O diretor de Política Monetária do BC (Banco Central), Nilton David, disse nesta 2ª feira (31.mar.2025) que a inflação do Brasil pode não arrefecer nos próximos 5 meses. Ele defendeu que a autoridade monetária subiu a taxa básica, a Selic, para nível restritivo, mas que o ciclo de ajuste ainda não terminou.
“A pergunta agora é: ‘Como vão ser os próximos meses, em que o esperado é que a inflação não arrefeça nos próximos 3, 4 ou 5 meses talvez, e como vai ser a dinâmica das expectativas do mercado e o comportamento dos agentes [financeiros]? Com base nisso, a gente vai calibrar [a taxa Selic]”, declarou.
Nilton participou da live “Conjuntura e política monetária” nesta 2ª feira (31.mar.2025) do Itaú BBA. O Banco Central diminuiu de 2,1% para 1,9% a projeção para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil em 2025. Na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o BC disse que a desaceleração da economia é “elemento necessário” para levar a inflação para a meta de 3%.
O intervalo da meta é de 1,5% a 4,5%. A taxa do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foi de 5,06% em fevereiro. Segundo o BC, deverá subir para 5,6% em março e ficar próxima de 5,5% nos próximos meses.
Na última reunião do Copom, os diretores do BC subiram a taxa básica, a Selic, para 14,25% ao ano. Sinalizaram que o juro base vai subir no próximo encontro, de maio, mas em “menor magnitude”.
Nilton comentou sobre o forward guidance, que é uma orientação futura sobre quais devem ser os próximos passos do Banco Central. A autoridade monetária sinalizou, em março, uma alta para maio, mas sem dar o tamanho do reajuste da Selic, podendo ser de 0,25 p.p. (ponto percentual), de 0,5 p.p. ou 0,75 p.p.
“Para ter um forward guidance, que deveria ser tido como algo extraordinário, demanda uma elevada convicção de onde que a gente deve estar no momento futuro no Banco Central e que essa informação traga uma redução no mercado sobre volatilidade”, disse Nilton.
A última vez que o Banco Central utilizou o forward guidance foi em dezembro de 2024, quando sinalizou duas altas de 1 ponto percentual, uma em janeiro e outra em março de 2025.
O diretor avalia que o guidance deveria ser um instrumento que avisa o próximo passo com antecedência e diminui a volatilidade esperada no período, mas é preciso ter uma convicção elevada do futuro.
“O fato é que passamos 3 meses do forward guidance de dezembro, que cumpriu a sua função. O próprio processo de saída imagino que possa trazer inquietudes ao mercado. O Banco Central tem se esforçado para diminuir a volatilidade no mercado”, disse o diretor.
Na reunião de março, o Banco Central concluiu o processo de forward guidance, mas indicou uma nova alta. Para Nilton, há uma convicção do Banco Central de que o ciclo de reajuste na Selic não está encerrado, mas que o passo será menor.
A taxa de juros real neutra considerada para as projeções de referência do Banco Central é de 5%. A informação consta no Relatório de Política Monetária. O percentual corresponde ao nível em que a política monetária não estimula e nem retrai a economia.
A MoneYou estima que, com a decisão que elevou a Selic para 14,25%, os juros reais do Brasil serão de 8,79% nos próximos 12 meses. O diretor do BC afirmou que a autoridade monetária quer estabelecer uma taxa restritiva mesmo sobre a ótica de quem estima um juro neutro maior.
Para Nilton, a taxa de juros neutra é “algo mais de longo prazo” e estrutural. Apesar disso, afirmou que há uma “camada” conjuntural que compõe o juro neutro.
“O que eu acho que a gente tem visto em tempo recente foi uma série de fatores que se somam e estão se adicionando nessa mesma direção nessa camada que se superpõe ao juro neutro estrutural”, disse.
O diretor do BC citou duas medidas:
Nilton afirmou que houve uma procura por outra classe de ativos: as debêntures incentivadas, que são isentas do IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física). “Casam muito com o gosto do investidor da offshore. Ele estaria trocando a postergação do imposto por alguma coisa isenta. Houve um excesso de demanda por crédito por ambas as partes, tanto do estrangeiro quanto do [investidor] local saindo do multimercado”, declarou.
Para o diretor do BC, o impulso de crédito não teria sido realizado em “momentos normais”. E completou: “Acho que somaram-se várias coisas nessa direção que fizeram com que a taxa de juros percebida fosse aquém com a que de fato aconteceu”.
O diretor foi questionado sobre o Crédito ao Trabalhador, modalidade de crédito consignado para trabalhadores do setor privado anunciada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nilton disse que o Banco Central ainda estuda o comportamento esperado.
“A gente não sabe se vai haver uma troca de forma de crédito, ou seja, vamos passar por uma redução dos custos de endividamento, como se fosse um pequeno incremento na renda disponível, porque teria diminuído o endividamento sem grandes saltos de consumo, por ser simplesmente uma troca”, disse o diretor.
Outra possibilidade é um endividamento novo que seria, segundo ele, uma “renda extraordinária única” que estaria associada ao comprometimento da renda.
“Os nossos estudos, a gente ainda não tem uma conclusão com toda a convicção. Estamos analisando os números do Relatório de Política Monetária que a gente publicou. Não tem nenhum impacto do consignado ainda, até mesmo porque a gente está tentando entender”, disse Nilton.
O diretor avalia que é preciso entender o comportamento das instituições financeiras.
Às 10h24, o dólar comercial estava sendo negociado a R$ 5,75, com queda de 0,22%. Segundo Nilton, o real não teve uma “dinâmica muito diferente” em comparação com outras moedas.
Ele declarou que o Banco Central não faz projeção ou juízo da dinâmica futura da moeda. Para o diretor, a autoridade monetária não estabelece uma relação mecânica entre a cotação do dólar e a política monetária.
Segundo ele, o dólar está, em níveis “históricos”, apreciado em relação a outras moedas. “No caso específico deste 1º trimestre, a despeito do câmbio ter depreciado, a inflação [projetada] no Focus só aumentou”, disse.
- BC recebe documentos de pedido de compra do Banco Master pelo BRB
O Banco Central (BC) recebeu os documentos do pedido de compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB), anunciado na última sexta-feira (28) pelo banco estatal do Distrito Federal. A análise do material, no entanto, levará vários meses.
Primeiramente, o BC verificará se as duas instituições financeiras entregaram todos os documentos necessários. Caso o material esteja completo, a autarquia abre a instrução processual e começa a contar o prazo de 360 dias para analisar o que foi entregue. Se faltarem documentos, o BC abrirá um prazo adicional para os dois bancos enviarem o que estiver faltando.
No único pronunciamento oficial até agora, o BC informou apenas que a análise da operação seguirá os requisitos da resolução 4.970 de 2021 do Conselho Monetário Nacional (CMN). “Quando protocolado o pedido pelo Banco Master, o BC vai avaliar o pedido tecnicamente quanto ao cumprimento dos requisitos aplicáveis a operações da espécie”, informou a autarquia.
Nesta tarde, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, mudou a agenda para receber o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, na sede do BC, em Brasília. Inicialmente, Galípolo passaria esta segunda-feira (31) em São Paulo, mas se reunirá com Costa e os diretores de Fiscalização do BC, Ailton Aquino, e de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, Renato Gomes, no fim desta tarde.
Na noite de domingo (30), Galípolo encontrou-se, em São Paulo, com André Esteves, presidente do BTG Pactual, instituição financeira também interessada em adquirir o Banco Master. Os dois encontros foram incluídos na agenda oficial do presidente do BC.
Até por volta das 17h30 desta segunda, as ações ordinárias do BRB tinham se valorizado 83,44% em relação à sexta-feira. Além de validado pelo Banco Central, a compra do Banco Master precisa ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
No fim da tarde de sexta-feira, o presidente do BRB anunciou a intenção de comprar o Banco Master por R$ 2 bilhões. O BRB ficaria com 58% do capital total e 49% das ações ordinárias do Master. Segundo banco estatal do DF, os R$ 2 milhões equivalem a 75% do patrimônio consolidado do Master, conforme demonstrações financeiras auditadas pela PricewaterhouseCoopers (PwC), uma das principais empresas de auditoria do mundo.
O negócio é polêmico porque o Banco Master tem uma política agressiva para captar recursos, oferecendo rendimentos de até 140% do Certificado de Depósito Bancário (CDI) a quem compra papéis da instituição financeira, bastante superiores às taxas médias para bancos pequenos, em torno de 110% a 120% do CDI.
Sem ter publicado o balanço de dezembro, o Master enfrenta a desconfiança do mercado financeiro. Recentemente, a instituição financeira tentou uma emissão de títulos em dólares, mas não conseguiu captar recursos. Operações do banco com precatórios, títulos de dívidas de governos com sentença judicial definitiva, também aumentaram dúvidas sobre a situação financeira da instituição.
Recentemente, o BTG Pactual ofereceu apenas R$ 1 para assumir o controle do Master e assumir o passivo da instituição financeira. As dívidas seriam cobertas com recursos do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), fundo que cobre investimentos de até R$ 250 mil por pessoa física ou pessoa jurídica em cada instituição financeira. No entanto, a falta de acordo entre os bancos que aportam recursos no FGC impediu o negócio de ir adiante.
Fonte: Poder360