O dólar à vista fechou em queda ante o real nesta segunda-feira (18), com mercados à espera do pacote de corte de gastos do governo federal, na contramão do Ibovespa, que opera no positivo. A semana também é marcada pela Cúpula do G20, entre segunda e terça-feira (19), que reúne as maiores economias do globo no Rio de Janeiro.
Na cena externa, as atenções seguem nas expectativas com a volta de Donald Trump à Casa Branca e os impactos de suas ações na inflação e na política de juros do Federal Reserve (Fed).
O dólar à vista fechou a sessão com baixa de R$ 0,65%, cotado a R$ 5,7484. Por volta das 17h, o principal índice do mercado doméstico subia 0,06%, aos 127,8 mil pontos, após oscilar entre perdas e ganhos ao longo do dia.
Lá fora, bolsas em Wall Street negociam no campo positivo, enquanto na Europa as praças estão majoritariamente no vermelho. Na Ásia, as bolsas encerraram sem direção única.
Nesta sessão, investidores demonstravam cautela antes de eventos econômicos esperados para esta semana, particularmente o anúncio de medidas de contenção de gastos pelo Executivo, que busca garantir a sustentação do arcabouço fiscal no longo prazo.
A demora pelo anúncio, uma vez que o governo prometeu divulgar as medidas após o segundo turno das eleições municipais, tem gerado estresse no mercado e pressão sobre os ativos brasileiros, mantendo o dólar acima do patamar de R$ 5,75.
Mais cedo, analistas consultados pelo Banco Central subiram novamente sua projeção para o nível da Selic no próximo ano no Focus, elevando também as previsões para as cotações do dólar.
O levantamento mostrou que a mediana das expectativas para a taxa básica de juros ao fim do próximo ano agora é de 12%, de 11,5% na semana anterior. Para 2024, a projeção para a Selic, atualmente em 11,25%, manteve-se em 11,75%.
A pesquisa mostrou ainda um aumento na expectativa para a cotação do dólar em 2024, agora em R$ 5,60, de R$ 5,55 na semana anterior. No final do próximo ano, a moeda norte-americana deve atingir R$ 5,50, segundo os analistas, ante R$ 5,48 há uma semana.
Também nesta segunda, dados do Boletim Macrofiscal, publicado pela Secretaria de Políticas Econômicas (SPE) do Ministério da Fazenda, mostraram aumento da previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 3,2% para 3,3% em 2024.
O Ministério da Fazenda também revisou a projeção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, para 2024. Subiu de 4,25% para 4,4%.
O valor supera a meta de inflação estabelecida para este ano. O centro da meta é de 3%, com banda de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, ou seja, até 4,5%.
De acordo com o Ministério da Fazenda, deverá haver desaceleração nos preços monitorados, sobretudo nas bandeiras tarifárias de energia elétrica, o que impactará na inflação.
A Cúpula de Chefes de Estado é o momento derradeiro do ano de negociações do “Grupo dos Vinte”. O encontro de líderes começa nesta segunda e está previsto para terminar na terça-feira.
Internacionalistas ouvidos pela CNN concordam que a presidência brasileira do G20 foi capaz de promover debates mais amplos e mobilizações mais concretas do que a Índia e a Indonésia, que presidiram o grupo em 2023 e 2022, respectivamente. Porém, relembram que o comunicado depende de consenso entre todas as partes.
A exemplo desse imbróglio, as negociações da Trilha de Sherpas, que estavam previstas para serem concluídas na sexta-feira (15), tiveram de ser estendidas ao longo do final de semana por dificuldades de concordância sobre alguns temas.
“Decerto continuará havendo entraves, especialmente no que concerne aos temas ambientais e de saúde, assim como os financeiros. Nada que não possa ser negociado, contudo”, diz Antonio Jorge Ramalho da Rocha, coordenador do curso de Relações Internacionais (RI) da Universidade de Brasília (UnB).
Dentre os temas debatidos pelo G20, a agenda brasileira tinha alguns destaques. Como presidente rotativo do bloco, o Brasil buscou coordenar esforços pela retomada da cooperação internacional, com enfoque em questões climáticas e de financiamento ao combate a catástrofes; de desigualdade, pobreza e fome; e de governança global.
Ao olhar para essas questões, Carolina Pavese, doutora em RI pela London School of Economics, acredita que o Brasil acerta adotar uma agenda mais inclusiva e alinhada às demandas do Sul Global.
“Isso evita polarizações e conflitos diretos, como os observados entre Estados Unidos e China.”
No exterior, a moeda norte-americana perdia parte da força, após sessões recentes com grandes ganhos na esteira da vitória de Trump na eleição presidencial dos EUA. As medidas do republicano, que incluem tarifas e cortes de impostos, são consideradas inflacionárias por analistas.
Com isso, operadores têm reduzido as apostas em cortes de juros pelo Federal Reserve no próximo ano, elevando os rendimentos dos Treasuries e tornando o dólar mais atrativo para investidores estrangeiros.
Os mercados globais aguardam o anúncio por Trump de quem será seu secretário do Tesouro a partir de janeiro de 2025.
Fonte: CNN