A Polícia Civil do Amapá investiga como homicídio por "queima de arquivo" a morte de Rafael Mendonça Góes, de 33 anos, ocorrida na quarta-feira (14), dentro do cadeião do Instituto de Administração Penitenciária (Iapen). Ele foi morto por esganadura após ser alvo de mandado de prisão preventiva cumprida pela Polícia Federal (PF) em operação contra ilícitos no sistema carcerário.
A Delegacia Especializada em Crimes Contra a Pessoa (Decipe), a Homicídios, iniciou a coleta de depoimentos de testemunhas e de provas.
O delegado Wellington Ferraz, responsável pela investigação, acredita que algo desagradou o crime organizado que, segundo ele, domina o Iapen.
“Ao que tudo indica, o Rafael tenha falado algo a mais. Pode ter apontado a forma como se trabalhava lá dentro [Iapen], ou tenha dado detalhes da organização criminosa, que desagradou os detentos e deram, sim, a ordem para matar ele”, destacou o delegado.
Ferraz explicou que dois fatos chamaram a atenção da equipe, logo após a saída dos policiais federais do presídio que estavam dando cumprimento aos mandados da operação.
“Logo após essa operação da PF, os presos foram liberados pros seus respectivos pavilhões e Rafael, somente ele, foi chamado pela administração [do Iapen] para conversar. O que a gente não sabe ainda é sobre o quê. Após essa conversa ele foi liberado pra retorno ao pavilhão”, citou.
O delegado disse que o segundo acontecimento que não passou despercebido foi que, momentos depois da saída da PF do Iapen, uma advogada esteve no parlatório e chamou 3 detentos para conversar. Investigações apontam que os três são lideranças criminosas.
“Conversaram por cerca de meia hora e retornaram para os pavilhões. Dois deles foram para a enfermaria, onde estão restritos dos demais detentos. E outro foi para o pavilhão F1, onde também estava o Rafael. Por coincidência, 20 minutos depois do retorno dele para o pavilhão e da conversa com a advogada, veio a notícia do óbito desse rapaz”, pontuou.
Devido a todas essas informações, a Decipe segue a linha de investigação de um homicídio que foi encomendado.
“Tentaram criar uma roupagem que o Rafael tinha passado mal. Dois detentos levaram ele até a enfermaria com o argumento que ele estaria passando mal, espumando pela boca. Fomos até o local, acompanhamos toda a perícia. E o laudo necroscópico atestou a esganadura. Ele foi vítima de homicídio”, ressaltou o delegado.
Outra questão levantada pelo delegado são as características do crime, que demonstram muita raiva em relação a vítima.
“Estamos cientes dessas informações e vamos trabalhar para fechar este caso, para identificar quem foram e de que forma essas lideranças mataram esse rapaz”, afirmou.
A operação deflagrada pela PF foi nomeada de Queda da Bastilha, para dar cumprimento a mandados de prisão e busca e apreensão contra "esquemas ilícitos" dentro e fora do sistema carcerário. Rafael já estava no presídio e era um dos 8 que foram presos preventivamente na quarta-feira. Também foram alvos um delegado da Polícia Civil, advogados e policiais penais.
De acordo com a PF, o grupo era envolvido com oferta de alimentação especial para alguns detentos, aluguel de telefones celulares que entravam ilicitamente no presídio, e emissão fraudulenta de atestados médicos em busca de conversão da prisão preventiva para o regime domiciliar ou semiaberto.
Fonte: g1 AP - Marcelle Corrêa