O dólar fechou as negociações desta quinta-feira (3) em baixa ante o real, acompanhando as perdas amplas da moeda norte-americana no exterior, à medida que os investidores reagiam ao anúncio na véspera de novas tarifas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que elevavam os temores de uma recessão global.
No fim da sessão, a moeda norte-americana registrou baixa de 1,18%, a R$ 5,6290 na venda. Na quarta-feira (2), o dólar à vista fechou em alta de 0,23%, a R$ 5,6963.
O Ibovespa, referência do mercado acionário brasileiro, fechou próximo da estabilidade, com queda de 0,04%, a 131.140,65 pontos.
Acompanhando o cenário negativo, os principais índices de Wall Street também registraram perdas nesta quinta. O Dow Jones caiu 4,01%, o S&P 500 perde 4,9% e o Nasdaq Composite afundou 5,9%.
Após várias sessões pautadas pela expectativa com o anúncio de Trump em 2 de abril, que ele vinha classificando como “Dia da Libertação”, os mercados demonstravam enorme aversão ao risco nesta quinta, já que as medidas apresentadas pelo presidente foram mais agressivas do que muitos esperavam.
Trump disse na quarta-feira que vai impor uma tarifa básica de 10% sobre todas as importações para os EUA e taxas mais altas sobre alguns dos maiores parceiros comerciais do país, em uma medida que intensifica a guerra comercial iniciada por ele em seu retorno à Casa Branca.
As importações chinesas serão afetadas por uma tarifa de 34%, além dos 20% impostos anteriormente, elevando o novo imposto total para 54%. A União Europeia, por sua vez, enfrentará uma tarifa de 20% e o Japão será alvo de uma taxa de 24%. O Brasil recebeu uma tarifa de 10%.
A tarifa universal de 10%, que exclui determinados produtos, entrará em vigor em 5 de abril, enquanto as taxas recíprocas mais altas para parceiros serão implementadas em 9 de abril. A China e a UE prometeram responder com medidas retaliatórias.
A grande preocupação dos analistas, como vem sendo apontado desde a vitória eleitoral de Trump, é de que as tarifas elevem os preços de diversas mercadorias e afetem a atividade econômica, provocando um cenário de “estagflação”.
Com o anúncio de Trump, investidores temiam pela concretização de tal cenário, o que impulsionava a busca por ativos seguros, como o ouro e os títulos do Tesouro dos EUA.
“Os anúncios de Trump atingiram o limite pessimista das expectativas do mercado, elevando a taxa média de tarifas para mais de 20% — de apenas 2,5% antes de Trump assumir o cargo — a mais alta desde o início do século XX”, escreveu Roman Ziruk, analista sênior de mercado do Ebury, em nota.
“Embora isso marque uma mudança histórica nos EUA, as tarifas elevadas são vistas como um teto — sujeitas a negociação, a menos que haja retaliação”, completou.
Operadores também elevaram as apostas de cortes na taxa de juros pelo Federal Reserve, precificando totalmente três reduções até o fim deste ano e uma pequena chance de um quarto corte, devido aos temores de recessão na maior economia do mundo.
Com os rendimentos dos Treasuries despencando, em meio a forte demanda pelos títulos e a novas apostas sobre o Fed, a divisa dos EUA recuava de forma acentuada ante seus pares.
O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 1,47%, a 101,640.
Para o Brasil e seus pares emergentes, o cenário significava ainda um diferencial de juros mais interessante para investidores estrangeiros, o que impulsionava o real, o peso mexicano e o peso chileno.
Na cena doméstica, investidores estão atentos à resposta do governo brasileiro às tarifas de Trump. Na quarta, o Executivo lamentou a tarifa adicional sobre os produtos do Brasil, acrescentando que avalia todas as possibilidades de resposta, incluindo um recurso à Organização Mundial de Comércio (OMC).
Enquanto isso, a Câmara dos Deputados aprovou, em resposta ao tarifaço de Trump, um projeto que estabelece critérios para a reação do Brasil a barreiras e imposições comerciais de nações ou blocos econômicos contra produtos nacionais.
Na frente de dados, os destaques são a pesquisa PMI sobre o setor de serviços brasileiro, divulgada pela S&P Global às 10h, e a pesquisa PMI sobre o setor de serviços dos EUA, que será publicada pelo Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM), às 11h.
Os mercados de ações na Ásia-Pacífico e na Europa caíram nesta quinta-feira (3)e os mercados dos EUA também abriram em baixa depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou novas tarifas sobre parceiros comerciais ao redor do mundo.
O índice de referência Nikkei 225 do Japão fechou com queda de 2,8%, enquanto o índice Kospi da Coreia do Sul fechou com queda de menos de 1%.
O índice de referência Hang Seng de Hong Kong fechou em queda de 1,5%.
Na Europa, o índice de referência europeu STOXX 600 fechou em queda de 2,57%, apagando os ganhos do indicador desde janeiro. O CAC da França caiu 3,31%, sua maior queda em um único dia desde julho de 2023 e o DAX da Alemanha caiu 3%.
O índice de referência da Itália caiu 3,6%, sua maior queda em um único dia desde março de 2023.
“Anúncio de tarifa muito mais draconiano do que o esperado”, disse Sam Stovall, estrategista-chefe de investimentos da CFRA Research, em um e-mail. “Ações em queda livre devido ao impacto inflacionário esperado dessas tarifas.”
Confira outras notícias
- Criptomoedas podem ser penhoradas pela Justiça, decide STJ
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, por unanimidade, autorizar juízes a enviar ofícios a corretoras de criptomoedas, ordenando que sejam informados e penhorados os ativos pertencentes a devedores.
Os cinco integrantes da turma – os ministros Humberto Martins, Nancy Andrighi, Ricardo Villas Bôas Cueva e Moura Ribeiro e o desembargador convocado Carlos Cini Marchionatti – acolheram o recurso de um credor, que afirmou não ter encontrado bens em nome de um devedor, após vencer uma causa judicial.
Pelas regras atuais, na maior parte das situações, a Justiça pode determinar o bloqueio e a retirada de valores diretamente nas contas bancárias, à revelia do devedor, de modo a garantir a execução da decisão judicial e o pagamento ao credor. Isso é feito através do sistema BacenJud, desenvolvido em parceria com o Banco Central.
Como não circulam pelo sistema bancário tradicional, contudo, as criptomoedas vinham escapando das buscas por valores na Justiça. Pela decisão do STJ, agora esses ativos podem também estar ao alcance de juízes e credores.
O relator do tema no STJ, ministro Humberto Martins, destacou que desde 2019 a Receita Federal exige que todos os contribuintes declarem criptomoedas que eventualmente possuam como parte de seu patrimônio.
Pela legislação, um devedor responde a suas obrigações com todo o seu patrimônio, frisou Martins, motivo pelo qual as criptomoedas devem estar ao alcance da Justiça e dos credores.
“Apesar de não serem moeda de curso legal, os criptoativos podem ser usados como forma de pagamento e como reserva de valor”, disse o relator, que foi seguido pelos demais integrantes da Terceira Turma do STJ.
Em seu voto, o ministro Villas Bôas Cueva ressaltou que o criptoativos ainda carecem de regulamentação pelo Legislativo, embora existam projetos de lei no Congresso que definem as criptomoedas, que utilizam a tecnologia blockchain, como representação digital de valor, ativo financeiro, meio de pagamento e instrumento de acesso a bens e serviços.
No ano passado, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) anunciou que começou a desenvolver o sistema CriptoJud, cuja ideia é permitir que o bloqueio e a penhora de criptoativos sejam feitos diretamente nas contas dos clientes das corretoras.
Fonte: CNN - Agência Brasil