Logo após rezar a oração mariana do Angelus, o Papa começou saudando o Movimento italiano pela Vida:
Hoje, na Itália, é celebrado o Dia da Vida, com o tema “Transmitir a vida, esperança para o mundo”. Uno-me aos bispos italianos para expressar gratidão às tantas famílias que acolhem de bom grado o dom da vida e para encorajar os jovens casais a não terem medo de trazer filhos ao mundo. E saúdo o Movimento Pró-Vida Italiano, que celebra seu 50º aniversário. Parabéns!
A seguir, Francisco recordou o Encontro Internacional sobre os Direitos da Criança intitulado “Amemo-los e protejamo-los”, a ser realizado no Vaticano como anunciado na Audiência Geral de 20 de novembro de 2024 e do qual participará em dois momentos: na segunda-feira, pela manhã e pela tarde:
É uma oportunidade única para colocar no centro da atenção do mundo as questões mais urgentes que dizem respeito à vida das crianças. Convido vocês a se unirem em oração pelo bom êxito.
E a propósito do valor primordial da vida humana, o Santo Padre reiterou seu “não” à guerra, que “destrói, destrói tudo, destrói a vida e leva a desprezá-la”:
E não esqueçamos que a guerra é sempre uma derrota. Neste Ano Jubilar, renovo meu apelo, especialmente aos governantes de fé cristã, para que se empenhem ao máximo nas negociações para por fim a todos os conflitos em curso. Rezemos pela paz na martirizada Ucrânia, Palestina, Israel, Líbano, Mianmar, Sudão e Kivu do Norte.
Após seus apelos, Francisco saudou os grupos de várias nações presentes na Praça, despedindo-se com a tradicional saudação:
Desejo a todos um bom domingo. Por favor, não se esqueça de orar por mim. Aproveite seu almoço e até breve!
- Jesus revela o critério pelo qual seremos julgados: o amor
Hoje o Evangelho da liturgia (Lc 2,22-40) nos fala de Maria e José que levam o menino Jesus ao Templo de Jerusalém. Segundo a Lei, eles o apresentam na morada de Deus, para recordar que a vida vem do Senhor. E enquanto a Sagrada Família cumpre aquilo que sempre se fazia no povo de Israel, de geração em geração, acontece algo que nunca havia acontecido antes.
Dois anciãos, Simeão e Ana, profetizam sobre Jesus: ambos louvam a Deus e falam do menino «a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém” (v. 38). Suas vozes comovidas ressoam entre as velhas pedras do Templo, anunciando o cumprimento das expectativas de Israel. Verdadeiramente Deus está presente no meio do seu povo: não porque habita entre quatro paredes, mas porque vive como homem entre os homens. E esta é a novidade de Jesus...Na velhice de Simeão e Ana, acontece a novidade que muda a história do mundo.
Da sua parte, Maria e José «estavam admirados com o que diziam» a respeito de Jesus. De fato, quando Simeão toma o menino nos braços, o chama de três maneiras belíssimas, que merecem uma reflexão. Três modos, dá a ele três nomes. Jesus é a salvação; Jesus é a luz; Jesus é sinal de contradição.
Antes de tudo, Jesus é a salvação. Assim diz Simeão, rezando a Deus: «Meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos». Isso sempre nos maravilha: a salvação universal concentrada em um só! Sim, porque em Jesus habita toda a plenitude de Deus, do seu Amor.
Segundo aspecto: Jesus é «luz para iluminar as nações» (v. 32). Assim como o sol que surge sobre o mundo, este menino o resgatará das trevas do mal, da dor e da morte. Como precisamos, também hoje de luz, dessa luz!
Por fim, o menino abraçado por Simeão é sinal de contradição «assim serão revelados os pensamentos de muitos corações». Jesus revela o critério para julgar toda a história e o seu drama, e também a vida de cada um de nós. E qual é este critério? É o amor: quem ama vive, quem odeia morre. Isto é: Jesus é a salvação, Jesus é a luz e Jesus é o sinal de contradição.
Iluminados por este encontro com Jesus, podemos então nos perguntar: eu, tu, tu , tu ,eu, o que espero na minha vida? Qual é a minha grande esperança? Meu coração deseja ver a face do Senhor? Aguardo a manifestação do seu plano de salvação para a humanidade?
Rezemos juntos a Maria, mãe puríssima, para que nos acompanhe nas luzes e nas sombras da história, que nos acompanhe sempre ao encontro com o Senhor.
- O Papa aos jovens ucranianos: sejam patriotas, a guerra mata, mas perdoem sempre
Ser “patriotas”, isto é, “amar a Pátria” agora “ferida” pela guerra que mata e leva à fome. Então, “perdoar”, porque “é verdade que temos que nos defender”, mas devemos estar sempre prontos a perdoar, mesmo que “seja muito difícil” e o instinto seja antes de “responder a um soco com outro soco”. Por fim, dialogar: “Sempre”, “entre nós”, também com aqueles “que são contra” e apesar “da teimosia de alguns”, na certeza de que “a paz se constrói por meio do diálogo”.
Durante uma hora, o Papa Francisco se conecta da Casa Santa Marta com 250 jovens ucranianos para um evento on-line feito de testemunhos, orações, perguntas e respostas. São jovens de rito latino e greco-católico, conectados de Kiev, da Diocese de Lutsk e do Exarcado de Donetsk ou de Varsóvia, Munique, Londres, Chicago, Toronto, para onde emigraram com suas famílias.
“Este é um encontro histórico, o primeiro encontro na história entre o Papa de Roma e os jovens ucranianos”, disse o arcebispo-mor Svyatoslav Ševčuk em sua saudação inicial. O líder da Igreja Greco-Católica Ucraniana acompanha o grupo reunido na Catedral da Ressurreição, em Kiev, onde o Papa é visto em um telão.
“Se a sirene de ataque aéreo começar a soar, devemos interromper a conexão e ir para o subsolo”, diz Shevchuk. “É um milagre termos luz e eletricidade, ontem à noite sofremos outro ataque aéreo mas alguém reconectou os cabos: temos luz e conexão de internet!”.
Também conectado o bispo latino Jan Sobilo, auxiliar da Diocese de Kharkiv-Zaporizhzhia, entre aquelas mais afetadas pelos bombardeios, e sobretudo o núncio apostólico Visvaldas Kulbokas, um dos organizadores desta iniciativa que apresenta os convidados a Francisco ( “Este é bom...!” comenta Francisco ao ver o núncio aparecer na tela).
O Papa – acompanhado de um tradutor – está sentado diante de uma escrivaninha na sala de estar da Casa Santa Marta, onde se destaca a pintura de Nossa Senhora Desatadora dos Nós. Prepara uma folha de papel em branco e uma caneta para anotar as perguntas. Saúda os tantos rostos que aparecem no telão e diz que fica particularmente tocado por uma mãe segurando sua filhinha, Esther: “Ela é linda!” O sinal da cruz e a oração do Pai Nosso recitados por todos abrem o encontro. O arcebispo Kulbokas lê uma leitura da Carta de São Paulo aos Romanos, que diz: “… nos gloriamos na esperança da glória de Deus… nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança…”.
A esperança, assim como as “tribulações” entendidas como o horror sofrido ao longo desses quase três anos pelo povo ucraniano com a invasão russa em grande escala inicada em fevereiro de 2022, são o esboço do diálogo entre o Papa Francisco e os seus interlocutores ucranianos: “Façam as perguntas que quiserem!”.
Primeiro, porém, há três testemunhos. Um deles é a de uma jovem de 17 anos, proveniente de uma família muito grande e devota, que conta que seu irmão foi enviado para o front e ferido várias vezes. Ele ficou sozinho por semanas, cercado "pelos inimigos": "Eu rezava à noite para meu anjo da guarda proteger ele e todos os soldados." O jovem acabou sendo liberado mais tarde.
O segundo é o testemunho de uma jovem de Donetsk, marcada desde criança pelas violências: “Nasci com um sentimento de injustiça, mas com um desejo pelo futuro. A fé me dá força para seguir em frente.” A força, isto é, de testemunhar e resistir ao medo, às lágrimas, às cidades destruídas, às ondas de refugiados. “Dirijo-me ao senhor”, diz ela ao Papa, “em nome de todos os jovens de Donetsk. Queremos paz, uma paz justa e duradoura, que nos permita retornar às nossas cidades e aos nossos sonhos. Acreditamos que o bem é mais forte que o mal."
A falar por último, é um jovem de 18 anos de Kharkiv. Ele recorda seus pares na linha do front: “Muitos morrem… O inimigo busca destruir cidades, mas também a fé no futuro.” Morrem também pessoas simples, dizele; como Maria, 12 anos, morta por um míssil em um supermercado juntamente com sua mãe: “Ajudava-nos a preparar ajuda para os necessitados. Apesar da dor excruciante, acreditamos que Maria e sua mãe estão com Deus, elas são nossos anjos."
Iliana Dobra, 21 anos, professora de inglês em uma escola paroquial em Uzhhorod, foi a primeira a fazer uma pergunta ao Papa: “Vale a pena morrer pela pátria? Como podemos alimentar nossa fé na luta pela vida quando a própria vida é desvalorizada no mundo?”
Francisco retoma este conceito: “A vida hoje é desvalorizada. É mais importante o dinheiro, é mais importante assumir posição de guerra. A vida não vem em primeiro lugar”, enfatiza. Ele recorda uma viagem a um país da Europa Central, onde as pessoas saíam de suas casas para saudá-lo: havia jovens, crianças e algumas senhoras idosas. Os homens com mais idade, todos mortos na guerra. “A guerra sempre destrói.” O antídoto é o diálogo: “Dialogar sempre, dialogar entre nós, mesmo com aqueles que são contrários a nós. Por favor, não se cansem de dialogar. A paz é construída por meio do diálogo. É verdade que algumas vezes não é possível, pela teimosia de alguns, mas sempre fazer um esforço”.
Com Anastasia, de Varsóvia, cidade que acolheu milhões de ucranianos em fuga e que pergunta como não perder a fé em meio a essas tragédias, o Papa Francisco compartilha uma expressão: “Nostalgia da Pátria”. “A nostalgia é uma força. A vocês, ucranianos no exterior, peço, por favor, que não percam a nostalgia de sua Pátria. Muitas vezes é um sofrimento, mas sigamos em frente!”. Anastasia sorri na tela; o Papa percebe e diz: “Pense na Pátria e sorria para a Pátria”.
Julia, 27 anos, de faz porta-voz de muitos jovens, a começar pelos de Kharkiv e Poltava, que viram suas cidades bombardeadas algumas noites atrás, enquanto se reuniam para se preparar o encontro. “Cidades inteiras foram destruídas por projéteis e foguetes inimigos. “Há um genocídio do nosso povo”, denuncia a jovem. “Como podemos ver paz em tudo isso?”
O Papa Francisco, visivelmente emocionado, também aponta o dedo para a guerra, que “sempre destrói”, e para a fome, uma das primeiras consequências dos conflitos: “É terrível! É uma das piores coisas da guerra.” Ele recorda que todas as noites liga para a paróquia em Gaza: “Eles me contam como ficam com fome tantas vezes. Porque é isso que a guerra faz… e a guerra não só causa fome, mas a guerra também mata.”
O Papa então pega um pequeno exemplar do Evangelho com uma capa camuflada. Ela pertencia a Oleksandr, o jovem soldado ucraniano do qual ele falou em diversas Audiências Gerais. O jovem levou consigo o Novo Testamento e os Salmos para o front, onde morreu, e havia sublinhado o Salmo 129: “Nas profundezas clamo a ti, Senhor; ó Senhor, ouve a minha voz…”. Oleksandr “é um de vocês”, enfatiza Francisco. Ele também mostra aos jovens conectados o Rosário com o qual o soldado rezava: “Para mim, esta é uma relíquia, de um dos seus jovens, que deu a vida pela paz. E o tenho sobre minha escrivaninha e com ele rezo todos os dias. Devemos lembrar desses nossos heróis que defenderam a Pátria. O povo ucraniano está sofrendo, está morrendo de fome. Abramos os olhos! Vejamos o que uma guerra faz!”.
Assim como Oleksandr, o Papa pede aos jovens que sempre tenham consigo um pequeno Evangelho de bolso: “Leiam um pequeno trecho durante o dia. Isso é vida!". E como Oleksandr, os jovens ucranianos são chamados a ser patriotas: “Todos os jovens têm uma missão”, afirma Francisco, em resposta a outra pergunta. Quando há dificuldades em um país, em uma pátria, os jovens têm o dever de levar adiante ‘a mística da pátria’. Hoje, a missão dos jovens ucranianos é ser patriotas. E vocês não devem se esconder de todos os problemas que tem com a guerra. Patriotas, amar o seu país! Neste momento seu país está ferido pela guerra… Mas amar a Pátria. É uma coisa muito bonita.”
Sempre aos jovens, “presente e futuro” de um país, o Pontífice pede que sonhem: “Um jovem que não é capaz de sonhar envelheceu”. A propósito de “velhos”, ele insiste no convite para não descuidar dos avós para alimentar a “memória”.
Seu olhar também se dirige às crianças graças a Tatiana, 35 anos, conectada de Chicago, que recorda dos muitos pequenos que escaparam dos “Herodes de hoje”. “Como podemos perdoar e ensinar as crianças a perdoar quando a dor e a injustiça da guerra deixam feridas profundas em nossos corações?”, pergunta ela. “Uma das coisas mais difíceis é perdoar e isso é difícil para todos, inclusive para mim”, confidencia o Papa Bergoglio. “Mas esta frase me ajuda: devo perdoar como fui perdoado. Cada um de nós deve buscar em nossa própria vida como foi perdoado. O perdão é muito difícil. Nós sempre tentamos travar uma guerra e responder a um soco com outro soco." “Para mim”, acrescenta Francisco, “ajuda pensar: fui perdoado e devo perdoar. E não é fácil… A arte do perdão não é fácil, temos que seguir em frente. Devemos perdoar uns aos outros. Sempre".
Ao concluir, o convite para seguir mesmo que cometa erros: “Todos nós cometemos erros na vida, mas quando alguém comete um erro, deve se recompor, levantar e seguir em frente. Não ter medo! Arriscar e se cair, não permaneça caído.” Daqui, depois do canto do Hino Espiritual da Ucrânia, antes da bênção e entre aplausos e cânticos de Viva o Papa, uma última recomendação: “Por favor, não se esqueçam dos seus jovens heróis, como Oleksandr, os jovens a quem deram a sua vida pela Pátria."
Fonte: Vatican News