No âmbito do Ciclo de Catequeses para este Jubileu 2025 sobre o tema, Jesus Cristo nossa Esperança, Francisco dedicou a sua reflexão nesta quarta-feira a Nicodemos, na série, “A vida de Jesus. Os Encontros”.
Com esta catequese, - destaca Francisco no texto - começamos a contemplar alguns encontros narrados nos Evangelhos, a fim de compreender a maneira com a qual Jesus dá esperança. De fato, há encontros que iluminam a vida e trazem esperança.
Francisco sublinha que pode acontecer, por exemplo, que alguém nos ajude a ver de uma perspectiva diferente uma dificuldade ou um problema que estamos enfrentando; ou pode ocorrer que alguém simplesmente nos dê uma palavra que não nos faça sentir sozinhos na dor pela qual estamos passando. Às vezes, também pode haver encontros silenciosos, em que nada é dito, mas também esses momentos nos ajudam a retomar o caminho.
E o primeiro encontro que o Papa evidencia é o de Jesus com Nicodemos, narrado no capítulo 3 do Evangelho de João.
Nicodemos vai até Jesus à noite: um horário incomum para um encontro. Na linguagem de João, as referências de tempo geralmente têm um valor simbólico: aqui a noite é provavelmente a noite que está no coração de Nicodemos. Ele é um homem que se encontra na escuridão das dúvidas, naquela escuridão que experimentamos quando não entendemos mais o que está acontecendo em nossas vidas e não vemos claramente o caminho a seguir. Se você estiver no escuro, é claro que buscará a luz.
Nicodemos – afirma Francisco -, busca Jesus porque sentiu que Ele pode iluminar a escuridão de seu coração.
Nicodemos não entende o que Jesus lhe diz porque continua a pensar com sua própria lógica e categorias. Ele é um homem com uma personalidade bem definida, tem um papel público, é um dos líderes dos judeus. Mas provavelmente as contas não fecham mais para ele. Nicodemos sente que algo não está mais funcionando em sua vida. Ele sente a necessidade de mudar, mas não sabe por onde começar.
“Em alguns momentos da vida, isso acontece com todos nós. Se não aceitarmos de mudar, se nos fecharmos em nossa rigidez, nos hábitos ou nas nossas formas de pensar, iremos correr o risco de morrer. A vida está na capacidade de mudar para encontrar uma nova maneira de amar”.
Francisco diz que escolheu começar com Nicodemos também porque ele é um homem que, com a sua própria vida, mostra que essa mudança é possível. Nicodemos conseguirá: no final, ele estará entre aqueles que vão a Pilatos para pedir o corpo de Jesus (cf. Jo 19,39)! Nicodemos finalmente veio à luz, renasceu e não precisa mais ficar no escuro.
“As mudanças às vezes nos assustam. Por um lado, elas nos atraem, às vezes as desejamos, mas, por outro lado, preferimos permanecer nas nossas comodidades. É por isso que o Espírito nos incentiva a enfrentar esses medos”.
Jesus recorda a Nicodemos que também os israelitas tinham medo quando andavam no deserto. E eles se fixaram tanto em suas preocupações que, em algum momento, esses medos assumiram a forma de serpentes venenosas. Para serem libertados, eles tinham de olhar para a serpente de cobre que Moisés havia colocado em um poste, ou seja, tinham de olhar para cima e ficar diante do objeto que representava seus medos. Somente olhando diretamente para o que nos causa medo é que podemos começar a nos libertar.
Francisco finaliza dizendo que “Nicodemos, como todos nós, poderá olhar para o Crucificado, Aquele que derrotou a morte, a raiz de todos os nossos medos. Levantemos também nós o olhar para Aquele a quem traspassaram, deixemos também nós sermos encontrados por Jesus. Nele encontramos a esperança para enfrentar as mudanças em nossa vida e nascer de novo”.
- O Papa: cada vocação na Igreja é sinal da esperança que Deus nutre pelo mundo
Foi divulgada, nesta quarta-feira (19/03), a mensagem do Papa Francisco para o 62° Dia Mundial de Oração pelas Vocações que será celebrado em 11 de maio próximo, IV Domingo de Páscoa.
A mensagem do Pontífice tem como tema "Peregrinos de esperança: o dom da vida" e nela o Papa afirma que "a vocação é um dom precioso que Deus semeia nos corações, um chamado a sair de si mesmo para trilhar um caminho de amor e serviço".
Segundo Francisco, "cada vocação na Igreja – seja laical, seja ao ministério ordenado, seja à vida consagrada – é sinal da esperança que Deus nutre pelo mundo e por cada um dos seus filhos".
"Neste nosso tempo, muitos jovens sentem-se perdidos em relação ao futuro. Frequentemente vivem na incerteza quanto às perspectivas de emprego e, lá no fundo, experimentam uma crise de identidade que é uma crise de sentido e de valores, que a confusão digital torna ainda mais difícil de atravessar", escreve o Papa.
"A injustiça para com os fracos e os pobres, a indiferença do bem-estar egoísta e a violência da guerra ameaçam os projetos de vida boa que cultivam no seu íntimo", sublinha Francisco. "Contudo, o Senhor, que conhece o coração do homem, não nos abandona na insegurança; pelo contrário, quer suscitar em cada um a consciência de ser amado, chamado e enviado como peregrino de esperança", destaca.
De acordo com o Papa, "os membros adultos da Igreja, especialmente os pastores", são "convidados a acolher, discernir e acompanhar o caminho vocacional das novas gerações", e "os jovens são chamados a ser nele protagonistas, ou melhor, coprotagonistas com o Espírito Santo, que suscita" neles "o desejo de fazer da vida um dom de amor".
Em sua mensagem, o Papa se detém em três pontos: o primeiro, acolher o próprio caminho vocacional.
Citando um trecho da Exortação Apostólica pós-sinodal Christus vivit, o Papa afirma que a vida dos jovens "não é «entretanto»" e que eles são "o agora de Deus". "É necessário tomar consciência de que o dom da vida exige uma resposta generosa e fiel", escreve Francisco, convidando os jovens a olharem "para os jovens santos e beatos que responderam com alegria ao chamado do Senhor: Santa Rosa de Lima, São Domingos Sávio, Santa Teresa do Menino Jesus, São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, os Beatos – que em breve serão Santos – Carlo Acutis e Pier Giorgio Frassati, e muitos outros". "Cada um deles", ressalta o Pontífice, "viveu a vocação como um caminho para a felicidade plena, na relação com Jesus vivo. Quando escutamos a sua palavra, o nosso coração arde e sentimos o desejo de consagrar a vida a Deus! Desejamos descobrir de que modo, em que forma de vida é possível retribuir o amor que Ele primeiro nos dá".
Segundo o Papa, "toda vocação, sentida na profundidade do coração, faz germinar uma resposta como impulso interior ao amor e ao serviço, como fonte de esperança e caridade e não como busca de autoafirmação. Vocação e esperança entrelaçam-se, portanto, no projeto divino pela alegria de cada homem e mulher, todos eles chamados em primeira pessoa a oferecer a sua vida pelos outros".
O Papa recorda na mensagem que "são muitos os jovens que procuram conhecer o caminho que Deus os chama a percorrer: alguns constatam – muitas vezes com surpresa – a vocação ao sacerdócio ou à vida consagrada; outros descobrem a beleza do chamado ao matrimônio e à vida familiar, bem como ao compromisso com o bem comum e ao testemunho da fé entre colegas e amigos".
“Toda vocação é animada pela esperança, que se traduz em confiança na Providência. Com efeito, para o cristão, ter esperança é mais do que um simples otimismo humano: é antes uma certeza enraizada na fé em Deus, que age na história de cada pessoa.”
"E, deste modo, a vocação amadurece através do compromisso quotidiano de fidelidade ao Evangelho, na oração, no discernimento e no serviço", escreve Francisco.
O Papa recorda aos jovens que "a esperança em Deus não engana, porque Ele guia os passos de quem a Ele se entrega. O mundo precisa de jovens peregrinos de esperança, corajosos em dedicar a sua vida a Cristo, cheios de alegria por serem seus discípulos-missionários".
No segundo ponto, discernir o próprio caminho vocacional, Francisco escreve que "a descoberta da própria vocação passa por um caminho de discernimento. Este percurso nunca é solitário, mas desenvolve-se no seio da comunidade cristã e com ela".
Segundo o Pontífice, o mundo induz os jovens "a fazer escolhas precipitadas e a encher os dias de barulho, impedindo a experiência de um silêncio aberto a Deus, que fala ao coração". "Tenham a coragem de parar, de escutar dentro de vocês e de perguntar a Deus o que Ele sonha para vocês. O silêncio da oração é indispensável para “interpretar” o chamado de Deus na própria história e para dar uma resposta livre e consciente", escreve Francisco.
De acordo com o Papa, o recolhimento ajuda a "compreender que todos podemos ser peregrinos de esperança se fizermos da nossa vida um dom, especialmente a serviço daqueles que habitam as periferias materiais e existenciais do mundo". Segundo Francisco, "quem se põe a escutar Deus que chama não pode ignorar o grito de tantos irmãos e irmãs que se sentem excluídos, feridos e abandonados. Cada vocação abre para a missão de ser presença de Cristo onde mais se sente necessidade de luz e consolação. Em particular, os fiéis leigos são chamados a ser “sal, luz e fermento” do Reino de Deus, através do compromisso social e profissional".
No terceiro ponto, acompanhar o caminho vocacional, o Papa convida "os agentes pastorais e vocacionais, especialmente os conselheiros espirituais", a não terem "medo de acompanhar os jovens com a esperançosa e paciente confiança da pedagogia divina. Trata-se de ser para eles pessoas capazes de escuta e acolhimento respeitoso; pessoas em quem podem confiar, guias sábios, disponíveis para os ajudar e atentos a reconhecer os sinais de Deus no seu caminho".
Francisco exorta a promover "o cuidado da vocação cristã nos vários campos da vida e da atividade humana, favorecendo a abertura espiritual de cada pessoa à voz de Deus. Para este fim, é importante que os itinerários educativos e pastorais contemplem espaços adequados para o acompanhamento das vocações".
O Pontífice recorda que "a Igreja precisa de pastores, religiosos, missionários e esposos que, com confiança e esperança, saibam dizer “sim” ao Senhor. A vocação nunca é um tesouro que fica fechado no coração, mas cresce e se fortalece na comunidade que crê, ama e espera. E como ninguém pode responder sozinho ao chamado de Deus, todos temos necessidade da oração e do apoio dos nossos irmãos e irmãs".
De acordo com Francisco, "a Igreja é viva e fecunda quando gera novas vocações. E o mundo, muitas vezes inconscientemente, procura testemunhas de esperança que anunciem com a vida que seguir Cristo é fonte de alegria. Não nos cansemos de pedir ao Senhor novos operários para a sua messe, certos de que Ele continua chamando com amor".
"Queridos jovens, confio o seu seguimento de Jesus à intercessão de Maria, Mãe da Igreja e das vocações. Caminhem sempre como peregrinos da esperança no caminho do Evangelho", conclui o Papa.
Fonte: Vatican News