A “paz tão desejada” nasce da misericórdia, uma luz que ilumina o caminho quaresmal e abre os corações a “novas relações fraternas”. Este é o desejo expresso pelo Papa Francisco nesta quinta-feira, 27 de março, em sua mensagem aos participantes do XXXV Curso sobre o Fórum Interno, organizado pela Penitenciaria Apostólica. Os encontros, que começaram em 24 de março e continuarão até o dia 28, estão sendo realizados na basílica romana de São Lourenço em Damaso, anexa ao “Palazzo della Cancelleria”, e são dirigidos principalmente a sacerdotes e candidatos próximos às Ordens Sacras.
O período litúrgico que antecede a Páscoa é um tempo de “conversão”, ‘penitência’ e “acolhida”. Uma dimensão, esta última, que também engloba a misericórdia, cuja celebração representa um autêntico “privilégio”.
Deus nos fez ministros da Misericórdia por sua graça, um dom que acolhemos porque fomos e somos os primeiros objetos de seu perdão.
O Papa exorta a ser “homens de oração”, pois nela estão as ‘raízes’ de cada “ação ministerial”. É uma tarefa que também implica grande responsabilidade, pois continua “a obra de Jesus”, que - como recorda Francisco citando o Evangelho de João - “ainda e sempre repete: ‘Nem eu te condeno, vai e de agora em diante não peques mais’”.
Uma Palavra “libertadora”, que o Papa espera que ressoe com força no Ano Jubilar em andamento.
Para a renovação dos corações, que nasce da reconciliação com Deus e abre a novas relações fraternas. Também a paz, tão desejada, nasce da Misericórdia, como a esperança que não decepciona.
Francisco concluiu sua mensagem abençoando e agradecendo aos participantes por seu “indispensável ministério sacramental”.
- O Papa e os 38 dias de governo do Gemelli entre mensagens, nomeações e apelos de paz
Cinco anos atrás, na noite deste mesmo dia 27 de março, Francisco estava em uma Praça São Pedro deserta, iluminada apenas pelos faróis e pelo eco das sirenes. A humanidade inteira estava confinada em suas casas devido à pandemia de Covid-19, mas o Papa estava ali, no coração da cristandade, sozinho, embora acompanhado pelos olhares, pelas transmissões ao vivo e pelas orações de todos. "Percebemos que estamos todos no mesmo barco, frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários, todos chamados a remar juntos, todos precisando nos confortar mutuamente. Neste barco… estamos todos." – disse Francisco naquela ocasião.
Cinco anos depois, é o Papa quem se encontra "confinado" em sua casa, Santa Marta, para seguir a convalescença prescrita pelos médicos após a pneumonia bilateral que o fez correr risco de vida duas vezes e exigiu uma internação hospitalar de 38 dias. Sozinho, mas acompanhado fisicamente pela equipe médica e seus colaboradores mais próximos e, espiritualmente, pelas orações de muitos, até mesmo de quem não crê. Frágil, mas firme – e também neste 27 de março de 2025, assim como em 2020 – continua sendo um ponto de referência para uma humanidade desorientada. A tempestade agora já não é mais a pandemia, mas sim as guerras e crises, a corrida pelo rearmamento e a vida dos povos sufocada pela violência e pela precariedade. "Neste barco… estamos todos."
Jorge Mario Bergoglio não deixou de guiar essa barca e não parou de fazê-lo nem mesmo durante a "quaresma" que passou no Gemelli, entre emergências respiratórias, terapias farmacológicas e fisioterapia. Com as mãos no leme da Igreja e os olhos voltados para os horizontes da Europa, do Oriente Médio, da África e do Sudeste Asiático – todos dilacerados pela guerra, que, "visto daqui", do espaço asséptico do décimo andar do Hospital, "parece ainda mais absurda". Uma frase escrita na meditação do Angelus de 2 de março que ficou marcada na memória de todos. Foi a segunda de seis meditações divulgadas a cada domingo desde 14 de fevereiro, dia de sua internação, durante o qual a janela do escritório privado do Palácio Apostólico do Vaticano permaneceu fechada.
Em cada uma de suas reflexões, nunca faltou uma menção aos conflitos, desde a primeira meditação, em 16 de fevereiro, até a de domingo, 23 de fevereiro, véspera do terceiro aniversário do início da agressão em larga escala contra a Ucrânia. "Uma data dolorosa e vergonhosa para toda a humanidade", definiu o Santo Padre, convidando a lembrar "as vítimas de todos os conflitos armados" e a "rezar pelo dom da paz na Palestina, em Israel e em todo o Oriente Médio, em Mianmar, no Kivu e no Sudão". Esse apelo também foi repetido no Angelus de domingo, 9 de março, quando expressou "preocupação" com a escalada da violência na Síria, pedindo "total respeito a todas as comunidades étnicas e religiosas da sociedade, especialmente os civis". Depois, em 16 de março, durante um domingo especial com a presença de crianças de diversas nacionalidades no pátio do Gemelli, pediu que rezassem especialmente pelos "países feridos pela guerra". E, novamente, no dia 23 de março, quando recebeu alta do hospital, Francisco expressou sua dor diante da retomada dos bombardeios israelenses sobre Gaza: "Peço que as armas se calem imediatamente e que haja coragem para retomar o diálogo, para que todos os reféns sejam libertados e se alcance um cessar-fogo definitivo", escreveu, denunciando a "gravíssima situação humanitária" na Faixa de Gaza, que "exige um compromisso urgente das partes em conflito e da comunidade internacional".
Além dos Angelus, também permaneceram marcadas as palavras de paz que Francisco enviou ao diretor do jornal italiano Corriere della Sera, Luciano Fontana, em uma carta de resposta aos votos de pronta recuperação. A carta foi publicada justamente nos dias em que se discutia o plano do "ReArm Europe", e nela o Papa faz um apelo ao desarmamento, começando pelas palavras: "As palavras nunca são apenas palavras: são fatos que constroem os ambientes humanos. Elas podem unir ou dividir, servir à verdade ou se aproveitar dela". E acrescentou: "Precisamos desarmar as palavras, para desarmar as mentes e desarmar a Terra", reforçando que "enquanto a guerra apenas devasta comunidades e o meio ambiente, sem oferecer soluções para os conflitos, a diplomacia e as organizações internacionais precisam de um novo fôlego e credibilidade".
Com uma assinatura em letra cursiva pequena, Francisco encerra a carta ao jornal italiano. A mesma assinatura que ele colocou em documentos oficiais durante sua internação. Foram 44 nomeações feitas durante as seis semanas no Gemelli, incluindo bispos, arcebispos, núncios (para Burquina Faso, Chile, Bielorrússia) e a nova presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, a irmã Raffaella Petrini, no dia 15 de março. Dez dias depois, nomeou dois novos secretários para o Governatorato vaticano: dom Nappa, até então secretário adjunto do Dicastério para a Evangelização, e o advogado Puglisi-Alibrandi, que ocupava a função de vice-secretário geral.
Além disso, publicou em 26 de fevereiro o Chirografo que institui a Commissio de donationibus pro Sancta Sede, um novo organismo criado para "incentivar doações com campanhas específicas" entre fiéis, conferências episcopais e outros possíveis benfeitores, bem como "buscar financiamentos de doadores generosos para projetos específicos apresentados pelas Instituições da Cúria Romana e pelo Governatorato".
Nos 38 dias em que guiou a barca em meio à tempestade da doença e da situação mundial, também preparou quatro catequeses para as audiências gerais das quartas-feiras (19 e 26 de fevereiro, 5 e 19 de março), enviou seis mensagens – incluindo a Mensagem de Quaresma e aquelas destinadas aos participantes da Assembleia Geral da Pontifícia Academia para a Vida, à peregrinação do Movimento pela Vida e à plenária da Comissão para a Tutela dos Menores – e escreveu uma carta ao cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, estabelecendo o início de um percurso que levará a uma Assembleia eclesial em 2028 no Vaticano, consolidando o caminho percorrido até então, sem convocar um novo Sínodo.
Uma decisão que coloca novamente a Igreja universal em marcha pelos próximos três anos, sempre acompanhada pelo Papa. Nunca sozinho, mesmo quando isolado; nunca fraco, mesmo em convalescença; nunca ausente, mesmo fisicamente distante dos fiéis por causa de uma epidemia mundial ou de uma doença pessoal.
O Escritório das Celebrações Litúrgicas publicou o calendário das missas e cerimônias que ocorrerão de 13 de abril, Domingo de Ramos, até 27 de abril, II Domingo da Páscoa ou da Divina Misericórdia.
No dia 13 de abril, às 10h, hora italiana (5h no horário do Brasil), a missa do Domingo de Ramos, que recorda a entrada de Jesus em Jerusalém e os momentos de sua Paixão, será realizada na Praça São Pedro. Na Quinta-feira da Semana Santa, 17 de abril, na Basílica de São Pedro, às 9h30, hora italiana (4h30 no horário do Brasil), será celebrada a Missa do Crisma. Novamente na Basílica, no dia seguinte, 18 de abril, Sexta-feira Santa, às 17h, hora italiana (12h no horário do Brasil), será realizada a celebração da Paixão do Senhor. Está prevista, como todos os anos, às 21h15, hora italiana (16h15 no horário do Brasil), a tradicional Via Sacra próxima aos arcos do Coliseu.
Na noite de 19 de abril, Sábado Santo, às 19h30, hora italiana (14h30 no horário do Brasil), inicia-se a Vigília que acompanhará a Noite Santa rumo à Ressurreição do Domingo de Páscoa. No dia seguinte, 20 de abril, o calendário divulgado informa que será celebrada a missa às 10h30, hora italiana (5h30 no horário do Brasil), na Praça São Pedro, seguida da bênção “Urbi et Orbi”.
Por fim, foi anunciada a celebração de 27 de abril, II Domingo da Páscoa ou da Divina Misericórdia, às 10h30, hora italiana (5h30 no horário do Brasil), na Praça de São Pedro, para a canonização do Beato Carlo Acutis, no contexto do Jubileu dos Adolescentes.
A Sala de Imprensa da Santa Sé informa que será necessário acompanhar a evolução das condições de saúde do Papa nas próximas semanas para avaliar sua possível presença, e em que termos, nos ritos da Semana Santa.
Fonte: Vatican News