Na Audiência Geral desta quarta-feira (27/11), o Papa Francisco, rodeado por adolescente que ele mesmo convidou para estarem ao seu lado na Praça São Pedro, dedicou sua catequese aos frutos do Espírito Santo, com especial ênfase na alegria. Inspirado pela Epístola aos Gálatas, onde São Paulo descreve os frutos do Espírito como “caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança” (Gl 5,22), o Pontífice destacou que esses frutos nascem de uma colaboração entre a graça divina e a liberdade humana e exprimem sempre "a criatividade da pessoa, na qual ‘a fé opera pela caridade’ (Gl 5,6), por vezes de forma surpreendente e alegre”.
"Nem todos na Igreja podem ser apóstolos, profetas, evangelistas; mas todos nós, sim, devemos ser caridosos, devemos ser pacientes, devemos ser humildes, construtores de paz e não de guerra."
Francisco relembrou as palavras iniciais de sua Exortação Apostólica Evangelii gaudium, sublinhando que “a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus”. Essa alegria, explicou o Santo Padre, não se desgasta com o tempo e se multiplica quando compartilhada. Diferente de qualquer outra alegria humana, marcada pela transitoriedade, a alegria evangélica pode renovar-se diariamente e tornar-se contagiosa:
“Somente graças a este encontro – ou reencontro – com o amor de Deus, que se converte em amizade feliz, é que somos resgatados da nossa consciência isolada e da autorreferencialidade."
Ao recordar que, na vida, haverá momentos tristes, o Papa sublinhou que sempre haverá paz, pois com Jesus há alegria e paz:
"Tudo passa rápido. Pensemos juntos: a juventude, a mocidade – passa rápido –, a saúde, as forças, o bem-estar, as amizades, os amores... Duram cem anos, mas depois... não mais que isso. Passa rápido. Aliás, mesmo que essas coisas não passassem tão rápido, depois de um tempo já não bastam ou até se tornam tediosas, porque, como dizia Santo Agostinho dirigindo-se a Deus: 'Tu nos fizeste para Ti, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em Ti'. Existe essa inquietação do coração na busca pela beleza, pela paz, pelo amor, pela alegria."
O Papa destacou que a palavra “Evangelho” significa boa nova e, por isso, não pode ser comunicada com “rostos sombrios e caras fechadas”. Ao recordar a exortação de São Paulo aos Filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!” (Fp 4,4), o Pontífice enfatizou a importância da alegria na evangelização e citou São Filipe Neri, conhecido como o “santo da alegria”:
"São Filipe Neri tinha tanto amor por Deus que, por vezes, parecia que o seu coração ia explodir no peito. A sua alegria era, no sentido mais pleno, um fruto do Espírito. O santo participou do Jubileu de 1575, que ele enriqueceu com a prática, mantida mais tarde, de visitar as Sete Igrejas. Foi, no seu tempo, um verdadeiro evangelizador pela alegria. E ele tinha isso justamente de Jesus, que sempre perdoava, perdoava tudo. Talvez alguém de nós possa pensar: 'Mas eu cometi este pecado, e este não terá perdão…'. Escutem bem isto: Deus perdoa tudo, Deus perdoa sempre. E essa é a alegria: ser perdoado por Deus. E aos padres e confessores eu sempre digo: 'Perdoem tudo, não perguntem demais; mas perdoem tudo, tudo e sempre'."
Ao concluir a catequese, o Papa incentivou os fiéis a refletirem sobre como compartilham a alegria do Evangelho em sua vida diária. “A alegria de quem encontrou o tesouro escondido e a pérola preciosa é a verdadeira força da evangelização”, afirmou o Pontífice, convidando todos a viver e comunicar o Evangelho com um coração transbordante de alegria.
"Caros irmãos e irmãs, sejam alegres com a alegria de Jesus em nosso coração."
- O Papa: rezemos pela Ucrânia, será um inverno rigoroso. Que haja paz na Terra Santa
A Ucrânia, onde as pessoas estão passando por "um inverno rigoroso". A Terra Santa, onde as pessoas "sofrem muito". É ainda para essas duas terras banhadas pelo sangue de seus povos, onde - como ele disse há alguns dias - se vive "o fracasso da humanidade", que o Papa Francisco voltou seus pensamentos no final da Audiência Geral desta quarta-feira (27/11).
O Pontífice cumprimentou todos os fiéis presentes na Praça São Pedro: jovens, religiosas, sacerdotes, casais, grupos de peregrinos. Seu semblante estava sorridente, mas ficou sombrio quando, antes da bênção final, voltou o olhar para a Ucrânia, que se prepara para passar por um inverno rigoroso por causa dos cortes de energia e a paralisação da rede elétrica devido aos ataques russos. Milhares de pessoas estão sem eletricidade e aquecimento, enquanto as primeiras nevascas já atingiram a capital Kiev e outras cidades, junto com ondas de mau tempo.
Não nos esqueçamos do martirizado povo ucraniano. Sofre muito.
Francisco dirigiu-se aos adolescentes sentados ao seu lado durante a audiência. São alunos do Colégio Saint Michel des Batignolles de Paris, de 12 a 13 anos, que se preparam para receber o Sacramento da Confirmação.
“Vocês, crianças, adolescentes, pensem nas crianças e adolescentes ucranianos que sofrem neste tempo sem aquecimento com um inverno muito rigoroso”, disse a eles e a todos os jovens presentes na praça ou ligados nas redes sociais.
Rezem pelas crianças ucranianas, sim? Vocês rezarão? Todos vocês, não se esqueçam.
Com a mesma apreensão, com a mesma atenção, o Papa Francisco pediu orações pela Terra Santa, de onde surgem raios de esperança depois do anúncio de Israel de uma trégua com o Hezbollah no Líbano, embora aos olhos de muitos isto não pareça ser um passo em direção à paz, nem um prelúdio para um cessar-fogo em Gaza. É por isso que o Papa insiste em pedir que rezemos continuamente para que a paz volte à Terra de Jesus.
Rezemos também pela paz na Terra Santa, em Nazaré, na Palestina, em Israel, que haja paz, que haja paz. As pessoas sofrem muito. Rezemos pela paz, todos juntos.
Na saudação aos peregrinos poloneses, o Papa fez um convite a todos os fiéis a serem "caridosos e agentes de paz, apoiando aqueles que estão mal e sofrem por causa das guerras, em particular os ucranianos que enfrentam o inverno. Será um inverno rigoroso para a Ucrânia", disse ele. Um convite expresso também na saudação aos fiéis franceses: "Em nosso mundo imerso na tristeza das guerras e das várias crises, anunciamos a alegria do Evangelho através de nossas vidas transfiguradas pela presença de Deus."
Visivelmente alegre, o Papa anunciou que a partir da próxima semana, antes do Advento, algo novo acontecerá na Audiência Geral: pela primeira vez haverá a tradução da catequese em chinês. Uma forma de fazer chegar a palavra do Bispo de Roma aos fiéis daquela nação que Francisco sempre definiu como "um país nobre".
- A caridade do Papa aos "invisíveis" das tendas na Calábria
Uma questão de dignidade, antes mesmo de cobertores e roupas limpas. No acampamento, ou melhor, na “comunidade” de São Ferdinando, município calabrês de cerca de 175 mil habitantes onde se encontra o gueto em que centenas de imigrantes africanos vivem na pobreza e na degradação, à espera de uma autorização de residência, empregados no campo e muitas vezes até ilegalmente, chega a caridade do Papa. Depois de Roma, Gênova, Turim, Nápoles e Catânia, a sétima “Lavanderia do Papa” abre nesta quarta-feira, 27 de novembro, nesta área industrial da província de Reggio Calabria com serviço de chuveiro anexo.
Uma iniciativa pensada e promovida pela empresa Procter & Gamble Itália, com a colaboração da empresa chinesa de eletrodoméstico Haier Europe, apoiada pela Esmolaria Apostólica e pela Diocese de Oppido Mamertina-Palmi a favor de imigrantes, pobres e sem-teto para lhes permitir lavar suas roupas ou cobertores e fornecer higiene pessoal. Tudo totalmente gratuito.
“É uma forma de devolver a dignidade às pessoas que não morrem de fome, mas morrem porque se sentem invisíveis”, explica o esmoleiro do Papa, cardeal Konrad Krajewski aos meios de comunicação do Vaticano. São imigrantes do Senegal, Níger, Mali, Burkina Faso, Costa do Marfim e outras áreas do Continente Africano que vivem em São Ferdinando há quinze anos, mas nem sequer têm uma carteira de identidade. "Quando eu fui lá, perguntei: 'Do que vocês precisam?' Sabe o que eles me responderam? 'Queremos ser visíveis!'", disse o cardeal Krajewski. "Um jovem me olhou nos olhos e me disse: moramos aqui há muitos anos. Precisamos de documentos. As motos têm placa, nós, seres humanos, não temos nada".
Além dos cinco chuveiros e da lavanderia com quatro máquinas de lavar e quatro secadoras, colocadas em dois contêineres pela Procter & Gamble, será montado "um serviço de atendimento para esses "invisíveis" de São Ferdinando, que dará assistência a quem precisa de documento", explica o diácono Michele Vomera, diretor da Caritas diocesana. “Estamos falando de centenas de trabalhadores imigrantes que no período de inverno chegam a mil. No verão até 200 ou pouco mais. Há pelo menos 18 nacionalidades diferentes neste acampamento, que nasceu como uma resposta de emergência e agora se tornou um assentamento abandonado pelas instituições. São pessoas - acrescenta o diácono - que não têm médico de família, não têm CPF, não têm o que nos parecem trivialidades, mas que para eles são obstáculos intransponíveis porque colidem com a burocracia italiana". Esse serviço de atendimento será móvel, montado num contêiner do Corpo de Bombeiros, informa Vomera. Ele também anuncia outra novidade: “Estamos prestes a assinar um acordo para ter mais uma sala onde as Irmãs da Caridade poderão abrir uma pequena escola para o ensino da língua italiana”.
Em suma, uma série de iniciativas (tem-se também em mente uma barbearia) e eventos que pretendem ser um sinal de caridade para com homens (de 18 a 60 anos, a maioria na faixa etária dos 40-45 anos) que não têm acesso aos serviços mais básicos. Um daqueles gestos de esperança e de misericórdia que o Papa pediu às dioceses do mundo para o próximo Jubileu. “Que sinal podemos realizar?” perguntou o bispo dom Giuseppe Alberti. “Muitas associações” – conta Michele Vomera - “já trazem alimentos, a alimentação é um problema marginal. Surgiu o problema da higiene. E assim com o cardeal Krajewski, o bispo e com uma bela sinergia entre as diversas associações, pensamos neste projeto”.
A lavanderia será administrada por voluntários da Caritas diocesana de Oppido Mamertina-Palmi: está equipada com máquinas de lavar e secar doadas pela Haier Europe e será constantemente abastecida com detergentes para a roupa como Dash e Lenor, oferecidos pela Procter & Gamble, e produtos de limpeza dos locais ou para higiene pessoal como os xampus Head&Shoulders e Pantene e barbeadores e espumas de barbear Gillette.
“Para a nossa comunidade é um bom sinal”, comenta o diretor da Caritas, que faz questão de descrever um contexto de solidariedade viva, onde “os imigrantes são mais que os italianos”, a integração é “serena” e as relações recíprocas são “bonitas”. Além dos trabalhadores estrangeiros, se inseriram também na cidade algumas famílias afegãs que vivem em casas abandonadas com aluguéis moderados. “Os habitantes cozinham e levam comida a essas famílias que retribuem com pratos tradicionais. Vivem em paz, criaram uma pequena economia, administram dois supermercados. Pode-se dizer que o país vai adiante graças a essas pessoas”.
No meio de tudo isto, a caridade do Papa chega agora a São Ferdinando para nos lembrar que “dignidade não é viver numa tenda, mas ter uma casa, roupas limpas, poder trocar uma palavra com o vizinho”. Em suma, ser “visível”.
Fonte: Vatican News