depois de uma prolongada hospitalização, não deixa de pensar com apreensão nos lugares de guerra, violência, calamidade e pobreza. Ele o faz também neste V Domingo da Quaresma, no texto do Angelus preparado e transmitido como nos últimos domingos. Tomando a todos de surpresa ao aparecer após a celebração da Santa Missa pelo Jubileu dos Enfermos e do Mundo da Saúde, depois de agradecer a todos e desejar um bom domingo, Francisco confiou sua mensagem escrita, na qual mencionou as áreas mais críticas do mundo.
A seguir, na íntegra, o texto do Angelus do Santo Padre:
Queridos irmãos e irmãs,
o Evangelho deste quinto domingo da Quaresma nos apresenta o episódio da mulher apanhada em adultério (Jo 8,1-11). Enquanto os escribas e os fariseus querem apedrejá-la, Jesus devolve a essa mulher a beleza perdida: ela caiu no pó; Jesus passa o dedo sobre esse pó e escreve para ela uma nova história: é o “dedo de Deus”, que salva seus filhos (cf. Ex 8,15) e os liberta do mal (cf. Lc 11,20).
Caríssimos, assim como durante a minha hospitalização, também agora, na minha convalescença, sinto o “dedo de Deus” e experimento a sua carícia cuidadosa. No dia do Jubileu dos enfermos e do mundo da saúde, peço ao Senhor que esse toque de seu amor possa alcançar aqueles que sofrem e encorajar aqueles que cuidam deles. E rezo pelos médicos, enfermeiros e profissionais da saúde, que nem sempre são ajudados a trabalhar em condições adequadas e, às vezes, são até vítimas de agressão. Sua missão não é fácil e deve ser apoiada e respeitada. Espero que os recursos necessários sejam investidos em tratamento e pesquisa, para que os sistemas de saúde sejam inclusivos e atentos aos mais frágeis e aos mais pobres.
Agradeço às detentas da prisão feminina de Rebibbia pelo bilhete que me enviaram. Oro por elas e por suas famílias.
No Dia mundial do esporte para a paz e o desenvolvimento, espero que o esporte seja um sinal de esperança para tantas pessoas que precisam de paz e inclusão social, e agradeço às associações esportivas que educam concretamente para a fraternidade.
Continuemos a rezar pela paz: na atormentada Ucrânia, atingida por ataques que causam muitas vítimas civis, inclusive muitas crianças. E o mesmo acontece em Gaza, onde as pessoas são reduzidas a viver em condições inimagináveis, sem abrigo, sem comida, sem água potável. Que as armas sejam silenciadas e o diálogo seja retomado; que todos os reféns sejam libertados e a população seja socorrida. Oremos pela paz em todo o Oriente Médio; no Sudão e no Sudão do Sul; na República Democrática do Congo; em Mianmar, também duramente atingida pelo terremoto; e no Haiti, onde continua a violência, matando duas religiosas dias atrás.
Que a Virgem Maria nos proteja e interceda por nós.
Fonte: Vatican News