Cotidiano

Operação “Letus”: PMs são presos suspeitos de praticar execução





(Foto: Leonardo Melo)

 

 

Dois policiais e a esposa de um deles foram presos suspeitos de executarem uma testemunha de um homicídio. Além disso, os militares respondem ações penais por homicídios e outros delitos.

 

Realizada pela Polícia Civil e Ministério Público do Estado do Amapá, a Operação “Letus” cumpriu três mandados de prisão e seis ordens de busca e apreensão na manhã desta quinta-feira, 21, em Macapá. O objetivo da operação é esclarecer crimes com características de execução ocorridos na capital.

A ação é resultado de investigações realizadas pela Delegacia de Crimes Contra a Pessoa (Decipe), em conjunto com o Núcleo de Operações em Inteligência (NOI) e as promotorias do Júri e de Investigações Cíveis e Criminais do Ministério Público do Estado (MPE). Durante a operação, dois policiais militares e uma mulher foram presos.

O soldado Lucas Vilhena Batista Filho foi preso preventivamente, ou seja, não há prazo definido. Os outros dois acusados, o sargento José Wilson Maciel de Cantuária e sua esposa, Hellen Crhiystine Gonçalves Pinheiro, foram presos de forma temporária, com prazo de duração de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco. Os dois militares já respondem ações penais por crime de homicídio qualificado e são investigados em outros delitos contra a vida, segundo o MP-AP.

As ordens judiciais foram cumpridas com apoio de equipes da Delegacia de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP, Núcleo de Inteligência do Ministério Público (Nimp) e do Batalhão de Operações Especiais da Policia Militar (Bope).

Segundo as investigações, os militares são suspeitos de executarem Micherlon Aleluia, de 33 anos, funcionário de um atacadão e assassinado em 12 de março deste ano. O Ministério Público apontou que o sargento teria ordenado a morte da vítima e Lucas Vilhena teria sido o executor.

Micherlon serviu de testemunha em um crime ocorrido em 2016, no qual apontava o sargento como autor dos disparos. Ele teve sua rotina monitorada, principalmente relacionada a saída do trabalho.

As investigações apontam que Hellen, através de uma amiga, conseguiu informações precisas sobre o horário de trabalho da vítima. Na noite de sua morte, Micherlon, que estava em sua bicicleta, foi perseguido por um veículo de cor prata até um certo ponto, onde foi atingido por vários tiros.

Imagens de câmeras de segurança mostram toda a movimentação do crime, registrando o carro usado pelos atiradores, a viatura da PM na qual José Wilson estava trabalhando passando pelo local.

Para a defesa dos militares, as acusações apontadas pelo Ministério Público são defasadas e não confirmam a participação dos dois no crime.

"Acusam meus constituintes de matar uma testemunha de um processo em que essa pessoa atuava. Parece que a situação deles tem uma ligação, mas é superficial. A prisão da esposa do PM foi porque ela teve contato com essa vítima", disse Chales Bordalo, advogado de defesa dos três acusados. Ele disse, ainda, que entrará com pedido de Habeas Corpus.

O processo corre em segredo de justiça. Em coletiva de imprensa, a Diretoria de Comunicação da PM informou que aguarda a finalização do processo na Justiça comum e esclareceu que se os envolvidos forem condenados, será instaurada um processo disciplinar. Agora, se também forem condenados pela Justiça da Polícia Militar, eles podem ser demitidos ou expulsos da corporação.

Mortes violentas

Em setembro de 2017, sete mortes violentas com indícios de execução aconteceram entre os dias 19 e 20 e ficaram marcados como símbolo da violência daquele período. Os crimes aconteceram nas Zonas Sul, Oeste e Norte da cidade de Macapá. Em todos os casos, as vítima foram baleadas por pessoas em carros.

Em dezembro do mesmo ano, parentes, amigos e companheiros de pessoas que foram executadas realizaram a Carreata pela Paz, no Buritizal. O objetivo era cobrar das autoridades respostas para os crimes, segundo Mateus Maciel, organizador do evento.

“Estamos mobilizando a comunidade para cobrar respostas concretas das autoridades. Foram vários assassinatos que continuam impunes, sem nem sabermos que foram os algozes. Sairemos aqui da praça da caixa d’água até a OAB-AP, mas faremos paradas em vários órgãos localizados sobretudo na Avenida FAB. Só queremos justiça para os casos. Nem todas as pessoas mortas eram bandidas. Muitos eram inocentes e isso precisa ser esclarecido”, disse Mateus no dia do ato.

Indagado sobre a relação dos presos com as execuções de setembro, o advogado de defesa disse ao Portal Seles Nafes que seu cliente “não tem esse tipo de veículo, é algo muito incipiente, é preciso uma investigação mais aprofundada”.

Redação