A nova variante do coronavírus causador da Covid-19 que foi descoberta no Vietnã evidencia uma vantagem adaptativa do vírus e representa um risco por aperfeiçoar sua capacidade de infectar os seres humanos. A avaliação é do microbiologista da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Questão de Ciência, Luiz Gustavo de Almeida.
Em entrevista à CNN o cientista explicou que a variante detectada no país asiático não é uma combinação das variantes da Índia e do Reino Unido, mas sim uma cepa de origem indiana que sofreu uma mutação que a deixou semelhante à do Reino Unido.
"Não é que uma cepa se juntou com a outra, vírus são independentes", disse Almeida. "O que aconteceu no Vietnã é que a cepa indiana circulava por lá e adquiriu uma mutação igual à da variante do Reino Unido, uma mesma mutação que foi identificada em diferentes partes do globo".
"Isso causa preocupação de as mesmas mutações surgirem em diferentes lugares do planeta. É um indício forte de que há uma vantagem adaptativa do vírus, gostando cada vez mais do seu novo hospedeiro, os seres humanos", explicou.
Essas mutações aperfeiçoam a capacidade do novo coronavírus de contaminar o homem, uma vez que tanto a cepa indiana original quanto a variante descoberta no Vietnã apresentam mudanças na proteína S do vírus, responsável por reconhecer as células humanas e facilitar sua penetração no organismo. Ou seja, as mudanças fazem com que a infecção aconteça de forma mais rápida e eficaz.
Segundo Almeida, essas mutações também fazem com que os vírus possam "escapar um pouco dos nossos anticorpos, seja pela vacinação ou por já ter sido infectado por outra cepa, pois faz com que eles [os anticorpos] não reconheçam tão bem [o vírus], escapando da nossa defesa, aumentando a transmissão e gerando mais mortes".
O cientista destacou que, independentemente do surgimento de novas variantes do coronavírus, as formas de prevenção são as mesmas: uso de máscaras, manutenção do distanciamento social e higiene das mãos.