Nesta sexta-feira (07/02) o Papa Francisco cumpriu agenda na Casa Santa Marta, no Vaticano, em vez do Palácio Apostólico, para poder se resguardar da bronquite que o acometeu. Em uma das audiências, o Pontífice recebeu um grupo de 60 membros da rede internacional de religiosas "Talitha Kum" que combate o tráfico humano. O encontro foi realizado na véspera do XI Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas celebrado todos os anos em 8 de fevereiro, festa em memória de Santa Josefina Bakhita, "que foi vítima desse terrível flagelo social", recordou o Papa em discurso:
"A sua história nos dá muita força, mostrando-nos como, apesar da injustiça e do sofrimento vivido, com a graça do Senhor seja possível quebrar as correntes, tornar-se livre e mensageiro de esperança para os outros que estão em dificuldades."
A religiosa que nasceu no Sudão, viveu a dureza da escravidão contra a qual lutou incansavelmente, foi canonizada por João Paulo II no ano de 2000 e virou um símbolo universal do empenho da Igreja contra o fenômeno global que, no Brasil, segundo dados oficiais, chegou a fazer 365 vítimas em 2024. Diante da gravidade do tráfico humano em nível mundial, "não podemos ficar indiferentes", observou o Papa, e, assim como fazem os cerca de 6 mil membros de Talitha Kum, "devemos unir nas ossas forças, as nossas vozes e chamar todos às suas responsabilidades para combater essa forma de criminalidade que lucra com a pele dos mais vulneráveis". E Francisco acrescentou:
“Não podemos aceitar que tantas irmãs e tantos irmãos sejam explorados de maneira tão desprezível. O comércio dos corpos, a exploração sexual, inclusive de meninos e meninas, o trabalho forçado, são uma vergonha e uma violação gravíssima dos direitos humanos fundamentais.”
De fato, há uma semana, a rede Talitha Kum está mobilizada em Roma para encontros e ações concretas de conscientização contra o tráfico humano. Nesta sexta-feira (07/01), após o encontro com o Papa, foi promovida uma peregrinação on-line de oração contra esse mal que atravessou todos os continentes com transmissão ao vivo em 5 línguas, inclusive em português. Francisco agradeceu a delegação presente na audiência, alguns que vieram de países distantes, "de modo especial, parabenizo os jovens embaixadores contra o tráfico que, com criatividade e energia, estão sempre encontrando novas maneiras de conscientizar e informar".
Assim como faz a Talitha Kum, o Papa finalizou o discurso incentivando todos a fazerem parte dessa mobilização, "unindo forças, colocando as vítimas e os sobreviventes no centro, ouvindo as suas histórias, cuidando das suas feridas e amplificando as suas vozes. Isso significa ser embaixador de esperança; e espero que, neste Jubileu, muito mais pessoas sigam o exemplo de vocês". Como tem feito o próprio brasileiro Luís Rogério do Nascimento Braz, um dos jovens "Embaixadores da Esperança", presente na audiência na Casa Santa Marta:
"O Papa Francisco exortou-nos que, com a nossa criatividade e o nosso vigor juvenil, nós continuemos empenhados com o nosso trabalho da rede Talitha Kum. E confirmou-nos com o seu ministério petrino esse nosso trabalho. E a palavra que marcou a audiência foi a esperança. O Papa pediu para que nós nunca percamos a esperança de que o mundo sem o tráfico de pessoas é possível. Ele fez uma audiência muito descontraída e fez com que a gente pensasse que ele tivesse todo tempo do mundo para nós: respondeu às nossas perguntas, pudemos partilhar as nossas angústias e as nossas alegrias também. Foi um encontro muito renovador e confirmador para nós."
- O Papa: embaixadores da esperança contra o tráfico de pessoas que destrói a dignidade humana
Existem perguntas importantes que exigem resposta na mensagem do Papa para o décimo primeiro Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas, cujo tema é: "Embaixadores da esperança: juntos contra o tráfico de pessoas". “Um fenômeno complexo – escreve Francisco – em constante evolução, que se alimenta de guerras, conflitos, fomes e das consequências das mudanças climáticas.”
E assim, se pergunta, “como é possível continuar alimentando a esperança diante de milhões de pessoas, especialmente mulheres e crianças, jovens, migrantes e refugiados, presos nesta escravidão moderna?” Onde podemos encontrar um novo impulso “para combater o comércio de órgãos e tecidos humanos, a exploração sexual de meninos e meninas, o trabalho forçado, incluindo a prostituição, o tráfico de drogas e o tráfico de armas?” “Como podemos ver tudo isso no mundo e não perder a esperança?” A resposta do Papa Francisco é simples e clara.
Somente elevando o olhar para Cristo, nossa esperança, podemos encontrar a força para um compromisso renovado que não se deixa vencer pela dimensão dos problemas e dos dramas, mas trabalha na escuridão para acender chamas de luz, que unidas podem arriscar a noite até o amanhecer.
Chamas de luz são os jovens que lutam contra esta chaga. "Eles nos dizem", escreve o Papa, "que é preciso se tornar embaixadores da esperança e agir juntos, com tenacidade e amor; que é preciso estar ao lado das vítimas e sobreviventes". Somente com a ajuda de Deus é possível vencer a tentação de pensar que o tráfico de pessoas nunca será erradicado, se podemos criar "com coragem e eficiência, iniciativas específicas para enfraquecer e combater os mecanismos econômicos e criminosos que lucram com o tráfico de pessoas e a exploração". É o Espírito do Senhor que, soprando, nos mostra o caminho.
Ensina-nos, antes de tudo, a escutar, com proximidade e compaixão, as pessoas que sofreram a experiência do tráfico, para ajudá-las a se reerguer e, junto com elas, identificar as melhores formas de libertar outras pessoas e realizar a prevenção.
O apelo do Papa na luta contra este fenômeno, que "exige respostas globais e um esforço comum", é trabalhar, governos e organizações em primeiro lugar, "para promover iniciativas em defesa da dignidade humana, para a eliminação do tráfico de pessoas em todas as suas formas e para a promoção da paz no mundo".
Juntos, podemos fazer um grande esforço e criar as condições para que o tráfico de pessoas e a exploração sejam proibidos e o respeito pelos direitos humanos fundamentais prevaleça sempre, no reconhecimento fraterno da humanidade comum.
Nesta tarefa, Francisco pede a proteção de Santa Josefina Bakhita, uma jovem religiosa sudanesa que foi vítima do tráfico humano desde a infância e que se tornou um símbolo do compromisso contra o fenômeno e cuja memória litúrgica é celebrada hoje. “Neste ano jubilar – sublinha – caminhamos juntos, como ‘peregrinos da esperança’, também no caminho do combate ao tráfico de pessoas”.
- O Papa a Congresso Vocacional: “levem a Deus ali onde Ele os envia, essa é nossa vocação”
O Papa Francisco enviou nesta sexta-feira (07), uma mensagem aos participantes do Congresso Vocacional “Para quem sou? - Assembléia de chamados para a missao”. Promovido pela Conferência Episcopal Espanhola, junto à Pastoral Vocacional da Espanha, o encontro acontece de 07 a 09 de fevereiro, em Madrid, na Espanha.
Em sua mensagem, o pontífice agradeceu o trabalho vocacional no país, “trabalhando nos centros de formação ou simplesmente acompanhando aos jovens. Também aos que com seu exemplo de vida, fazem visível e - me atreveria a dizer - contagioso, o entregar-se com generosidade e confiança ao projeto que Deus tem para cada um de nos”, salientou o pontífice.
Utilizando a imagem bíblica “do jovem rico que pergunta ao Senhor o que tem que fazer para alcançar a vida eterna”, Francisco lembrou que “todos somos administradores dos dons de graça e de natureza que o Senhor nos deu”. O Santo Padre pediu ainda que estes dons gerem frutos, “de modo que o fruto chegue aos demais”.
Sem esquecer das inundações sofridas pela Espanha em outubro do último ano, o pontífice destacou os “testemunhos de valentia, de solidariedade” observados durante a tragédia, que matou ao menos 232 pessoas. Para Francisco, o desastre fez ver “que neste contexto o que tenho, o que sou, tem um propósito concreto: os outros. E quando não é assim, se vê claramente o amargor, o clamor da terra e de Deus que nos perguntam: Não eras tu responsável pelo seu irmão? (cf. Gn 4,8-11)”
Fazendo um paralelo entre a história do jovem rico e os jovens que auxiliaram, de forma voluntária, os atingidos pelas inundações de outubro e os migrantes do vulcão de La Palma, o Papa convidou os jovens a “captar o valor dos bens espirituais ou materiais que somos chamados a gerir” como forma de ajudar no discernimento da própria vocação.
Retomando ainda outros exemplos bíblicos - como o dos apóstolos - o pontífice convidou os participantes do Congresso a “anunciar a Jesus, na Palavra e nos sacramentos, atendendo uma pobreza que não é material, mas espiritual”. “Peçamos, irmãos, neste Congresso de Vocações um olhar capaz de perceber a necessidade do irmão, não de forma abstrata, mas no concreto dos olhos que se firmam em nós como os do paralítico do templo”, convidou o Santo Padre.
“No escritório, na família, no apostolado, no serviço, levem a Deus ali onde Ele os envia, essa é nossa vocação”, pediu o pontífice. “Não tenham medo e abandonem-se a vontade divina, o Espírito os surpreenderá a cada passo, fazendo-os descer do trem da vida, como a Santa Teresa de Calcutá, para reduzir as distância que os separam de Deus e do irmão, para mudar seus rumos e encontrar a Jesus no abraço daquele ao qual sois enviados”, finalizou o Santo Padre.
Fonte: Vatican News