“No fim da estrada, não há estrada, mas o fim da peregrinação. No final da ascensão, não há ascensão, mas o cume. No final da noite, não há noite, mas a aurora. No final do inverno, não há inverno, mas a primavera. No final da morte, não há morte, mas a vida. No final do desespero, não há desespero, mas a esperança. No final da humanidade, não há o homem, mas o homem -Deus. No final do Advento, não há o Advento, mas o Natal”. (Joseph Folliet).
Celebramos neste domingo, a solenidade da Epifania. Sempre lemos o trecho do evangelho de Mateus que nos fala da grande e aventurosa viagem dos misteriosos magos. Andaram, andaram, guiados pela estrela e, enfim, encontraram “o menino com Maria, sua mãe”. “Ajoelharam-se diante dele e o adoraram” (Mt 2, 11). Nada mais sabemos. A nossa curiosidade sobre os “magos” fica por aí. Por isso, esta página do Evangelho está aberta a muitas leituras e interpretações. A festa da Epifania, que significa “manifestação”, é sempre um grande momento “missionário”. O Menino-Deus que nasceu não veio neste mundo somente para um povo, uma nação ou uma igreja. A sua mensagem é para a humanidade toda e de todos os tempos. O Deus-Pai que o Filho veio nos fazer conhecer quer ser o Deus-Pai de todos.
Desde o início, as comunidades dos primeiros cristãos tomaram a iniciativa de espalhar a Boa Notícia de Jesus também os considerados pagãos pelo povo de Israel. “Até os confins da terra” foi o mandato missionário de Jesus no dia da Ascensão. Hoje, somos todos nós que devemos obedecer a esse envio do Senhor. No entanto, não adiantaria querer ensinar ou comunicar aos outros algo de que nós mesmos não estamos convencidos ou que nunca tomamos a sério. Não podemos ser “missionários” se antes não somo bons “discípulos” do Senhor.
Vale a pena, acredito, fazer uma leitura também pessoal da página dos magos. Parece uma parábola da nossa vida. Sim, porque, afinal, a vida é uma grande viagem, com um começo e um fim. Encontramos tantos outros no caminho. Alguns andam na mesma direção, outros parecem ir contra. Desde quando começamos a compreender algo da aventura da vida, muitos querem nos ensinar o caminho certo. De novo, vimos abertas estradas por todo lado. Cabe a cada um de nós encontrar aquela certa que nos conduzirá onde nós sonhamos e lutamos para chegar.
Para alguns o caminho acabará num sucesso humano, numa posição de poder, num finalmente conquistado bem-estar econômico. Para outros, a vida será uma luta pela sobrevivência até o último dia. Todos, no caminho, encontraremos afetos e desafetos, avanços e recuos, obstáculos insuperáveis e outros que conseguiremos deixar para trás. Cada um de nós escreve a sua história, carrega os seus fardos, às vezes chora, outras pula de alegria. Mas, afinal, quem encontraremos no fim da nossa caminhada? Essa é a grande questão. Alguns encontrarão somente a si mesmos, numa solidão, talvez dourada, mas desoladora, porque, no fundo, nunca conseguiram amar ninguém. Outros encontrarão amigos e amigas, pessoas que amaram e pelas quais foram também amados. Muitos, com certeza, lembrarão do bem semeado, das alegrias partilhadas, dos sofrimentos carregados juntos. No fim, todos encontraremos a Deus. Será muito diferente de como o tivermos imaginado. Como os magos. Procuravam um rei e encontraram uma criança com sua mãe. Tudo simples, pequeno, mas encantador. “E o adoraram”.
Seremos capazes de adorar um Deus simples e pobre, compassivo, pronto a nos acolher com os seu coração transpassado e o seu corpo crucificado como aquele de tantos seres humanos, vítimas inocentes da indiferença dos iguais e da ganância dos poderosos? O reconheceremos? Seremos reconhecidos? Tenho certeza que sim, porque o amor dele será sempre maior do que todas as nossas faltas. Mas, por enquanto, vamos caminhando. Vamos procurando a luz, a estrela certa, aquela que nunca se apaga e que nos conduzirá ao grande encontro. Acreditemos, é ele mesmo, Jesus, a luz, a estrela, o caminho, a verdade, a vida.
Por Dom Pedro José Conti
Fonte: Diocese de Macapá