O infectologista Renato Kfouri disse que estudos mostram que é melhor avançar com a vacinação da primeira dose do que adiantar a segunda dose, como vem sendo feito em alguns estados. Segundo ele, a medida não é cabível no cenário atual, em que ainda há poucas pessoas no Brasil com a primeira dose.
"No mundo real, um estudo no Canadá mostra que até 3 a 4 meses após a primeira dose os indivíduos continuam, para formas graves, protegidos das 4 variantes com vacinas de Pfizer, AstraZeneca e Moderna. Com essas evidências e com a informação de que não temos muita gente com a primeira dose no Brasil, a decisão do Ministério da Saúde é, apoiado pela sociedade científica, de que é melhor, neste momento, avançarmos a vacinação da primeira dose do que terminarmos de quem começou é correta. Se a gente adiantar a segunda dose, estamos atrasando a primeira dose de outros", explicou o cientista durante entrevista ao UOL, na manhã desta segunda-feira (19).
A epidemiologista Carla Domingues tem uma opinião diferente. Para ela, deveria antecipar a segunda dose, principalmente para a população de 50 a 60 anos ou 40 a 60 anos que foram vacinados.
"No entanto, não adianta ser feito em um único estado, isso tem que ser uma política nacional. Tem que olhar quantas pessoas estão adoecendo nessa população, avaliar, como em outros países, que houve um aumento de casos e não de mortes com a variante delta. A partir disso, pensar em uma redução nacional, não adianta um estado tomar essa decisão e outro estado não tomar. Nós estamos vendo uma desorganização do processo de vacinação. As pessoas estão ansiosas para serem vacinadas. Estão se deslocando para outros estados para tomar essa segunda dose mais cedo. Então, isso não funciona. Tem que ser uma decisão nacional", defendeu Carla.
Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e o Distrito Federal anunciaram na semana passada a antecipação da aplicação da segunda dose da vacina contra covid-19.
O DF antecipou as vacinas da AstraZeneca e Pfizer de 90 para 60 dias. O principal objetivo da medida, segundo o governo local, é aumentar o número de pessoas totalmente imunizadas. Outros estados também já fizeram o mesmo nos últimos dias.
A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), que fabrica a vacina da AstraZeneca no Brasil, estabelece prazo entre 30 e 90 dias para a aplicação da segunda dose. O Ministério da Saúde, por sua vez, ainda recomenda o prazo máximo de 90 dias.
Já para a vacina da Pfizer, o governo federal determinou prazo de 90 dias entre as duas doses, repetindo os passos do Reino Unido. Na bula do imunizante, entretanto, consta o período de 21 dias.
Fonte: UOL