Cultura

Papa Francisco revela ter sofrido tentativas de assassinato em ida ao Iraque





Pontífice detalhou episódios que aconteceram em 2021 em autobiografia intitulada "Esperança"

O Papa Francisco revelou em uma autobiografia que duas tentativas de atentado contra ele foram frustradas durante sua viagem histórica ao Iraque, em 2021.

O pontífice escreveu que foi avisado de um relatório dos serviços de segurança britânicos de que uma jovem com explosivos estava a caminho de Mossul, uma as maiores cidades do Iraque, para se explodir durante sua visita. O Papa acrescentou que lhe foi dito que uma van “também havia partido em alta velocidade com a mesma intenção”.

Francisco, que completa 88 anos nesta terça-feira (17), fez os comentários em um novo livro de memórias, intitulado “Esperança”, que será lançado no início do ano que vem.

“Quando perguntei à Gendarmaria (do Vaticano) no dia seguinte o que se sabia sobre os dois bombardeiros, o comandante respondeu laconicamente: ‘Eles não estão mais lá’”, escreveu ele nas memórias, um trecho do qual foi publicado pelo jornal italiano Corriere Della Sera.

“A polícia iraquiana os interceptou e os detonou. Isso também foi muito marcante para mim. Isso também foi o fruto envenenado da guerra.”

A visita de Francisco ao Iraque foi a primeira de um pontífice ao país e foi considerada uma viagem de altíssimo risco, tanto por razões de segurança quanto devido à pandemia de Covid-19.

Mas Francisco explicou que estava determinado a ir ao Iraque, um país rico em história bíblica e lar de uma das comunidades cristãs mais antigas do mundo.

Durante a viagem, ele demonstrou solidariedade aos cristãos perseguidos no país e teve um encontro histórico com o Grande Aiatolá al-Sistani, uma das principais autoridades do islamismo xiita.

 

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- Francisco aos jovens: no trabalho, não cedam aos pedidos que humilham

Na mensagem dirigida aos participantes da terceira edição do “LaborDì”, promovida pela ACLI de Roma, o Papa exorta as novas gerações a não cederem a contextos profissionais “poluídos”, onde é normal "fazer qualquer coisa" apenas para obter "prestígio social" ou "dinheiro". O "desempenho" frio das máquinas sempre será acompanhado pela criatividade e pela "imaginação" humanas.

Um convite a não ceder aos pedidos que "humilham", que muitas vezes é preciso fazer "para se sair bem", abrindo caminho num contexto, o do mundo do trabalho, "poluído" por modelos difíceis de aceitar. Modelos em que o prestígio social e o dinheiro parecem ser os únicos objetivos. Ambientes em que o "desempenho" das máquinas "não é tudo", e onde é fundamental apoiar "a fantasia pela qual Deus nos fez todos diferentes".

Sair das "tocas", somos feitos "para o ar livre"

“Somos ‘peças únicas’, ajudemo-nos uns aos outros a recordar isto”, é a exortação que o Papa Francisco faz aos participantes da terceira edição do “LaborDì”, o projeto que visa “promover e colocar o trabalho digno de volta no centro, "promovido pelas Associações Cristãs de Trabalhadores Italianos (ACLI) de Roma.

“Talvez o trabalho tenha parecido para vocês até agora como um problema dos adultos“, escreve o Papa na mensagem divulgada nesta terça-feira (17/12). “Como bispo idoso de Roma, gostaria de lhes dizer: não é assim!”, explica Francisco, destacando o compromisso e a energia necessários para o crescimento das novas gerações. Cada um pode “ter desperdiçado boas oportunidades”, mas nunca deve se cansar de sair de suas “tocas”: aqueles refúgios construídos quando surgem “confusões e ameaças”.

Mas, na realidade, fomos feitos para a luz, para o ar livre. Assim, depois de passar pela adolescência, o cenário do mundo se abre diante de vocês. Pode parecer cheio e distraído quando vocês chegam; e, no entanto, ainda falta a contribuição de vocês, daquilo que sempre vocês esperam. Com vocês – e gostaria de dizer a cada um: com você – o novo entra no mundo. Tudo, realmente tudo pode mudar.

Uma "revolução suave" baseada nas relações e unicidade

A partir do “grito da Terra” e do seu “modelo errado de desenvolvimento”, o Papa reflete sobre a interligação presente entre cada ser humano citada na Encíclica Laudato si’. O mundo do trabalho também é “humano”, embora por vezes contaminado “por dinâmicas e comportamentos negativos que por vezes o tornam inabitável”. Nos ambientes profissionais são precisamente os “nossos laços” que contam mais do que os “números e desempenhos”. Cultivá-los, unindo-os à “consciência” da própria “unicidade, que independe de qualquer sucesso ou fracasso”, pode desencadear uma “revolução suave”.

O coração, “lugar de decisões”, onde “surgem os sonhos”

O Papa recorda a imagem do canteiro de obras, proposta durante a segunda edição do LaborDì, também familiar para os trabalhos em vista do Jubileu. Este ano, porém, ele nos convida a refletir sobre o coração. O coração, presente “também nas mensagens que vocês trocam todos os dias”, é na Bíblia “o lugar das decisões”, onde “nascem as aspirações”, “surgem os sonhos”, “sente-se a resistência” e “a preguiça se insinua”.

Vocês conhecem seu coração: guarde-o! Às vezes ele pode ser assustador e podemos fingir que não o sentimos, mas ele continua sendo nosso, inviolável. Sempre podemos voltar a ele. E lá, se vocês tiverem o dom da fé, que saberão que Deus espera por vocês com infinita paciência.

O “sopro no pescoço” que causa solidão e resignação

O Papa denuncia a velocidade muitas vezes opressiva que caracteriza o contexto de trabalho atual. O “sopro no pescoço” de tantas pessoas, os seus “muitos pedidos, às vezes muitas indicações e recomendações”, não devem alienar as novas gerações, extinguindo seus sonhos, tornando-as “solitárias e resignadas”.

O coração sabe perceber e, quando for o caso, precisamos pedir ajuda e nos unir a quem nos conhece e se preocupa conosco. É preciso escolher.”

O risco de se tornar “engrenagens de uma máquina”

A entrada no mundo do trabalho acontece, segundo Francisco, “juntos”. Caso contrário, o risco é de se tornar “engrenagens de uma máquina”, onde quem “têm poder pode fazer qualquer coisa conosco”. Um modelo contrário a esta alienação é o das ACLI, onde “as intuições do coração” se transformam em “laços sociais”.

O coração busca amizades, pensa sem se isolar, se aquece identificando-se. O coração pode ser flexível e generoso. Ele sabe abrir mão de algo, mas perseguindo o ideal. Ele sabe estabelecer objetivos, mas se preocupa com as formas como eles são alcançados.

A imaginação humana, “que cria o que ainda não existe”

A falta destes requisitos coloca em perigo “a dignidade humana de quem trabalha, ou não encontra trabalho, ou se adapta” a um trabalho “indigno”. As tarefas das máquinas devem ser acompanhadas pela "inteligência" inteiramente “humana” do coração, “a razão que ouve as razões dos outros, a imaginação que cria o que ainda não existe”.

Os adultos não corrompam a “novidade” dos jovens

Por fim, Francisco agradece aos adultos presentes, convidando-os a não submeterem os jovens “às razões da existência”. “Não corrompamos a novidade”, acrescenta, exortando-os a introduzirem os jovens “aos longos tempos e ao peso das responsabilidades”, confiando “naquilo que é semeado em seus corações”. Ali germina “o trabalho que não aliena, mas liberta”.

 

-  O Papa: a fé não é o ópio dos povos, mas encontro e serviço

No dia de seu 88º aniversário, os jornais italianos “La Repubblica” e “Il Corriere della Sera” publicam algumas antecipações da autobiografia do Papa Francisco, intitulada “Spera”, (Espera) que será publicada em janeiro. O Pontífice relata sua infância em Buenos Aires, o ensinamento recebido da “concentração de humanidade” dos subúrbios urbanos e depois a memória da histórica viagem ao Iraque, em 2021, em meio a dificuldades logísticas e alarmes de segurança.

A “concentração de humanidade” experimentada nas villas miserias de Buenos Aires e a “ferida no coração” representada pelo Iraque, visitado em 2021: há isso e muito mais nas duas antecipações da autobiografia do Papa Francisco intitulada “Spera”, escrita com Carlo Musso. O livro, editado pela Mondadori, será publicado em 14 de janeiro em mais de cem países ao redor do mundo. Hoje, 17 de dezembro - no dia em que o Pontífice completa 88 anos - os jornais italianos “La Repubblica” e “Il Corriere della Sera” antecipam alguns trechos.

Infância no bairro Flores

“Quando alguém me diz que sou um Papa villero (camponês), só rezo para que eu seja digno disso”, diz Francisco, repassando com sua memória aquele “microcosmo complexo, multiétnico, multirreligioso e multicultural” representado pelo barrio Flores, o bairro de Buenos Aires onde viveu sua infância. Aqui “as diferenças eram normais e nós nos respeitávamos”, lembra Bergoglio, recordando grupos de amigos católicos, judeus e muçulmanos, sem distinção.

As “Madalenas contemporâneas

O Papa relembra seu encontro com prostitutas, uma imagem do “lado mais sombrio e cansativo da existência” que ele conheceu desde a infância nos subúrbios argentinos. Quando se tornou bispo, Bergoglio celebrou uma missa para algumas dessas mulheres que, nesse meio tempo, haviam mudado de vida. “Fui prostituta em todos os lugares”, uma delas, chamada Porota, confessa a ele, “até mesmo nos Estados Unidos. Eu ganhava dinheiro, depois me apaixonei por um homem mais velho, ele era meu amante e, quando ele morreu, mudei minha vida. Agora tenho uma pensão. E vou dar banho em homens e mulheres idosos em lares de idosos que não têm ninguém para cuidar deles. Eu não ia muito à missa e fazia tudo com meu corpo, mas agora quero cuidar dos corpos com os quais ninguém se importa”. “Uma Madalena contemporânea”, Francisco a chama. La Porota o chamou uma última vez, do hospital, pouco antes de morrer, para receber a Unção dos Enfermos e a Comunhão. “Ela foi bem , escreve o Papa, como “os publicanos e as prostitutas” que nos “passam avente no reino de Deus” (Mt 21,31). E eu gostava muito dela. Também agora, no dia de sua morte, não me esqueço de rezar por ela”.

Amizade com o “padre Pepe

Não faltam lembranças dos prisioneiros, que faziam escovas para roupas, bem como a história do nascimento da amizade com padre José de Paola, conhecido como “padre Pepe”, pároco da Virgen de Caacupé, na Villa 21, e apoiado com escuta e proximidade pelo futuro Papa em um momento de crise vocacional. Naquelas áreas à margem da cidade, onde “o Estado está ausente há quarenta anos” e onde a drogadição é “um flagelo que multiplica o desespero”, ali mesmo - reitera o Pontífice - “naquelas periferias que para a Igreja devem ser sempre o novo centro, um grupo de leigos e sacerdotes como o Pepe vivem e testemunham o Evangelho todos os dias, entre os descartados de uma economia que mata”.

A religião não é o ópio dos povos, a fé é um encontro

Uma realidade difícil da qual emerge claramente que a religião não é de modo algum, como dizem alguns, “o ópio dos povos, uma história tranquilizadora para alienar as pessoas”, reitera o Papa. Pelo contrário: é precisamente “graças à fé e a esse compromisso pastoral e civil” que as villas “progrediram de maneira impensável, apesar das enormes dificuldades”. E “assim como a fé, todo serviço é sempre um encontro, e somos nós, acima de tudo, que podemos aprender muito com os pobres”.

A viagem ao Iraque e “a ferida no coração” de Mosul

Do drama das periferias urbanas ao drama do Iraque devastado pelo conflito, o olhar de Francisco não muda, mas permanece sempre um olhar cheio de atenção e cuidado por uma humanidade ferida. Daquela histórica visita realizada de 5 a 8 de março de 2021 - a primeira de um Pontífice no país - Francisco recorda “a ferida no coração” representada por Mosul: Uma das cidades mais antigas do mundo”, disse ele, ‘transbordante de história e tradições, que testemunhou a alternância de diferentes civilizações ao longo do tempo e foi um emblema da coexistência pacífica de diferentes culturas no mesmo país - árabes, curdos, armênios, turcomanos, cristãos, siríacos -, apresentou-se aos meus olhos como uma extensão de escombros, após três anos de ocupação pelo Estado Islâmico, que a escolheu como sua fortaleza’. E sobrevoado com um helicóptero, o território apareceu como “o raio X do ódio, um dos sentimentos mais eficientes de nosso tempo”.

Os frutos envenenados da guerra

Sobre essa viagem, Francisco relembra o difícil contexto organizacional, devido tanto à persistência da pandemia de Covid-19 quanto à questão da segurança. “Fui desaconselhado por quase todo mundo... mas”, escreve ele, ‘senti que tinha de’ ir à terra de Abraão, ‘o ancestral comum de judeus, cristãos e muçulmanos’. Bergoglio não esconde as informações recebidas dos serviços secretos britânicos sobre dois atentados a bomba em preparação durante sua visita a Mosul. Um dos homens-bomba era uma mulher, carregada de explosivos, e outro estava em uma van. Ambos foram interceptados e mortos pela polícia iraquiana antes de serem bem-sucedidos. “Isso também me impressionou muito”, enfatizou Francisco. ‘Esse também era o fruto envenenado da guerra’.

A exortação para dar prioridade à razão, não ao conflito

Em meio a todo esse ódio, porém, o Papa vislumbrou uma luz de esperança no encontro com o Grande Aiatolá Ali al-Sistani, no dia 6 de março de três anos atrás, em Najaf: um encontro que “a Santa Sé vinha preparando há décadas”, que aconteceu em uma atmosfera fraterna na casa de al-Sistani: “Um gesto que no Oriente é ainda mais eloquente do que as declarações, do que os documentos, porque significa amizade, pertencer à mesma família - explica -. Fez bem à minha alma e me fez sentir honrado”. Do aiatolá, o Pontífice recorda em particular “a exortação comum às grandes potências para que renunciem à linguagem das guerras, dando prioridade à razão e à sabedoria”. E depois uma frase, levada com ele “como um presente precioso: ‘Os seres humanos ou são irmãos pela religião ou são iguais pela criação’”.

Além do livro “Spera”, a vida do Papa Francisco também será contada em um filme baseado em Life. La mia storia nella Storia, uma autobiografia escrita com Fabio Marchese Ragona e publicada em março passado pela editora HaperCollins.

 

-  Papa recebe membros do Conselho Metodista Mundial

Em sua breve saudação, Francisco recordou os 1700 do Concílio de Niceia, que os cristãos de todo o mundo celebrarão em 2025: um convite a proceder no caminho rumo à unidade.

Após a viagem à Córsega no domingo, o Papa cumpriu sua agenda na segunda-feira recebendo, entre outros, a delegação do Conselho Metodista Mundial.

Francisco saudou de modo especial a presidente, a bispa Debra Wallace-Padgett, e o secretário-geral, o Reverendo brasileiro Reynaldo Ferreira Leão-Neto.

Por muito tempo, disse o Pontífice em seu discurso, metodistas e católicos mantiveram uma atitude de desconfiança, mas hoje “podemos agradecer a Deus porque, há quase 60 anos, estamos progredindo juntos no conhecimento, na compreensão e no amor recíproco. Isso nos ajuda a aprofundar a comunhão entre nós”.

Citando sua Encíclica Dilexit nos, o Papa recordou que quando o Coração de Jesus toca o nosso coração, Ele nos transforma. “É assim que as nossas comunidades conseguirão unir as diferentes inteligências e vontades para deixar-se guiar pelo Espírito como irmãos.”

Francisco citou ainda os 1700 anos do Concílio de Niceia, que os cristãos de todo o mundo celebrarão em 2025. “Este aniversário nos recorda que professamos a mesma fé e, portanto, temos a mesma responsabilidade de oferecer sinais de esperança que testemunham a presença de Deus no mundo.” Trata-se de um convite a proceder no caminho rumo à unidade.

“Permaneçamos unidos na oração”, exortou o Pontífice, desejando a todos um Feliz Natal.

 

Fonte: Vatican News