O Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu cortar a taxa básica, a Selic, em 0,5 ponto percentual. Agora, o juro base cairá de 13,25% para 12,75% ao ano, o menor nível desde junho de 2022, quando estava no mesmo patamar.
A redução da Selic era esperada pelo mercado. Esse foi o 2º corte seguido, também o 2º com a mesma intensidade de 0,5 ponto percentual. O mercado financeiro aposta que a taxa básica termine o ano em 11,75% ao ano, o que significa uma redução de 1 ponto percentual. O colegiado terá mais duas reuniões em 2023.
A precificação da taxa básica é uma ferramenta de política monetária utilizada pelo BC (Banco Central) para controlar o poder de compra da população. Responsável por medir a inflação oficial do país, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acelerou para 4,61% no acumulado de 12 meses até agosto.
A política monetária do Banco Central tem efeito defasado na economia. Por isso, as decisões tomadas também impactam na atividade econômica por um período prolongado, de aproximadamente 18 meses, ou 1 ano e meio.
O BC diz que analisa o impacto temporal ao longo do “horizonte relevante” da política monetária. Tem o trabalho de levar a inflação para o intervalo das metas, tanto para o ano corrente quanto para o ano seguinte.
Segundo as projeções do mercado financeiro no Boletim Focus, a inflação deverá terminar o ano em 4,86%, acima da meta, de 3,25%, e do teto da meta, de 4,75%. Os analistas também estimam taxas de 3,86% em 2024, de 3,50% em 2025 e de 3,5% em 2026. A meta de inflação para estes anos é de 3%, com intervalo de tolerância de até 4,5%.
O Banco Central foi o principal alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aliados do governo em 2023. Um dos mais enfáticos, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, relacionou o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, à esquizofrenia. Disse que as decisões do colegiado são políticas para prejudicar o governo.
Campos Neto comanda o BC desde o governo Jair Bolsonaro (PL), adversário político do presidente Lula. Com a autonomia da autoridade monetária sancionada em 2021, ele e os 8 diretores têm mandatos de 4 anos.
Campos Neto disse que ficará no cargo até o fim de seu mandato, em 31 de dezembro de 2024. Poderá ser reconduzido à presidência do BC por mais 4 anos, mas disse ser contrário.
O governo acusou o presidente do Banco Central de deixar a taxa básica, a Selic, alta para prejudicar o crescimento econômico do país.
O Banco Central diz que as decisões não são políticas e que é preciso respeitar a autoridade monetária. Campos Neto defende que a inflação descontrolada é um imposto perverso e uma queda precoce da Selic pode ser pior para o país.
O BC descumpriu as metas de inflação em 2021 e em 2022. A autoridade monetária precisou divulgar duas cartas públicas, uma em cada ano, para dar explicações para a inflação ter ficado acima do limite. Relembre:
Em junho, o Banco Central disse que havia 61% de probabilidade de a inflação ficar acima da meta também em 2023.
Levantamento realizado pelo economista Jason Vieira mostrou que o Brasil foi ultrapassado pelo México e agora tem os 2º maiores juros reais do mundo. A taxa quando considerada a inflação será de 6,40% nos próximos 12 meses. O cálculo é “ex-ante”, quando há uma estimativa dos juros reais para os próximos 12 meses. Eis a íntegra do relatório (265 kB).
- Queda da Selic barateia pouco crédito e prestações, diz Anefac
A redução da taxa Selic (juros básicos da economia) para 12,75% ao ano, decidida pelo Banco Central, barateará pouco o crédito e as prestações, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Com o impacto na ponta final diluído, por causa da diferença muito grande entre a taxa básica e os juros efetivos de prazo mais longo, o tomador de novos empréstimos sentirá pouco os efeitos do afrouxamento monetário.
Segundo a Anefac, o juro médio para as pessoas físicas passará de 124,76% para 123,75% ao ano. Para as pessoas jurídicas, a taxa média sairá de 60,97% para 60,23% ao ano. A Selic passou de 13,25% para 12,75% ao ano.
No financiamento de uma geladeira de R$ 1,5 mil em 12 prestações, o comprador desembolsará R$ 0,39 a menos por prestação e R$ 4,65 a menos no valor final com a nova taxa Selic. O cliente que entra no cheque especial em R$ 1 mil por 20 dias pagará R$ 0,27 a menos.
Na utilização de R$ 3 mil do rotativo do cartão de crédito por 30 dias, o cliente gastará R$ 1,20 a menos. Um empréstimo pessoal de R$ 5 mil por 12 meses cobrará R$ 1,24 a menos por prestação e R$ 14,87 a menos após o pagamento da última parcela.
Um empréstimo de R$ 3 mil em 12 meses em uma financeira sairá R$ 0,81 mais barato por prestação e R$ 9,71 mais barato no total. No financiamento de um automóvel de R$ 40 mil por 60 meses, o comprador pagará R$ 11,31 a menos por parcela e R$ 678,30 a menos no total da operação.
Em relação às pessoas jurídicas, as empresas pagarão R$ 62,61 a menos por um empréstimo de capital de giro de R$ 50 mil por 90 dias, R$ 24,95 a menos pelo desconto de R$ 20 mil em duplicatas por 90 dias e R$ 2,67 a menos pela utilização de conta garantida no valor de R$ 10 mil por 20 dias.
A Anefac também produziu uma simulação sobre o impacto da nova taxa Selic sobre os rendimentos da poupança. Com a taxa de 12,75% ao ano, a caderneta só rende mais que os fundos de investimento quando o prazo da aplicação é curto e a taxa de administração cobrada pelos fundos é alta.
Segundo as simulações, a poupança rende mais que os fundos em apenas dois cenários, com aplicação de até dois anos em relação a fundos com taxa de 3% ao ano e aplicação de até seis meses em relação quando o fundo tem taxa de administração de 2,5% ao ano.
Na comparação com fundos com taxa de administração de 2,5% ao ano, a poupança rende o mesmo quando o dinheiro ficar aplicado entre seis meses e um ano.
A vantagem dos fundos ocorre mesmo com a cobrança de Imposto de Renda e de taxa de administração. Isso porque a poupança, apesar de ser isenta de tributos, rende apenas 6,17% ao ano (0,5% ao mês) mais a Taxa Referencial (TR), que aumenta quando a Selic sobe. Esse rendimento da poupança é aplicado quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, o que ocorre desde dezembro de 2021.
Fonte: Poder360 - Agência Brasil