O dólar à vista exibiu leve desvalorização nesta quinta-feira, descolando-se do movimento observado na maioria dos mercados mais líquidos, onde a moeda americana registrou alta.
Operadores lembram que as divisas emergentes (em especial da Ásia e da América Latina) estiveram entre as mais resilientes neste pregão, mas que não houve sinais de entrada de capital no país, indicando, assim, apenas uma reprecificação dessa classe de ativos.
Encerradas as negociações, o dólar à vista exibiu desvalorização de 0,11%, cotado a R$ 5,8012, depois de bater a mínima de R$ 5,7912 e encostar na máxima de R$ 5,8352. Já o euro comercial registrou desvalorização de 0,49%, a R$ 6,2927. No exterior, o índice DXY avançava 0,24%, aos 103,856 pontos, perto do fechamento do mercado à vista. Entre as moedas que mais avançavam frente ao dólar estavam o rublo russo, a rupia indiana e o peso mexicano.
A sessão desta quinta-feira abriu com o dólar à vista exibindo leve valorização, acompanhando a dinâmica da maioria dos mercados mais líquidos. Ao longo da manhã, o dólar até chegou a ensaiar uma apreciação mais forte, mas o movimento não se sustentou e a moeda americana perdeu força e passou a rondar a estabilidade. Como o dado do dia era o índice de preços ao produtos nos EUA (PPI, na sigla em inglês) e o indicador não fez preço, a leitura é que as moedas estariam orientadas por questões particulares dos respectivos mercados, com os emergentes se beneficiando mais.
No caso do Brasil, a ausência de notícias que pudessem dar melhor direcionamento ao câmbio pode ter contido uma melhora mais forte do real.
Mas, com a aproximação da decisão de juros do Banco Central (BC), os analistas já começam a avaliar o impacto para o real de mais altas de juros por aqui. Michael Pfister, analista de moedas do Commerzbank, diz em nota que, em questão de moedas, normalmente é comum pensar que é positivo para este mercado o aumento da taxa de juros de um país, se respondendo às ameaças de inflação.
“Agora tenho dúvidas se isso também se aplica ao real brasileiro”, afirma. “Provavelmente não será tão fácil para o BC garantir uma valorização do real com (mais) aumentos nas taxas de juros. O real desvalorizou-se principalmente devido à situação fiscal, que é vista como demasiado expansionista, e os políticos não conseguem chegar a acordo sobre a redução dos gastos (o Orçamento de 2025 ainda está pendente)”, afirma.
Neste sentido, o analista do Commerzbank diz que o BC tem muito pouco para mudar tal situação. “Grande parte do recente aumento da inflação provém dos preços dos alimentos, que tendem a ser voláteis e sobre os quais um Banco Central tem menos influência na sua política monetária”, afirma, questionando também o peso da alta da Selic na atividade.
“Estamos cada vez mais preocupados com o fato de o BC estar estrangulando a economia real mais do que o necessário para controlar o aumento da inflação, sobre a qual tem pouca influência através de aumentos das taxas de juro. E, consequentemente, estamos céticos quanto a uma valorização do real, apesar dos aumentos nas taxas de juros que ainda estão por vir.”
O economista-chefe da Somma Investimentos, César Garritano, tem uma perspectiva diferente. Para ele, o diferencial de juros maior pode servir como um colchão de proteção para o câmbio, em especial diante da volatilidade causada pela guerra comercial dos EUA.
“Tendo como hipótese base o cenário internacional mais ruidoso, mas sem um grande pânico, acho que o diferencial de juros pode beneficiar o câmbio, sim, e creio que essa nova composição do Banco Central está atenta a isso [eficácia do diferencial de juros para a moeda]”, diz.
A leitura do economista da Somma é que a questão fiscal não deve ser endereçada para destravar uma supervalorização do real, mas também não deve ser deixada totalmente de lado. “Acreditamos aqui que o governo não deve dobrar a aposta em 2025. Vão haver medidas como a de controle de preços de alimentos, medidas criativas, mas não deve vir nada traumático”, afirma.
“As vacas sagradas devem seguir intactas, ou seja, a meta do primário não deve ser alterada, nem o arcabouço fiscal.” A Somma tem como projeção de câmbio para o fim deste ano R$ 5,90 por dólar, mas Garritano diz ver espaço para o dólar ficar até um pouco mais depreciado, no nível de R$ 5,80 ou quem sabe R$ 5,70.
“Vai depender do nosso cenário, das expectativas em torno das eleições, da popularidade do governo.”
Para ir além, chegando a um nível de R$ 5,50 e mais para baixo, seria necessário medidas fiscais mais concretas. “E isso deve vir só depois das eleições, como bem apontou a ministra [do Planejamento] Simone Tebet hoje em entrevista ao Valor.”
Fonte: UOL