Economia

Dólar cai a R$ 6,03, com mercado de olho em decretos de Trump; bolsa sobe





Investidores continuam digerindo planos anunciados pelo presidente dos Estados Unidos em seu primeiro dia no cargo

dólar fechou as negociações desta terça-feira (21) em baixa, com mercados digerindo as primeiras ações de Donald Trump à frente da Casa Branca, e também acompanhando a reabertura das bolsas em Nova York na volta do feriado de Martin Luther King.

O republicano assinou uma série de decretos sobre os mais diversos temas, incluindo controle da imigração e exploração de petróleo, deixando suas promessas tarifárias de fora da primeira leva de anúncios.

Na pauta doméstica, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou na véspera uma lista de 25 prioridades da agenda econômica do governo para 2025 e 2026.

A moeda norte-americana registrou uma queda de 0,18%, cotada a R$ 6,0313 na venda. Mais cedo, a divisa chegou a bater R$ 6,606 na máxima.

Por volta das 17h, o Ibovespa opera com uma alta de 0,26%, na faixa de 123,1 mil pontos.

Trump anuncia primeiras medidas

A posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos traz preocupações para a economia mundial, especialmente em relação à política comercial que será adotada.

O republicano sinalizou durante sua posse que pretende estabelecer tarifas e impostos sobre outros países, com o objetivo de “enriquecer os cidadãos americanos”.

As respostas de autoridades globais aos planos de Trump foram várias, com grande parte delas ocorrendo no Fórum Econômico Mundial, em Davos, que também estava no radar dos mercados globais nesta terça.

Em um dos discursos no encontro, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que a União Europeia deseja se envolver e negociar com Trump, mas alertou sobre o risco de uma “corrida global para o abismo” devido ao uso de ferramentas como tarifas.

Em seu primeiro dia na presidência dos Estados Unidos, Donald Trump disse que acredita que aplicará novas tarifas ao Canadá e ao México em 1º de fevereiro.

Trump disse a repórteres no Salão Oval que estava pensando em tarifas de 25% sobre as importações dos vizinhos norte-americanos dos Estados Unidos.

Isso equivale a um adiamento de aproximadamente uma semana das tarifas que ele prometeu impor em seu primeiro dia no cargo.

Questionado sobre tarifas sobre a China, Trump destacou que as taxas que ele impôs como presidente na primeira vez ainda estavam em vigor.

O republicano ainda assinou uma ordem executiva revogando os esforços do ex-presidente Joe Biden para bloquear a perfuração de petróleo no Ártico e em grandes áreas da costa dos EUA, de acordo com a Casa Branca.

Fazenda elenca prioridades

Também na véspera, Haddad apresentou durante a reunião ministerial uma série de medidas para a área economia neste e no próximo ano.

Entre as apresentadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estão a regulamentação da reforma tributária e a ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.

A expectativa do governo é de que o projeto da reforma da renda seja enviado ao Congresso Nacional em 2025 para que seja implementado a partir de 2026.

 

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- Soja brasileira deve ter safra recorde, e agro ganha fôlego com dólar alto

Os agricultores brasileiros devem entregar a maior safra de soja da história nos próximos meses e retomar, graças ao dólar valorizado, uma rentabilidade maior para o campo, mesmo com preços internacionais considerados baixos.

As estimativas variam na mesma direção: a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), estatal ligada ao Ministério da Agricultura, projeta que a produção brasileira poderá chegar a 166 milhões de toneladas, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima 169 milhões de toneladas (40% da soja global) e algumas consultorias privadas chegam a prever 172 milhões de toneladas.

Para efeito de comparação, a produção na safra 2023/2024 foi estimada em 147 milhões de toneladas, representando uma redução de 4,5% em relação à safra anterior, que foi recorde, com 154 milhões de toneladas.

De acordo com a Agroconsult, uma consultoria especializada em commodities agrícolas, o recorde é fruto de um combo que inclui aumento de área, clima favorável no início do ciclo e boas condições de plantio na maioria dos estados produtores.

A produtividade - isto é, quanto cada agricultor consegue colher em média por hectare (10.000 metros quadrados) de lavoura - deve ultrapassar 60 sacas por hectare no país, contra 55 sacas na safra anterior, quebrada pela estiagem.

Pode parecer pouco para um leigo, mas a diferença causa estragos. O campo registrou recorde de recuperações judiciais por agricultores (um tipo de proteção judicial contra credores) e teve impacto na balança comercial do país no ano passado.

As receitas de vendas para o exterior de soja, que liderou a exportação brasileira em 2023, tiveram queda de 18% (US$ 42,08 bilhões até novembro), sendo ultrapassadas pelo petróleo (US$ 42,76 bilhões no mesmo período). Foi a primeira vez desde o início da série histórica, em 1997, que o petróleo superou o grão nas vendas para fora.

"No cenário internacional, a acentuada valorização do dólar em relação ao real torna o produto brasileiro mais atrativo para os compradores estrangeiros, fator que tende a impulsionar as exportações", afirma relatório do Cepea/USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Universidade de São Paulo, em Piracicaba (SP).

Segundo o estudo, os contratos negociados em dólar para embarque nos portos brasileiros no primeiro semestre de 2025 foram fechados com cotações inferiores às registradas no mesmo período do ano anterior, com os valores internacionais também operando em níveis mais baixos. A saca é negociada em média a US$ 22.

O impacto na economia real

No trajeto da BR-163 no norte de Mato Grosso, onde a rodovia corta a maior região produtora de soja do mundo, a chuva no tempo certo e o dólar nas alturas fizeram milhares de pessoas virar a página de uma safra (2023/2024) ruim para aguardar fartura e bonança com a soja que está sendo colhida agora.

"Já estamos com 30 a 35% da área da soja colhida até agora. Está um pouco apertado porque o ideal seria estar plantando o algodão da safrinha, mas ainda está um pouco nublado, o que atrasa um pouco a colheita, mas é claramente uma boa safra", disse ao UOL Miguel Vaz, prefeito de Lucas do Rio Verde (MT) e, ele próprio, produtor do grão.

Lucas do Rio Verde surgiu como uma pequena aglomeração de agricultores do Rio Grande do Sul, em meados dos anos 1970, incentivados pela política de expansão da fronteira agrícola para o norte do Mato Grosso durante o governo de Ernesto Geisel (1974-1978).

Emancipado em 1988 com 5.000 habitantes, o município tem hoje perto de 90 mil e integra, ao lado de Sinop, Sorriso e Nova Mutum, um pedaço de Brasil onde o PIB chega a crescer 10% ao ano, impulsionado pelo agro.

Depois da soja e o algodão (cultura colhida na segunda safra), a economia de Lucas do Rio Verde diversificou-se na cadeia produtiva com plantas de etanol, biocombustíveis e abate de aves. Segundo o IBGE, o município tem um PIB por habitante de R$ 98 mil (2021), mais que quatro vezes a média do país.

Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.

Miguel Vaz, paranaense cuja família mudou-se para o norte de Mato Grosso nos anos 1970, é um retrato das novas fortunas que o agro produziu nas últimas décadas.

Reeleito prefeito de Lucas com 75% dos votos pelo Republicanos no ano passado, ele declarou à Justiça Eleitoral bens de R$ 219 milhões.

O fator dólar acima dos R$ 6, explica o prefeito e produtor, põe mais dinheiro no bolso do agricultor porque, embora preços de defensivos agrícolas e fertilizantes acompanhem as oscilações da moeda americana, parte dos custos da lavoura, como mão-de-obra, manutenção de maquinário e frete, é cotada em reais.

"Onde a agricultura é forte, as cidades são fortes. Normalmente, quando se tem uma boa safra com boas condições de mercado, há muito investimento e geração de empregos na própria cidade, com o comércio expandindo, construção civil e de infraestrutura. O investimento é feito aqui", disse ao UOL.

"É um ciclo que eleva as receitas do município", observa.

Ganho logístico

A safra deste ano, segundo o prefeito, deve se beneficiar de um fator logístico, com a duplicação do trecho de 95 quilômetros entre Lucas do Rio Verde e Nova Mutum.

A estrada, principal rota de escoamento de commodities rumo aos portos exportadores do Sul e do Sudeste, viveu oito anos de incerteza depois que a Odebrecht, que era a concessionária da BR-163, colapsou no esteio da Lava Jato, na década passada.

Após anos de impasse, uma nova concessionária foi escolhida em 2023, e trechos paralisados foram retomados. Ao todo, 850 quilômetros entre Sinop (no norte) e Itiquira deverão estar duplicados. Os 444 quilômetros finais, em vários trechos, devem ser entregues a um custo de R$ 9 bilhões (R$ 5 bilhões via BNDES).

Há ainda o projeto de construção de um ramal ferroviário ligando 743 quilômetros entre Rondonópolis, no sul do Estado, a Lucas do Rio Verde. A ferrovia, construída pela Rumo, vai se conectar com a malha que segue até o Porto de Santos (SP). A previsão de conclusão da obra é 2028.

 

Fonte: CNN - UOL